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Finally I asked him

the unreasonable reason

for leaning me, in anguish,

over remains of remains

from where no breath wafts

to cool the fever

of my reconsiderations;

over that field of static

ruins, whose military

rigidity the morning

dew no longer

bathes or comforts.

While rising in flight,

taciturn and melancholy,

bound for eternity,

he gave only this answer

(if mysteries can indeed

be answered by another,

still higher mystery):

To love, after losing.

CARTA

Bem quisera escrevê-la

com palavras sabidas,

as mesmas, triviais,

embora estremecessem

a um toque de paixão.

Perfurando os obscuros

canais de argila e sombra,

ela iria contando

que vou bem, e amo sempre

e amo cada vez mais

a essa minha maneira

torcida e reticente,

e espero uma resposta,

mas que não tarde; e peço

um objeto minúsculo

só para dar prazer

a quem pode ofertá-lo;

diria ela do tempo

que faz do nosso lado;

as chuvas já secaram,

as crianças estudam,

uma última invenção

(inda não é perfeita)

faz ler nos corações,

mas todos esperamos

rever-nos bem depressa.

Muito depressa, não.

Vai-se tornando o tempo

estranhamente longo

à medida que encurta.

O que ontem disparava,

desbordado alazão,

hoje se paralisa

em esfinge de mármore,

e até o sono, o sono

que era grato e era absurdo

é um dormir acordado

numa planície grave.

Rápido é o sonho, apenas,

que se vai, de mandar

notícias amorosas

quando não há amor

a dar ou receber;

quando só há lembrança,

ainda menos, pó,

menos ainda, nada,

nada de nada em tudo,

em mim mais do que em tudo,

e não vale acordar

quem acaso repouse

na colina sem árvores.

Contudo, esta é uma carta.

LETTER

I wish I could write this

with the right words,

as trite as ever

yet apt to tremble

if touched by passion.

Cutting dark tunnels

through clay and shadow,

my letter would tell you

I’m fine and still love you,

and love more with each day

in my twisted and hesitant

way, and I hope

you answer, and please

don’t delay, and I’d ask

for a tiny something

just to afford you

the pleasure of giving.

It would tell you about

the weather over here,

how the rains have stopped,

the kids are in school,

a recent invention

(still being perfected)

can read people’s hearts,

but we all hope

to see you again soon.

Not too soon, though.

As it gets shorter,

time’s becoming

strangely lengthy.

What bolted yesterday

like a fired-up steed

freezes into a marble

sphinx today,

and even sleep,

which was sweet and absurd,

now sleeps while awake

on a somber plain.

The only swift thing

is the fleeting dream

of sending loving news

when there’s no love

to give or receive,

when there’s just memory,

or still less, dust,

or less yet, nothing,

nothing of nothing

in everything,

and more nothing in me,

and it’s no use waking up

whoever’s resting

on the treeless hill.

But this is a letter.

A MESA

E não gostavas de festa …

Ó velho, que festa grande

hoje te faria a gente.

E teus filhos que não bebem

e o que gosta de beber,

em torno da mesa larga,

largavam as tristes dietas,

esqueciam seus fricotes,

e tudo era farra honesta

acabando em confidência.

Ai, velho, ouvirias coisas

de arrepiar teus noventa.

E daí, não te assustávamos,

porque, com riso na boca,

e a nédia galinha, o vinho

português de boa pinta,

e mais o que alguém faria

de mil coisas naturais

e fartamente poria

em mil terrinas da China,

já logo te insinuávamos

que era tudo brincadeira.

Pois sim. Teu olho cansado,

mas afeito a ler no campo

uma lonjura de léguas,

e na lonjura uma rês

perdida no azul azul,

entrava-nos alma adentro

e via essa lama podre

e com pesar nos fitava

e com ira amaldiçoava

e com doçura perdoava

(perdoar é rito de pais,

quando não seja de amantes).

E, pois, todo nos perdoando,

por dentro te regalavas

de ter filhos assim … Puxa,

grandessíssimos safados,

me saíram bem melhor

que as encomendas. De resto,

filho de peixe … Calavas,

com agudo sobrecenho

interrogavas em ti

uma lembrança saudosa

e não de todo remota

e rindo por dentro e vendo

que lançaras uma ponte

dos passos loucos do avô

à incontinência dos netos,

sabendo que toda carne

aspira à degradação,

mas numa via de fogo

e sob um arco sexual,

tossias. Hem, hem, meninos,

não sejam bobos. Meninos?

Uns marmanjos cinquentões,

calvos, vividos, usados,

mas resguardando no peito

essa alvura de garoto,

essa fuga para o mato,

essa gula defendida

e o desejo muito simples

de pedir à mãe que cosa,

mais do que nossa camisa,

nossa alma frouxa, rasgada …

Ai, grande jantar mineiro

que seria esse … Comíamos,

e comer abria fome,

e comida era pretexto.

E nem mesmo precisávamos

ter apetite, que as coisas

deixavam-se espostejar,

e amanhã é que eram elas.

Nunca desdenhe o tutu.

Vá lá mais um torresminho.

E quanto ao peru? Farofa

há de ser acompanhada

de uma boa cachacinha,

não desfazendo em cerveja,

essa grande camarada.

Ind’outro dia … Comer

guarda tamanha importância

que só o prato revele

o melhor, o mais humano

dos seres em sua treva?

Beber é pois tão sagrado

que só bebido meu mano

me desata seu queixume,

abrindo-me sua palma?

Sorver, papar: que comida

mais cheirosa, mais profunda

no seu tronco luso-árabe,

e que bebida mais santa

que a todos nos une em um

tal centímano glutão,

parlapatão e bonzão!

E nem falta a irmã que foi

mais cedo que os outros e era

rosa de nome e nascera

em dia tal como o de hoje

para enfeitar tua data.

Seu nome sabe a camélia,

e sendo uma rosa-amélia,