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Eu…

A juíza Young bateu com o martelo na mesa:

- Doutor Venable, o senhor esgotou o seu tempo. Ainda terá a oportunidade de contra-interrogar a testemunha. Sente-se.

O advogado de acusação olhou para o júri, abanou a cabeça e voltou a sentar-se.

- Doutora Taylor, quando a senhora administrou insulina a John Cronin, sabia que ele a tinha incluído no testamento e receberia um milhão de dólares?

- Não. Fiquei espantada quando o soube.

“ “O nariz dela deveria crescer,”, pensou Gus Venable.

- Até essa altura, nunca tinha falado de dinheiro ou presentes ou pedido alguma coisa a John Cronin? Um leve rubor atingiu-lhe as faces:

- Nunca!

- Mas tinha um relacionamento amigável com ele?

- Sim. Quando um paciente está naquele estado, a relação médico-doente muda. Falávamos de problemas relacionados com os negócios e com a família dele.

- Mas tinha algum motivo para esperar algo dele?

- Não.

- Ele deixou-lhe esse dinheiro por ter aprendido a respeitá-la e a confiar em si. Obrigado, doutora Taylor.

- Penn voltou-se para Gus Venable: - A testemunha é sua.

Enquanto Penn regressava à mesa da defesa, Paige Taylor olhou para o fundo da sala. Ali estava Jason sentado, esforçando-se por parecer encorajador. Ao seu lado encontrava-se Honey. Ao lado desta estava um desconhecido, sentado no lugar que deveria ser ocupado por Kat.

“Se ela ainda fosse viva. Mas Kat morrera”, pensou Paige.

“Também a matei.”

Gus Venable levantou-se e dirigiu-se lentamente ao banco das testemunhas. Olhou para as fileiras da imprensa. Não havia lugares vagos e todos os jornalistas estavam ocupados a escrever. “Vou lhe s dar algo sobre o qual poderão escrever”,, pensou Venable.

Permaneceu diante da ré durante um longo momento, a estudá-la. Depois disse casualmente:

- Doutora Taylor… John Cronin foi o primeiro doente que a senhora matou no Embarcadero County Hospital? Alan Penn pôs-se em pé, furioso:

- Meritíssima, eu…

A juíza Young já fizera soar o martelo:

- Protesto aceite! - Voltou-se para os dois advogados:

- Vamos fazer um intervalo de quinze minutos.

Quero reunir-me convosco no meu gabinete.

Quando os dois advogados já se encontravam no gabinete, a juíza Young virou-se para Gus Venable:

- Você tirou mesmo o curso de direito, ou não, Gus?

- Peço desculpa, meritíssima. Eu…

- Viu alguma tenda lá fora?

- Perdão?

A voz soou zangada:

- A minha sala de tribunal não é um circo e não tenciono permitir que a transforme num. Com que direito faz uma pergunta tão explosiva como essa?

- Peço desculpa, meritíssima. Farei a pergunta de outro modo e…

- Irá fazer mais do que isso! - afirmou Young. - Vai mudar a sua atitude.

Estou a avisar-lhe, dá mais uma golpada destas e declaro o processo nulo.

- Sim, meritíssima.

Quando regressaram à sala de tribunal, a juíza Young disse ao júri:

- O júri irá ignorar completamente a última pergunta da acusação. - E, virando-se para o advogado de acusação: - Pode continuar.

Gus Venable tornou a dirigir-se ao banco das testemunhas:

- Doutora Taylor, deve ter ficado muito surpreendida quando foi informada de que o homem que matou lhe tinha deixado um milhão de dólares.

Alan Penn levantou-se:

- Protesto!

- Aceite. - A juíza Young virou-se para Venable:

- O senhor está a testar a minha paciência.

- Peço desculpa, meritíssima. - Voltando-se de novo para a testemunha: - Deve ter tido uma relação muito amigável com o seu doente. Quero dizer, não é todos os dias que uma pessoa quase totalmente estranha nos deixa um milhão de dólares, não é assim?

Paige Taylor corou ligeiramente:

- A nossa amizade acontecia apenas no contexto da relação médico-doente.

- Será que não foi algo mais do que isso? Um homem não retira a esposa e a família do testamento para deixar um milhão de dólares a uma estranha, sem qualquer tipo de persuasão. As conversas sobre problemas de negócios que afirmou ter tido com ele…

A juíza inclinou-se para a frente e disse em tom de aviso:

- Doutor Venable… - O advogado ergueu as mãos em sinal de rendição.

Voltou-se de novo para a ré:

- Assim, a senhora e John Cronin tiveram uma conversa amigável. Ele contou-lhe coisas pessoais, gostava de si e respeitava-a. Diria que isto é um resumo justo, doutora?

- Sim.

- E por fazer isso, ele deu-lhe um milhão de dólares? Paige olhou para a sala de tribunal. Nada disse. Não tinha resposta.

Venable começou a caminhar em direão à mesa da acusação e, subitamente, tornou a virar-se para a ré.

- Doutora Taylor, há pouco a senhora afirmou que desconhecia que John Cronin iria deixar-lhe dinheiro, ou que iria retirar a família do testamento.

- Sim, afirmei.

- Quanto ganha um médico residente no Embarcadero County Hospital?

Alan Penn levantou-se:

- Protesto! Não vejo…

- É uma pergunta correta. A testemunha pode responder.

- Trinta e oito mil dólares por ano.

Venable replicou compreensivamente:

- Não é muito para os dias de hoje, ou é? E desse valor são deduzidos os impostos e as despesas do dia-a-dia. Não poderá sobrar o suficiente para fazer uma viagem de luxo, digamos, a Londres, Paris ou Veneza, não é assim?

- Suponho que não.

- Não. Então, a senhora não planejou fazer umas férias destas, porque sabia que não conseguia pagá-las.

- Sim.

Alan Penn levantou-se novamente:

- Meritíssima…

A juíza Young voltou-se para o advogado de acusação:

- Aonde é que isto vai dar, doutor Venable?

- Quero apenas sublinhar que a ré não podia planejar uma viagem de luxo sem obter o dinheiro de alguém.

- Ela já respondeu à pergunta.

Alan Penn sabia que tinha de fazer qualquer coisa.

Não sentia o que pensava, mas aproximou-se do banco das testemunhas, com o aspecto alegre de um homem que acabou de ganhar a lotaria.

- Doutora Taylor, lembra-se de ter ido buscar estas brochuras de viagens?

- Sim. - planejava ir à Europa ou alugar um iate?

- É claro que não. Tudo isso faz parte de uma espécie de brincadeira, de um sonho impossível. Eu e as minhas amigas julgámos que nos iria levantar o espírito. Estávamos muito cansadas,… na altura, parecia uma boa ideia. - A voz foi-se extinguindo.

Alan Penn olhou disfarçadamente para o júri. Os rostos registravam a descrença total.

Gus Venable questionava a ré num novo exame:

- Doutora Taylor, conhece o doutor Lawrence Barker? A imagem veio-lhe subitamente à memória. “Vou matar Lawrence Barker. Fá-lo-ei lentamente.

Deixá-lo-ei sofrer primeiro… e depois matá-lo-ei.” - Sim, conheço o doutor Barker.

- Com que ligação?

- Eu e o doutor Barker trabalhámos muitas vezes juntos durante os últimos dois anos.

- Diria que ele é um médico competente? Alan Penn deu um salto da cadeira:

- Oponho-me, meritíssima. A testemunha…

Mas, antes de poder acabar ou a juíza Young determinar, Paige respondeu:

- É mais do que competente. É brilhante.

Penn voltou a sentar-se, demasiado estupefacto para falar.

- Importa-se de se explicar?

- O doutor Barker é um dos mais famosos cirurgiões cardiovasculares do mundo. Tem uma enorme atividade privada mas dispensa três dias por semana ao Embarcadero County Hospital.

- Então, a senhora tem em grande consideração os juízos emitidos pelo doutor Barker relativamente a assuntos médicos.

- Sim.

- Acha que ele seria capaz de julgar a competência de outro médico?

Penn esperou que Paige respondesse “Não sei”.

Ela hesitou:

- Sim.

Gus Venable virou-se para o júri:

- Ouviram a ré dizer que tinha em grande consideração os juízos médicos do doutor Barker. Espero que ela tenha escutado atentamente o juízo do doutor Barker sobre a sua própria competência… Ou a falta dela.