I brought some presents from Itabira that I’d like you to have:
this iron stone, future steel of Brazil;
this Saint Benedict of Alfredo Duval, venerable sculptor of saints;
this tapir hide that covers the living room sofa;
this pride, this bowed head …
I had gold, I had cattle, I had farms.
Today I’m a civil servant.
Itabira is just a photo on the wall.
But how it aches!
MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
HAND IN HAND
I won’t be the poet of a decrepit world.
Nor will I sing the world of the future.
I’m bound to life, and I look at my companions.
They’re taciturn but nourish great hopes.
In their midst, I consider capacious reality.
The present is so large, let’s not stray far.
Let’s stay together and go hand in hand.
I won’t be the singer of some woman, some tale,
I won’t evoke the sighs at dusk, the scene outside the window,
I won’t distribute drugs or suicide letters,
I won’t flee to the islands or be carried off by seraphim.
Time is my matter, present time, present people,
the present life.
OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
YOU CARRY THE WORLD ON YOUR SHOULDERS
A time comes when you stop saying: my God.
A time of absolute purification.
A time when you stop saying: my love.
Because love proved to be useless.
And your eyes don’t cry.
And your hands weave only rough work.
And your heart has withered.
Women knock on your door in vain, you won’t open.
You’re all alone, the light is out,
but in the darkness your eyes shine enormous.
You’re certainty itself, you can no longer suffer.
And you expect nothing from your friends.
So what if you’re getting old? What’s old age?
You carry the world on your shoulders,
and it weighs no more than a child’s hand.
Wars, famines, squabbles inside buildings
prove only that life goes on
and many people have yet to free themselves.
Some (the squeamish) find the spectacle
barbaric and would prefer to die.
A time has come when dying serves no purpose.
A time has come when life is an order.
Life, just life, without mystification.
CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON FEAR
For the time being we won’t sing of love,
which has fled beyond all undergrounds.
We’ll sing of fear, which sterilizes all hugs.
We won’t sing of hatred, since it doesn’t exist,
only fear exists, our father and our companion,
the dread fear of hinterlands, oceans, deserts,
the fear of soldiers, fear of mothers, fear of churches,
we’ll sing of the fear of dictators, of democrats,
we’ll sing of the fear of death and what’s after death,
then we’ll die of fear,
and fearful yellow flowers will sprout on our tombs.
ELEGIA 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
ELEGY 1938
You work without joy for a worn-out world
whose forms and actions set no example.
You laboriously perform the universal motions,
you feel heat and cold, lack of money, hunger, and sexual desire.
Heroes fill the city parks where you drag your feet,
and they preach virtue, renunciation, fortitude, vision.
At night, if it drizzles, they open bronze umbrellas
or retreat to the tomes of sinister libraries.
You love the night for its power to annihilate