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Quando, depois de alguns minutos, chegou ao topo da duna, seu coração deu um salto. Iluminadas pela luz da lua cheia e pelo branco do deserto, erguiam-se majestosas e solenes as Pirâmides do Egito.

O rapaz caiu de joelhos e chorou. Agradecia a Deus por haver acreditado em sua Lenda Pessoal, e por haver encontrado certo dia um rei, um mercador, um inglês, e um alquimista.

Sobretudo, por haver encontrado uma mulher do deserto, que lhe tinha feito entender que o Amor jamais vai separar o homem de sua Lenda Pessoal.

Os muitos séculos das Pirâmides do Egito contemplavam, do alto, o rapaz. Se ele quisesse, podia agora voltar ao oásis, pegar Fátima, e viver como simples pastor de ovelhas. Porque o Alquimista vivia no deserto, mesmo compreendendo a Linguagem do Mundo, mesmo sabendo transformar chumbo em ouro. Não tinha que mostrar a ninguém sua ciência e sua arte. Enquanto caminhava em direção à sua Lenda Pessoal, havia aprendido tudo que precisava, e havia vivido tudo que tinha sonhado viver.

Mas havia chegado ao seu tesouro, e uma obra só está completa quando o objetivo é atingido. Ali, naquela duna, o rapaz havia chorado. Olhou para o chão e viu que, no local onde haviam caído suas lágrimas, um escaravelho passeava. Durante o tempo que havia passado no deserto, tinha aprendido que, no Egito, os escaravelhos eram o símbolo de Deus.

Ali estava mais um sinal. E o rapaz começou a cavar, depois de lembrar-se do mercador de cristais; ninguém conseguiria ter uma Pirâmide no seu quintal, mesmo que amontoasse pedras por toda a sua vida.

Durante a noite inteira o rapaz cavou no lugar marcado, sem encontrar nada. Do alto das Pirâmides, os séculos o contemplavam, em silêncio Mas o rapaz não desistia: cavava e cavava, lutando com o vento, que muitas vezes tornava a trazer a areia de volta para o buraco. Suas mãos ficaram cansadas depois feridas, mas o rapaz acreditava em seu coração. E seu coração dissera para cavar onde suas lágrimas caíssem.

De repente, quando estava tentando tirar algumas pedras que haviam aparecido, o rapaz ouviu passos. Algumas pessoas se aproximaram dele. Estavam contra a lua, e o rapaz não podia ver seus olhos, nem seus rostos.

— O que você está fazendo aí? — perguntou um dos vultos.

O rapaz não respondeu. Mas sentiu medo. Tinha agora um tesouro para desenterrar, e por isso tinha medo.

— Somos refugiados da guerra dos clãs — disse outro vulto. — Precisamos saber o que você esconde aí. Precisamos de dinheiro.

— Não escondo nada — respondeu o rapaz.

Mas um dos recém-chegados agarrou-o e o puxou para fora do buraco. Outro começou a revistar seus bolsos. E encontraram o pedaço de ouro.

— Ele tem ouro — disse um dos salteadores.

A lua iluminou a face de quem o estava revistando, e ele viu, em seus olhos, a morte.

— Deve haver mais ouro escondido no chão — disse outro.

E obrigaram o rapaz a cavar. O rapaz continuou cavando, e não havia nada. Então começaram a bater no rapaz. Espancaram o rapaz até que aparecessem no céu os primeiros raios de sol. Sua roupa ficou em frangalhos, e ele sentiu que a morte estava próxima.

«De que adianta o dinheiro, se tiver que morrer? Poucas vezes o dinheiro é capaz de livrar alguém da morte», dissera o Alquimista.

— Estou procurando um tesouro! — gritou finalmente o rapaz. E mesmo com a boca ferida e inchada de pancadas, contou aos salteadores que havia sonhado duas vezes com um tesouro escondido junto das Pirâmides do Egito.

O que parecia o chefe ficou um longo tempo em silêncio. Depois falou com um deles:

— Pode deixá-lo. Ele não tem mais nada. Deve ter roubado este ouro.

O rapaz caiu com o rosto na areia. Dois olhos procuraram os seus; era o chefe dos salteadores. Mas o rapaz estava olhando as Pirâmides.

— Vamos embora — disse o chefe para os outros. Depois, virou-se para o rapaz:

— Você não vai morrer — disse. — Vai viver e aprender que o homem não pode ser tão estúpido. Aí, neste lugar onde você está, eu também tive um sonho repetido há quase dois anos atrás.

Sonhei que devia ir até os campos da Espanha, buscar uma igreja em ruínas onde os pastores costumavam dormir com suas ovelhas, e que tinha um sicômoro crescendo dentro da sacristia, se eu cavasse na raiz deste sicômoro, haveria de encontrar um tesouro escondido. Mas não sou estúpido de cruzar um deserto só porque tive um sonho repetido.

Depois foi embora.

O rapaz levantou-se com dificuldade, e olhou mais uma vez para as Pirâmides. As Pirâmides sorriram para ele, e ele sorriu de volta, com o coração repleto de felicidade.

Havia encontrado o tesouro.

EPÍLOGO

O rapaz chamava-se Santiago. Chegou na pequena igreja abandonada quando já estava quase anoitecendo.

O sicômoro ainda continuava na sacristia, e ainda se podiam ver as estrelas através do teto semidestruído. Lembrou-se que certa vez havia estado ali com suas ovelhas, e que tinha sido uma noite tranquila, exceto pelo sonho.

Agora ele estava sem o seu rebanho. Ao invés disto, trazia uma pá.

Ficou muito tempo olhando o céu. Depois tirou do alforje uma garrafa de vinho, e bebeu. Lembrou-se da noite no deserto, quando tinha também olhado as estrelas e bebido vinho com o Alquimista. Pensou nos muitos caminhos que tinha andado, e a maneira estranha de Deus lhe mostrar o tesouro.

Se não tivesse acreditado em sonhos repetidos, não tinha encontrado a cigana, nem o rei, nem o salteador, nem… «bom, a lista é muito grande. Mas o caminho estava escrito pelos sinais, e eu não tinha como errar», disse para si mesmo.

Dormiu sem perceber, e quando acordou, o sol já ia alto. Então começou a escavar a raiz do sicômoro.

«Velho bruxo», pensava o rapaz. «Você sabia de tudo. Deixou até mesmo um pouco de ouro para que eu pudesse voltar até esta Igreja.

O monge riu quando me viu voltar em frangalhos.

Não podia me poupar isto?»

«Não», ele escutou o vento dizer: «Se eu tivesse lhe contado, você não teria visto as Pirâmides. São muito bonitas, não acha?»

Era a voz do Alquimista. O rapaz sorriu e continuou a cavar. Meia hora depois, a pá bateu em algo sólido. Uma hora depois ele tinha diante de si um baú cheio de velhas moedas de ouro espanholas. Havia também pedrarias, máscaras de ouro com penas brancas e vermelhas, ídolos de pedra cravejados de brilhantes.

Peças de uma conquista que o país já havia esquecido há muito tempo, e que o conquistador se esquecera de contar para seus filhos.

O rapaz tirou o Urim e o Tumim do alforje. Tinha utilizado as duas pedras apenas uma vez, quando estava certa manhã, num mercado. A vida e o seu caminho estiveram sempre cheios de sinais.

Guardou o Urim e o Tumim no baú de ouro. Eram também parte de seu tesouro, porque lembravam um velho rei que jamais tornaria a encontrar.

«Realmente a vida é generosa com quem vive sua Lenda Pessoal», pensou o rapaz. Então lembrou-se de que tinha que ir até Tarifa, e dar um décimo daquilo tudo para a cigana. «Como são espertos os ciganos», pensou. Talvez fosse porque viajavam tanto.

Mas o vento voltou a soprar. Era o Levante, o vento que vinha da África. Não trazia o cheiro do deserto, nem a ameaça de invasão dos mouros.

Ao invés disto, trazia um perfume que ele conhecia bem, e o som de um beijo — que veio vindo devagar, devagar, até parar em seus lábios.

O rapaz sorriu. Era a primeira vez que ela fazia isto.

— Estou indo, Fátima — disse ele.