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O tempo de conhecer mais algumas pessoas,

de aprender como vivem, de ajudá-las.

De ver passar este conto: o vento

balançando a folha; a sombra

da árvore, parada um instante,

alongando-se com o sol, e desfazendo-se

numa sombra maior, de estrada sem trânsito.

E de olhar esta folha, se cai.

Na queda retê-la. Tão seca, tão morna.

Tem na certa um cheiro, particular entre mil.

Um desenho, que se produzirá ao infinito,

e cada folha é uma diferente.

E cada instante é diferente, e cada

homem é diferente, e somos todos iguais.

No mesmo ventre o escuro inicial, na mesma terra

o silêncio global, mas não seja logo.

Antes dele outros silêncios penetrem,

outras solidões derrubem ou acalentem

meu peito; ficar parado em frente desta estátua: é um torso

de mil anos, recebe minha visita, prolonga

para trás meu sopro, igual a mim

na calma, não importa o mármore, completa-me.

O tempo de saber que alguns erros caíram, e a raiz

da vida ficou mais forte, e os naufrágios

não cortaram essa ligação subterrânea entre homens e coisas:

que os objetos continuam, e a trepidação incessante

não desfigurou o rosto dos homens;

que somos todos irmãos, insisto.

Em minha falta de recursos para dominar o fim,

entretanto me sinta grande, tamanho de criança, tamanho de torre,

tamanho da hora, que se vai acumulando século após século e causa vertigem,

tamanho de qualquer João, pois somos todos irmãos.

E a tristeza de deixar os irmãos me faça desejar

partida menos imediata. Ah, podeis rir também,

não da dissolução, mas do fato de alguém resistir-lhe,

de outros virem depois, de todos sermos irmãos,

no ódio, no amor, na incompreensão e no sublime

cotidiano, tudo, mas tudo é nosso irmão.

O tempo de despedir-me e contar

que não espero outra luz além da que nos envolveu

dia após dia, noite em seguida a noite, fraco pavio,

pequena ampola fulgurante, facho, lanterna, faísca,

estrelas reunidas, fogo na mata, sol no mar,

mas que essa luz basta, a vida é bastante, que o tempo

é boa medida, irmãos, vivamos o tempo.

A doença não me intimide, que ela não possa

chegar até aquele ponto do homem onde tudo se explica.

Uma parte de mim sofre, outra pede amor,

outra viaja, outra discute, uma última trabalha,

sou todas as comunicações, como posso ser triste?

A tristeza não me liquide, mas venha também

na noite de chuva, na estrada lamacenta, no bar fechando-se,

que lute lealmente com sua presa,

e reconheça o dia entrando em explosões de confiança, esquecimento, amor,

ao fim da batalha perdida.

Este tempo, e não outro, sature a sala, banhe os livros,

nos bolsos, nos pratos se insinue: com sórdido ou potente clarão.

E todo o mel dos domingos se tire;

o diamante dos sábados, a rosa

de terça, a luz de quinta, a mágica

de horas matinais, que nós mesmos elegemos

para nossa pessoal despesa, essa parte secreta

de cada um de nós, no tempo.

E que a hora esperada não seja vil, manchada de medo,

submissão ou cálculo. Bem sei, um elemento de dor

rói sua base. Será rígida, sinistra, deserta,

mas não a quero negando as outras horas nem as palavras

ditas antes com voz firme, os pensamentos

maduramente pensados, os atos

que atrás de si deixaram situações.

Que o riso sem boca não a aterrorize

e a sombra da cama calcária não a encha de súplicas,

dedos torcidos, lívido

suor de remorso.

E a matéria se veja acabar: adeus, composição

que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.

Adeus, minha presença, meu olhar e minhas veias grossas,

meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,

sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal, ideia de justiça, revolta e sono, adeus,

vida aos outros legada.

THE LAST DAYS

And the earth will swallow us.

But not yet, not yet.

Keep on moving,

keep producing and possessing.

See some old places,

visit some new ones.

Feel the cold, the heat, fatigue.

Stop for a moment; continue.

Discover in your movements

unknown forces, connections.

The pleasure of stretching; the pleasure

of crouching, holding still.

Pleasure of balancing, pleasure of flying.

Pleasure of hearing music;

letting your hand slide over the paper.

The inviolable pleasure of seeing;

certain colors: how they dissolve, how they adhere;

certain objects, different in a new light.

Keep on inhaling the fragrance of fruit

and rain-spattered earth, keep grabbing,

imagining, and recording, keep remembering.

A little more time! To meet a few more people.

To learn how they live, to help them.

To watch this story take place: the wind

shakes the leaf; the tree’s shadow,

stock-still for an instant, lengthens

with the sun, and disperses

in a greater shadow, on a road without traffic.

To look at this leaf, if it falls.

And to catch it in its fall. So dry, so warm.

Surely it has a smell, its own among a thousand.

A pattern, to be endlessly repeated,

and each is a different leaf.

And each moment is different, and each man

is different, and we are all equal.

In the same womb the primal darkness, and over the same earth

a worldwide silence, but not yet, not yet.

Let other silences fill me before that one,

let other solitudes crush or lull

my breast; the silence of lingering before this statue:

a thousand-year-old torso, it receives my visit, prolongs

toward the past my breath, is equal to me

in its calm and, despite being marble, completes me.

Time enough to remark that some errors have fallen, life’s root

has grown stronger, and the shipwrecks

have not severed that underground link between people and things.

Yes, objects persist, and relentless trepidation

has not disfigured the face of men;

yes, I insist, we are all brothers.

In my lack of resources to overcome the end

I still feel I’m vast, I’m as large as a child, as tall as a tower,

as long as time, which keeps adding on the centuries and makes us dizzy,

as large as any João I know, for we are all brothers.

And the sadness of leaving my brothers makes me want

to put off my departure. Ah, you can also laugh,

not at the dissolution but because some try to stop it,

because others will come, because we are all brothers,

in hate, in love, in not understanding, and in the everyday

sublime, everything, yes everything, is our brother.

Time enough to say farewell and confess

I expect no light beyond the one that has wrapped us

day after day, night following night, a flickering wick,

a small bright bulb, a torch, lantern, spark,

clustered stars, forest fire, sun on the waves,

for that light is enough, life is enough, and time

is a good measure, brothers, let’s live our time.

May sickness not scare me, nor ever reach