the point in man where all is explained.
One part of me suffers, another asks for love,
another travels, another argues, still another works,
I’m all forms of communicating, how can I be sad?
May sadness not slay me, but let it come too
on the rainy night, on the muddy road, at the bar shutting down,
let it faithfully struggle with its prey,
and recognize the day dawning in bursts of confidence, amnesia, and love
at the end of its lost battle.
May this and no other time fill the living room, bathe the books,
filter into our pockets and the dishes, with a dingy or a potent glimmer.
And may all the honey of Sundays perish when it must,
and the diamond of Saturdays, the rose
of Tuesdays, the light of Thursdays, the magical
early morning hours, which we reserved
for our personal use, that secret part
of each one of us, in time.
And may the approaching hour not be vile, stained with fear,
submission, or calculation. I know an element of pain
gnaws at its base. It will be grim, unyielding, bleak,
but I don’t want it to negate other hours or words
one day uttered with a firm voice, thoughts
maturely thought out, acts
that left situations in their wake.
May it not shrink in terror at the mouthless laughter
nor be reduced to entreaties, twisted
fingers, or the livid sweat of remorse
before the shadow of the limestone bed.
And may matter observe its own end: farewell, composition
that once called itself Carlos Drummond de Andrade.
Farewell, my presence, my gaze, and my thick veins,
my head’s impression on the pillow, my shadow on the wall,
the mole on my face, nearsighted eyes, personal effects, idea of justice, defiance, and sleepiness, farewell,
life hereby passed on to others.
NOVOS POEMAS / NEW POEMS (1948)
CANÇÃO AMIGA
Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me veem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.
I’M MAKING A SONG
I’m making a song
where my mother and all mothers
will see themselves mirrored,
a song that speaks like two eyes.
I’m walking on a road
that runs through many countries.
They may not see me, but I see
and salute old friends.
I’m spreading a secret
like a man who loves or smiles.
Affection seeks affection
in the most natural way.
My life, our lives,
form a single diamond.
I’ve learned new words
and made others more beautiful.
I’m making a song
for waking up men
and putting children to sleep.
DESAPARECIMENTO DE LUÍSA PORTO
Pede-se a quem souber
do paradeiro de Luísa Porto
avise sua residência
à Rua Santos Óleos, 48.
Previna urgente
solitária mãe enferma
entrevada há longos anos
erma de seus cuidados.
Pede-se a quem avistar
Luísa Porto, de 37 anos,
que apareça, que escreva, que mande dizer
onde está.
Suplica-se ao repórter-amador,
ao caixeiro, ao mata-mosquitos, ao transeunte,
a qualquer do povo e da classe média,
até mesmo aos senhores ricos,
que tenham pena de mãe aflita
e lhe restituam a filha volatilizada
ou pelo menos deem informações.
É alta, magra,
morena, rosto penugento, dentes alvos,
sinal de nascença junto ao olho esquerdo,
levemente estrábica.
Vestidinho simples. Óculos.
Sumida há três meses.
Mãe entrevada chamando.
Roga-se ao povo caritativo desta cidade
que tome em consideração um caso de família
digno de simpatia especial.
Luísa é de bom gênio, correta,
meiga, trabalhadora, religiosa.
Foi fazer compras na feira da praça.
Não voltou.
Levava pouco dinheiro na bolsa.
(Procurem Luísa.)
De ordinário não se demorava.
(Procurem Luísa.)
Namorado isso não tinha.
(Procurem. Procurem.)
Faz tanta falta.
Se todavia não a encontrarem
nem por isso deixem de procurar
com obstinação e confiança que Deus sempre recompensa
e talvez encontrem.
Mãe, viúva pobre, não perde a esperança.
Luísa ia pouco à cidade
e aqui no bairro é onde melhor pode ser pesquisada.
Sua melhor amiga, depois da mãe enferma,
é Rita Santana, costureira, moça desimpedida,
a qual não dá notícia nenhuma,
limitando-se a responder: Não sei.
O que não deixa de ser esquisito.
Somem tantas pessoas anualmente
numa cidade como o Rio de Janeiro
que talvez Luísa Porto jamais seja encontrada.
Uma vez, em 1898
ou 9,
sumiu o próprio chefe de polícia
que saíra à tarde para uma volta no Largo do Rocio
e até hoje.
A mãe de Luísa, então jovem,
leu no Diário Mercantil,
ficou pasma.
O jornal embrulhado na memória.
Mal sabia ela que o casamento curto, a viuvez,
a pobreza, a paralisia, o queixume
seriam, na vida, seu lote
e que sua única filha, afável posto que estrábica,
se diluiria sem explicação.
Pela última vez e em nome de Deus
todo-poderoso e cheio de misericórdia
procurem a moça, procurem
essa que se chama Luísa Porto
e é sem namorado.
Esqueçam a luta política,
ponham de lado preocupações comerciais,
percam um pouco de tempo indagando,
inquirindo, remexendo.
Não se arrependerão. Não
há gratificação maior do que o sorriso
de mãe em festa
e a paz íntima
consequente às boas e desinteressadas ações,
puro orvalho da alma.
Não me venham dizer que Luísa suicidou-se.
O santo lume da fé
ardeu sempre em sua alma
que pertence a Deus e a Teresinha do Menino Jesus.
Ela não se matou.
Procurem-na.
Tampouco foi vítima de desastre
que a polícia ignora
e os jornais não deram.
Está viva para consolo de uma entrevada
e triunfo geral do amor materno,
filial
e do próximo.
Nada de insinuações quanto à moça casta
e que não tinha, não tinha namorado.
Algo de extraordinário terá acontecido,
terremoto, chegada de rei.
As ruas mudaram de rumo,
para que demore tanto, é noite.
Mas há de voltar, espontânea