my faith having waned, and even my yearning,
even my slightest hope — the wish
that the trace of gloomy dark still lurking
amid the sun’s bright rays would vanish;
and since my dead beliefs, when summoned,
did not in frenzied haste emerge
to color once more the neutral face
I wear on the paths I follow;
and as if another self, in place of
the one who has lived in me for years,
had taken over my already fickle
will, which promptly and tightly closed
like one of those reticent flowers
both open and shut within themselves,
as if a belated gift had ceased
to appeal and instead deserved disdain,
I lowered my eyes, indifferent, tired,
scorning the thing that had opened up
to give itself to my understanding.
The sternest dark had already settled
on the stony road of Minas Gerais,
and the Machine of the World, rejected,
put itself carefully back together
while I went on my way, hands
at my sides, weighing what I had lost.
CAMPO DE FLORES
Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus — ou foi talvez o Diabo — deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.
Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.
Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.
Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer um vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.
E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.
Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.
Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.
FIELD OF FLOWERS
God gave me a love when, late in the season,
fruit isn’t harvested, or it tastes wormy.
God — or the Devil? — gave me this late love,
and I thank them both, because I have a love.
Because I have a love, I take up the old myths
created by love, and I add a few new ones.
I become a myth more radiant than any
and, sculpted in dusk, I am and am not, but I am.
But I am, more and more, I, who was tired
of a self I didn’t know and who deemed the world
a tortured void, a system of errors.
The long-ago mornings that I never lived,
since for me they never smiled, are dawning again.
But they always smiled from behind your shadow,
vast and contracted like a letter on the wall
and now present at last.
God gave me a love because I deserved it.
From all the loves I’ve had, or that had me,
the juice was squeezed to make a wine,
or perhaps this is a product of clotted blood.
And the time it took a hesitant rose
to extract its color from those spent flames
was the right time. It was earthly time.
Where there’s no garden, flowers sprout from a
secret investment in unlikely forms.
Today I have a love and make room in myself
to collect the paraphernalia of the many lovers,
disastrous and triumphant, the world has known,
and seeing them all around me possessed by passion,
I convert holy fear into jubilation.
Love’s left hand is already giving me
its grain of anxiety, while its other hand fondles
the hair, the voice, the step, the architecture,
and the immortal mystery that makes someone wondrous
to our enraptured vision.
But since I was touched by a twilight love,
I must love differently, paving my hands
with a grave patience. And it may be that irony
has torn and distorted this greatest of gifts.
I must love and say nothing.
Outside of time I drag my remains,
alive in this declining, confounding light.
FAZENDEIRO DO AR / FARMER IN THE CLOUDS (1954)
DOMICÍLIO
… O apartamento abria
janelas para o mundo. Crianças vinham
colher na maresia essas notícias
da vida por viver ou da inconsciente
saudade de nós mesmos. A pobreza
da terra era maior entre os metais
que a rua misturava a feios corpos,
duvidosos, na pressa. E do terraço
em solitude os ecos refluíam
e cada exílio em muitos se tornava
e outra cidade fora da cidade
na garra de um anzol ia subindo,
adunca pescaria, mal difuso,
problema de existir, amor sem uso.
DOMICILE
… The apartment opened
windows to the world. Children came
to glean from the ocean air the news
of life to be lived or of that inner life
we forget we’re missing. The poverty
of earth was greater among the metals
mixed up on the street with ugly bodies
in a hurry, unsure. The echoes receded
in solitude from the terrace,
and every exile turned into many,
and another city outside the city
rose slowly on a fishhook, a crooked
catch, a widespread ill, a problem
of existing, unused love.
O QUARTO EM DESORDEM
Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor
que não se sabe como é feita: amor,
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar
a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,
verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.
CHAOS IN THE BEDROOM