Constantin Demiris aproximou-se e colocou uma mão sobre o ombro dela. -Tem de esquecer o seu passado. Eles tentaram fazer-lhe uma coisa terrível, e pagaram por isso. -Ele prosseguiu num tom mais animado
-Acho que Y tutu. Tem alguns planos?
Ela não 0 ouviu. «Larry>•, pensava ela. «0 rosto bonito de Larry, rindo, Os braços de Larry, a voz dele...»
-Catherine...
Ela ergueu o olhar. - Desculpe.
-Tem alguma ideia quanto ao seu fut~~~o?
-Não, eu... eu não sei o que vou fazer. uaponho que podia ficar em Atenas.,.
-Não- disse Demiris firmemente. -Não seria uma boa ideia. Iria trazer-lhe lembranças muito desagradáveis. Sugiro que deixe a Grécia.
- Mas eu não tenho para onde ir.
-Já pensei no caso-disse-lhe Demiris.-Eu possuo escritórios em Londres. Você já trabalhou para um sujeito chamado William Fraser em Washington. Lembra-se disso?
-William...? - E de repente lembrou-se. Fora uma das poucas vezes mais felizes da sua vida.
-Você era assistente administrativa dele, creio. - Sim, eu...
-Podia fazer a mesma coisa para mim em Londres. Ela hesitou,
-Não sei. Não quero parecer ingrata, mas...
- Compreendo. Sei que tudo parece estar a acontecer muito depressa. - disse Demiris num tom compreensivo. - Precisa de tempo para pensar em tudo isto, Porque é que não janta sossegadamente no seu quarto, e amanhã falamos mais?
Pedir-lhe que jantasse no seu quarto foi uma inspiração de última hora. Não podia permitir que a sua mulher se cruzasse com ela. - 0 senhor é muito atencioso -disse Catherine. - E muito generoso. Os vestidos são...Ele bateu ao de leve na mão dela e segurou-a uma fracção mais do que o necessário. -Sinto um enorme prazer.
Ela sentou-se no quarto a ver o sol flamejante pôr-se no Egeu azul numa explosão de cor. «Não vale a penareviver opassado. Há que considerar o futuro. Obrigada Senhor pelo aparecimento de Constantin Demiris.N Ele era a sua tábua de salvação. Sem ele, ela não teria em quem se apoiar. E oferecera-lhe um emprego em Londres. «Aceito?» Os seus pensamentos foram interrompidos por uma pancada na porta.
-0 seu jantar, menina.
Muito depois de Catherine ter saído, Constantin Demiris sentou-se na biblioteca a pensar na conversa que tinham tido, «Noelle.» Apenas umavez navida se havia permitido perder o controlo das suas emoções. Apaixonara-se profundamente por Noelle Page, e ela tornara-se sua amante, Nunca conhecera uma mulher como ela, Ela sabia de arte, música, negócios e tornara-se indispensável. Nada em Noelle o surpreendia. Tudo em Noelle o surpreendia. Ele estava obcecado por ela. Ela era a mulher mais bonita e mais sensual que Demiris tinha conhecido. Abandonara o estrelato para estar a seu lado. Noelle provocava-lhe emoções que nunca antes sentira. Era a sua amante, a sua confidente, a sua amiga. Demiris confiara nela por inteiro, e ela traíram com Larry Douglas. Foi um erro que Noelle pagara com a vida, Constantin Demiris combinara com as autoridades que o seu corpo fosse enterrado no chão do cemitério de Psara, a sua ilha particular no Egeu. Todos observaram que fora um gesto belo e sentimental. De facto, Demiris fizera com que o enterro fosse ali para ter o requintado prazer de caminhar sobre o túmulo da cabra. Na mesinha de cabeceira de Demiris havia uma fotografia de Noelle tirada da época em que atingira a beleza máxima, a olhar para ele e a sorrir. Sorrindo para sempre, congelada no tempo. Mesmo agora, depois de mais de um ano, Demiris era incapaz de deixar de pensar nela. Ela era uma ferida aberta que nenhum médico poderia algum dia curar. «Porquê, Noelle, porquë? Eu dei-te tudo. Eu amava-te, sua cabra. Eu amava-te. Eu amo-te. E depois apareceu Larry Douglas. Ele pagara com aviria. Mas isso não chegava para Demiris. Tinha outra vingança em mente. Uma vingança perfeita. Ele ia divertir-se com a mulher de Douglas como Douglas tinhafeito com Noelle. Depois mandaria Catherine para junto do marido.
-Costa...
Era a voz da mulher. Melina entrou na biblioteca.
Constantin Demiris era casado com Melina Lambrou, uma mulher atraente, originária de uma velha família aristocrática grega. Era alta e de aspecto régio, com uma dignidade inata.
-Costa, quem é a mulher que eu vi na entrada? -A sua voz estava tensa.
A pergunta apánhou-o desprevenido.
- 0 quê? Oh. E uma amiga de um sócio - disse Demiris. -Vai trabalhar para mim em Londres.
- Vi-a num relance. Ela faz-me lembrar alguém. -Ai sim?
- Pois foi. -Melina hesitou. - Lembra-me a mulher do piloto que trabalhava para ti, Mas isso é impossível, claro. Eles mataram-na.
- É verdade - concordou Constantin Demiris. - Eles mataram-na.
Acompanhou com o olhar a saída de Melina. Tinha de ser cuidadoso. Melina não era parva nenhuma. «Eu nunca deveria ter casado com ela», pensou Demiris. «Tinha sido um erro mau...» Dez anos antes, o casamento de Melina Lambrou e ConstantinDemiris agitara os círculos económicos e sociais desde Atenas a Riviera e a Newport com ondas de choque, 0 que fez com que o caso fosse tão excitante é que apenas um mês antes se comprometera a casar com outro homem. Quando criança, Melina Lambrou havia consternado a família com a sua obstinação. Aos dez anos, decidiu que queria ser marinheira. 0 motorista da família encontrou-a no cais, tentando penetrar a bordo de um navio, e foi para casa envergonhada. Aos doze anos, tentou fugir com um circo itinerante. Aos dezassete anos, Melina resignou-se ao seu destino-era bela, fabulosamente rica e a filha de Mihalis Lambrou. Os jornais adoravam escrever sobre ele. Ela era uma figura de um conto de fadas, cujos companheiros eram princesas e príncipes, e durante todo esse tempo, por algum milagre, Melina conseguira permanecer incólume. Melina tinha um irmão, Spyros, que era dez anos mais velho do que ela, e eles adoravam-se. Os pais morreram num desastre de barco quando Melina tinha treze anos, e foi Spyros quem a criou. Spyros protegia-a extremamente - «demasiado», pensava Melina.Quando Melina estava a caminho dos vinte anos, Spyros tornou-se ainda mais desconfiado dos pretendentes de Melina, e examinava cuidadosamente cada candidato à mão da irmã. Nenhum deles se revelava merecedor.
-Tens de ter cuidado-aconselhava ele constantemente a Melina. -És um alvo para todos os caçadores de fortunas do mundo. És nova, rica e bonita, e tens um nome famoso.
-Bravo, meu querido irmão.Isso vai-me servir de grande conforto quando eu tiver oitenta anos e morrer donzela velha.
Não te preocupes, Melina. 0 homem certo há-de aparecer. Chamava-se Conde Vassilis Manos e tinha quarenta e tal anos, um homem de negócios bem-sucedido que vinha de uma velha e distinta famffia grega. 0 conde apaixonara-se pela jovem e bela Melina instantaneamente. A sua proposta surgiu algumas semanas depois de se conhecerem.
-Ele é perfeito para ti-disse Spyros com um ar feliz. -Manos tem os pés bem assentes na terra e está louco por ti.
Melina estava menos entusiasmada.
-Ele não é excitante, Spyros. Quando estamos juntos, ele só fala de negócios, negócios, negócios. Eu gostava que ele fosse mais... mais romântico.
0 irmão disse firmemente:
-0 casamento não é só romance. Tu precisas de um marido que seja sólido e estável, alguém que se dedique a ti.
E Melina foi finalmente persuadida a aceitar a proposta do Conde Manos.
0 conde ficou excitado.
- Fizeste de mim o homem mais feliz do mundo - declarou ele. -Acabo de fundar uma nova companhia. Vou pôr-lhe o nome de Melina International.
Ela teria preferido uma dúzia de rosas. Marcou-se a data do casamento, enviaram-se mil convites e fizeram-se planos minuciosos.
Foi então que Constantin Demiris entrou na vida de Melina Lambrou, Conheceram-se numa das doze ou mais festas de noivado estavam a ser dadas para o par que ia casar-se.
0 anfitrião apresentou-os.
-Esta é Melina Lambrou , Constantin Demiris.
Demiris olhou para ela com os seus cismados olhos negros. - Quanto tempo irão eles deixá-la cá ficar? -perguntou -Perdão?