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— Sim — respondeu a voz calma do general Serov, membro do alto Presidium. — Mate-o. Mas veja que isso seja bem feito. O Presidium ratificará a decisão, pela manhã.

A linha foi desligada. O telefone interno tocou. O general G. disse — Sim — no receptor e tornou a colocá-lo no lugar.

Um instante depois, o ajudante de ordens abriu a grande porta e colocou-se à entrada. — Camarada coronel Klebb — anunciou.

Uma figura semelhante a um sapo, envolta em uniforme verde-oliva, sobre o qual aparecia isoladamente a fita vermelha da Ordem de Lenine, entrou na sala e dirigiu-se com passos rápidos e curtos para a escrivaninha.

O general G. ergueu o olhar e apontou para a cadeira mais próxima, na mesa de conferências. — Boa noite, camarada.

O rosto achatado abriu-se num sorriso meloso. — Boa noite, camarada general.

A chefe do Otdyel II, o departamento da SMERSH a cargo de Operações e Execuções, ergueu um pouco a saia e sentou-se.

 

Capítulo 7 — O MAGO DE GELO

Os dois mostradores do relógio duplo, guarnecido por uma caixa em forma de cúpula, olhavam para o tabuleiro de xadrez como os olhos de imenso monstro de mar que espreitasse à borda da mesa, para assistir ao jogo.

Os dois mostradores indicavam horas diferentes. O de Kronsteen marcava uma hora menos vinte minutos. O longo pêndulo vermelho que marcava os segundos movia-se no seu balançar "staccato", na parte inferior do mostrador, enquanto o relógio do adversário mantinha-se silencioso, o seu pêndulo imóvel ao longo do mostrador. Este era o relógio de Makharov e indicava cinco minutos para uma hora. O jogador estava "fora de tempo" e, a menos que Kronsteen cometesse algum erro idiota, o que era pouco provável, estaria derrotado.

Kronsteen permanecia imóvel e ereto, tão malevolamente imperscrutável quanto um papagaio. Seus cotovelos estavam sobre a mesa e sua enorme cabeça descansava sobre os punhos cerrados, que lhe comprimiam as faces, retorcendo os lábios num ricto de altivez e desdém. Sob a testa larga e saliente, os olhos negros e oblíquos miravam com absoluta calma o tabuleiro. Mas, atrás dessa máscara, o sangue pulsava no dínamo que era o seu cérebro, e na fronte direita uma veia saliente qual um verme latejava a mais de noventa. Nas últimas duas horas e dez minutos, perdera uma libra de peso, pela transpiração, e o espectro de um lance errado ainda o sufocava. Mas para Makharov, e para os espectadores, ele ainda era o "Mago de Gelo", que jogava como se comesse um peixe. Primeiro arrancava a pele, depois separava as espinhas e, finalmente, comia o peixe. Kronsteen fora campeão de Moscou dois anos seguidos. Disputava agora a final para a terceira vez e, se ganhasse, seria candidato ao campeonato máximo.

Em meio ao silêncio dos circunstantes que se mantinham por trás dos cordões de isolamento que rodeavam a mesa, não se ouvia outro som que não fosse o proveniente do relógio de Kronsteen. Os dois árbitros mantinham-se imóveis em suas poltronas. Sabiam, tão bem quanto Makharov, que o xeque era inevitável. Kronsteen introduzira uma brilhante inovação na variação Meran do gambito declarado da Rainha. Makharov pudera segui-lo até o 28.° lance. Aí, então, perdera tempo. Cometera, talvez, um erro nesse lance, ou talvez ainda tivesse sido no 31.° ou no 33.°. Quem poderia dizer? Esse jogo seria comentado em toda a Rússia, semanas a fio.

Ouviu-se um suspiro partido das arquibancadas superlotadas para a assistência do campeonato. Kronsteen retirara vagarosamente a mão direita de sobre o rosto e a estendera em direção ao tabuleiro. Seu polegar e o indicador abriram-se como as pinças de um caranguejo, e moveram-se para baixo. A mão, segurando uma das peças, ergueu-se, dirigiu-se para um lado e tornou a baixar. Depois, vagarosamente, foi levada novamente para o rosto.

Os expectadores agitaram-se e sussurraram ao verem o resultado do 41.° lance afixado nos grandes mapas indicadores, sobre a parede. R-Kt8. Devia ser o lance final!

Kronsteen curvou-se, de maneira estudada, e desligou a alavanca sob o seu relógio. O pêndulo vermelho parou. Seu mostrador indicava uma hora menos um quarto. Ao mesmo tempo, o pêndulo do relógio de Makharov pôs-se em movimento e começou sua batida forte e inexorável.

Kronsteen recostou-se. Espalmou as mãos sobre a mesa e olhou friamente para o rosto brilhante e abaixado do adversário, cujas emoções podia calcular, visto que também conhecera a derrota no início, e que devia estar-se retorcendo intimamente, como uma enguia transpassada por um dardo. Makharov, campeão da Geórgia. Bem, no dia seguinte o camarada Makharov iria de volta para a Geórgia e ficaria lá. Tudo indicava que, nesse ano, ele não se mudaria com a família para Moscou.

Um homem em trajes civis passou por sob as cordas e cochichou alguma coisa a um dos árbitros. Entregou-lhe um envelope branco. O árbitro abanou a cabeça, ao mesmo tempo que apontava para o relógio de Makharov, que marcava nesse instante três minutos para a uma. O homem à paisana cochichou uma frase curta que fez o árbitro abaixar a cabeça, amuado. Tocou uma campainha.

— Há uma mensagem urgente e pessoal para o camarada Kronsteen — anunciou ao microfone. — Haverá um recesso de três minutos.

Um murmúrio percorreu a sala. Embora Makharov, cortesmente, erguesse os olhos do tabuleiro e permanecesse imóvel, olhando fixamente para o teto alto e abobadado, os espectadores sabiam que todas as posições do jogo lhe estavam gravadas na memória. Essa pausa significava apenas três minutos de vantagem para Makharov.

Kronsteen sentiu o mesmo desapontamento, mas seu rosto permaneceu impassível enquanto o árbitro deixou a poltrona e entregou-lhe um envelope comum, sem nenhum endereço. Kronsteen abriu-o com o polegar e dele tirou a folha de papel, de procedência ignorada. Nela estavam impressas, nos caracteres que ele tão bem conhecia, as seguintes palavras: "SUA PRESENÇA É SOLICITADA COM URGÊNCIA". Nenhuma assinatura, nem tampouco endereço.

Kronsteen dobrou o papel e colocou-o cuidadosamente no bolso interno do paletó. Mais tarde, precisaria devolvê-lo, para que fosse destruído. Olhou para o rosto do homem em trajes civis, que estava ao lado do arbitro. Os olhos dele fitavam-no com impaciência e autoritarismo. "Vão para o inferno", pensou Kronsteen. Não iria desistir, quando faltavam apenas três minutos. Era inconcebível. Seria um insulto para o esporte do povo. Mas, ao fazer para o árbitro o gesto de que o jogo iria continuar, tremia intimamente, e evitava os olhos do emissário que permanecia imóvel, do lado de dentro das cordas.

A campainha soou. Prossegue o jogo. Makharov baixou vagarosamente a cabeça. O ponteiro do seu relógio passara da uma e ele permanecia incólume.

Kronsteen continuava a tremer intimamente. O que fizera não era admissível a um funcionário da SMERSH ou de qualquer outro departamento do Estado. Certamente seria delatado. Desobediência flagrante. Negligência no dever. Quais seriam as consequências? Na melhor das hipóteses, uma repreensão do general G. e uma observação no "zapiska". E na pior hipótese? Kronsteen não podia calcular. Não gostava de pensar nisso. Fosse lá o que acontecesse, o sabor da vitória tornara-lhe amargo na boca.

Mas o fim chegara. Com apenas cinco segundos a seu favor, Makharov ergueu os olhos desanimados à altura dos lábios contraídos do oponente e baixou a cabeça na breve e formal admissão da derrota. Ao duplo soar da campainha do árbitro, todos os espectadores ergueram-se em tremenda ovação.

Kronsteen ergueu-se e curvou-se para o contendor, para os árbitros e, finalmente, para os espectadores. Depois, seguido de perto pelo homem à paisana, passou por baixo das cordas e abriu caminho fria e rudemente, por entre a multidão dos seus entusiastas admiradores, em direção à porta de saída.

Do lado de fora do salão de Competições, no meio da vasta Pushkin Ulitza, estava o habitual "sedan" ZIK, preto, com o motor em movimento. Kronsteen dirigiu-se para o assento traseiro e fechou a porta. Enquanto o emissário pulava para o estribo e se acomodava na parte dianteira, o motorista engatou a marcha e o carro disparou pela rua.