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The wind in my mouth

stirred up a sadness

that few of my loves

have ever aroused,

and its gusting

tore me up inside.

I saw a toad jumping

high as a hill,

and it carried away

what most mattered to me.

A meek and velvety,

hideous creature,

it seemed to steal

in its clammy coldness

an old medal of mine

where your echo sleeps,

a medal it would later

give back, but too late,

and corroded by drool.

I saw other riddles

like so many flowers

abloom in the void.

I saw skirts glide by

in search of bodies

disappearing in gas,

and so, without wearers,

they fluttered all the more,

until they turned purple,

blue from much waiting,

black from black seas.

And they kept on drifting.

Calmly, for a long time

or no time — I don’t remember.

I saw a girl’s heart

forgotten in a cage.

Just lion’s dung,

and the circus long gone.

I saw forbidden times,

from yesterday and always,

and each land had its wall

made of stone and dread,

and perched on that wall

was a blind dove.

So how do we interpret

what heroes don’t say?

How do we cross oceans

if we’re free to sail

but not to build boats?

Walls are erected, poems

written, coins of rain minted,

lighthouses inspected

to make sure they won’t flash,

and if corpses protest,

they’re returned to the sea.

I’ve seen it, and seen enough.

I’ve seen my whole life

compressed into an insect:

its complicated instruments

for flying and hibernating,

its humming anger,

its weak elytrons beating,

its shine like a sunset,

and its filthy feet …

I threw everything down the sewer.

Rubber scraps

and

the smell of burnt cork:

that’s all that links me to the world.

Other hidden riches

have crumbled, farewell, to nothing.

After so many visions,

it’s too late to wonder

if we ought to toss out

our eyes and our glasses.

And if our desire to see

should also be extinguished,

and our visions intercepted,

and all the rest abolished.

Ah, let the world exist!

Irreducible to song,

superior to poetry,

roll, world, roll,

roll this drama, roll the body,

roll our million words

at top speed,

and roll me, roll my breast,

roll the gods, the nations,

disintegrate, explode, and cease!

CASO DO VESTIDO

Nossa mãe, o que é aquele

vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido

de uma dona que passou.

Passou quando, nossa mãe?

Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa.

Vosso pai evém chegando.

Nossa mãe, dizei depressa

que vestido é esse vestido.

Minhas filhas, mas o corpo

ficou frio e não o veste.

O vestido, nesse prego,

está morto, sossegado.

Nossa mãe, esse vestido

tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai

palavras de minha boca.

Era uma dona de longe,

vosso pai enamorou-se.

E ficou tão transtornado,

se perdeu tanto de nós,

se afastou de toda vida,

se fechou, se devorou,

chorou no prato de carne,

bebeu, brigou, me bateu,

me deixou com vosso berço,

foi para a dona de longe,

mas a dona não ligou.

Em vão o pai implorou.

Dava apólice, fazenda,

dava carro, dava ouro,

beberia seu sobejo,

lamberia seu sapato.

Mas a dona nem ligou.

Então vosso pai, irado,

me pediu que lhe pedisse,

a essa dona tão perversa,

que tivesse paciência

e fosse dormir com ele …

Nossa mãe, por que chorais?

Nosso lenço vos cedemos.

Minhas filhas, vosso pai

chega ao pátio. Disfarcemos.

Nossa mãe, não escutamos

pisar de pé no degrau.

Minhas filhas, procurei

aquela mulher do demo.

E lhe roguei que aplacasse

de meu marido a vontade.

Eu não amo teu marido,

me falou ela se rindo.

Mas posso ficar com ele

se a senhora fizer gosto,

só pra lhe satisfazer,

não por mim, não quero homem.

Olhei para vosso pai,

os olhos dele pediam.

Olhei para a dona ruim,

os olhos dela gozavam.

O seu vestido de renda,

de colo mui devassado,

mais mostrava que escondia

as partes da pecadora.

Eu fiz meu pelo-sinal,

me curvei … disse que sim.

Saí pensando na morte,

mas a morte não chegava.

Andei pelas cinco ruas,

passei ponte, passei rio,

visitei vossos parentes,

não comia, não falava,

tive uma febre terçã,

mas a morte não chegava.

Fiquei fora de perigo,

fiquei de cabeça branca,

perdi meus dentes, meus olhos,

costurei, lavei, fiz doce,

minhas mãos se escalavraram,

meus anéis se dispersaram,

minha corrente de ouro

pagou conta de farmácia.

Vosso pai sumiu no mundo.

O mundo é grande e pequeno.

Um dia a dona soberba

me aparece já sem nada,

pobre, desfeita, mofina,

com sua trouxa na mão.

Dona, me disse baixinho,

não te dou vosso marido,

que não sei onde ele anda.

Mas te dou este vestido,

última peça de luxo

que guardei como lembrança

daquele dia de cobra,

da maior humilhação.

Eu não tinha amor por ele,

ao depois amor pegou.

Mas então ele enjoado

confessou que só gostava

de mim como eu era dantes.

Me joguei a suas plantas,

fiz toda sorte de dengo,

no chão rocei minha cara,

me puxei pelos cabelos,

me lancei na correnteza,

me cortei de canivete,

me atirei no sumidouro,

bebi fel e gasolina,

rezei duzentas novenas,

dona, de nada valeu:

vosso marido sumiu.

Aqui trago minha roupa

que recorda meu malfeito

de ofender dona casada

pisando no seu orgulho.

Recebei esse vestido

e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela,

quede os olhos cintilantes?

quede graça de sorriso,

quede colo de camélia?

quede aquela cinturinha

delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados

com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela,

boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus

nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho

e já na ponta da estrada

vosso pai aparecia.

Olhou pra mim em silêncio,

mal reparou no vestido

e disse apenas: Mulher,

põe mais um prato na mesa.

Eu fiz, ele se assentou,

comeu, limpou o suor,

era sempre o mesmo homem,