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Ao passar a ribeirinha, Pus o pé, molhei a meia Pus o pé,

molhei a meia Pus o pé, molhei a meia.

Não casei na minha terra, Fui casar em terra alheia Fui

casar em terra alheia Fui casar em terra alheia.

O engodo funcionou.

Atraído pelo som melodioso da voz da rapariga, José espreitou pela porta no caminho de regresso ao quarto. Era para ser uma mirada rápida, mero olhar de circunstância, mas o que viu pela porta entreaberta deteve-o e deixou-o paralisado, sem respiração. Maria Imaculada remexia a camisa de noite, como se pretendesse vesti-la, mas entre o veste e o não veste exibia o tronco nu, as curvas dos seios desenhadas com perfeição, opulentas, a pele tenra colorida de laranja-avermelhado pelo clarão luminoso que a chama da lâmpada de petróleo emitia num pestanejar nervoso. José sentiu o ardor voltar em força, na verdade com uma energia que nunca tivera, dilatando-se como um balão, prestes a explodir diante da primeira mulher desnudada que os seus olhos tiveram o privilégio de ver.

A criada voltou o rosto e esboçou um sorriso ao apanhá-lo a espreitar. Tolhido pela surpresa de passar de mirone a mirado, José recuou, horrorizado, prestes a fugir escada acima. Queria escapar naquele instante, desaparecer antes que ela fizesse um escândalo.

"Olá, Zezinho", murmurou Maria Imaculada num tom quase musical. "Fazes-me um favor?"

A voz tranquila da rapariga travou-o naquele assomo de pânico. Ela falou-lhe como se o tivesse encontrado no corredor, nem parecia ter-se apercebido de que era espiada com os seios à mostra.

Na ilusão de que a empregada nada tinha notado, o rapaz forçou-se a um sorriso.

"Sim... o que... o que é?"

"Vais-me buscar um copinho de água?"

José baixou os olhos e voltou à cozinha, afogueado, o coração a ribombar no peito, o espírito mergulhado numa turbulência de sentimentos, sem compreender bem o que se passava, sem saber como reagir, o que dizer, para onde olhar. Pegou num copo, encheu-o de água e regressou ao corredor. Estacou diante da porta do quarto, os olhos colados ao chão de embaraço.

"Está aqui", anunciou, baixinho.

"Entra."

José hesitou, envergonhado. Olhou furtivamente em redor, como se estivesse prestes a ser apanhado a roubar as amêndoas das irmãs; sabia que o passo era interdito, que pisava terreno proibido, mas mesmo assim, quase a cambalear, impulsionado por uma força desconhecida, o corpo a obedecer a ordens que não tinham saído da sua cabeça, deu esse passo em frente, empurrou a porta, entrou no quarto e estendeu o copo, sempre com mil cuidados para não pousar os olhos nos seios tentadores que a criada exibia com despudor.

Maria Imaculada pegou no copo e bebeu um gole. Sentindo- se a mais, a coragem já a desvanecer-se, receando ser visto onde não podia ser visto, José fez tenções de sair, mas a empregada refreou-o com um gesto. Continuou a beber e deixou a água escorregar-lhe pelos cantos da boca e pingar-lhe sobre o peito. Esvaziou o copo e endireitou-se. Sem tirar os olhos do rapaz, passou a mão direita pelos seios, espalhando a água pelos mamilos, fazendo a pele nívea reluzir à luz dançante da chama, como se sobre a textura suave do veludo escorressem lágrimas douradas de mel.

"Nunca viste umas maminhas?"

José abanou a cabeça num gesto mecânico.

"Não", disse, a voz muito sumida, os olhos colados ao chão.

A empregada apalpou o seio esquerdo, espremendo-o como um fruto fofo e sumarento.

"Gostavas de mexer?"

Fez-se um silêncio profundo; José não sabia o que dizer.

"Gostavas de mexer?", repetiu ela, a voz melada.

O rapaz reuniu toda a coragem, todo o atrevimento e, sentindo o rosto enrubescer e o corpo cruzar mais uma barreira proibida, balançou a cabeça afirmativamente.

"Então mexe", disse ela, inclinando o tronco para a frente. "Vá. Mexe! Aperta!"

José ergueu a mão, hesitante, e aproximou-a lentamente do peito arfante da criada. Tocou na pele ebúrnea com a ponta dos dedos, sentiu-lhe a superfície sedosa, quente, ganhou-lhe o gosto e encheu a mão, apanhou-a com a palma toda e contraiu os dedos, apalpando-a com volúpia, espremendo o saco gelatinoso e aveludado. Uma erecção colossal quase lhe irrompia das calças do pijama, crescendo sem parar, como um balão em expansão.

Sentindo a mão a explorar-lhe gulosamente o seio e vendo o volume descomunal agigantar-se diante dela, a rapariga não se conteve mais e apalpou-lhe o inchaço. Cada vez mais excitada, o fogo a arder-lhe no ventre como jamais lhe sucedera, puxou-lhe as calças de pijama para baixo e quase desfaleceu quando se deparou com o gigante; o monstro emergia do seu esconderijo com altivez, um colosso de dimensões tais que teve naquele instante a intuição, a promessa, a certeza de que iria finalmente conhecer o paraíso na Terra.

E que de imaculada aquela Maria apenas tinha o nome.Foram as mulheres que fizerem José perceber que o monstro que transportava entre as pernas não era castigo divino, mas uma bênção dos céus. A descoberta reconciliou-o com Deus e reabriu-lhe os caminhos para as igrejas. A sua mente, contudo, povoava-se de outros destinos.

Durante aquele mês em que Maria Imaculada ali permaneceu a cobrir a vaga temporária aberta por Beatriz, o benjamim da família teve a sensação de viver um corrupio de emoções. Ora o corpo alcançava o paraíso dos sentidos, ora a alma se despenhava no inferno da culpa. Imaculada revelou-se uma jovem ardente, a fogosidade e a imaginação excitadas pela perspectiva do pleno usufruto de tão volumoso atributo masculino.

Todos os dias José jurava a si mesmo que dessa vez seria forte e não voltaria a pecar, que não cederia à tentação e permaneceria puro e imaculado, que a virtude se imporia aos instintos da carne. No entanto, à noite, quando toda a casa dormia, não resistia ao impulso e deslizava silenciosamente pelo soalho, contornando o ocasional ranger inoportuno da madeira para se abrigar por uma deliciosa meia hora entre os braços quentes e as pernas escaldantesda criada, os gemidos e os arfares abafados de preferência pela boca sôfrega da amante, e, quando isso não era possível, pela almofada ou pelo cobertor.

No primeiro domingo ainda considerou seriamente a possibilidade de confessar tudo ao padre Jacinto, mas a vergonha foi mais forte e no confessionário limitou-se a balbuciar uns pecados irrelevantes, coisas de tal modo menores que se expiaram com apenas três ave-marias e dois pai-nossos. Saiu nesse dia da Igreja do Sameiro fazendo a jura solene de que no domingo seguinte é que seria, quando chegasse a hora da confissão iria mesmo prostrar-se perante o pároco e derramaria sobre ele toda a enxurrada de pecados mortais que o maculavam.

Com o andar do tempo, porém, o sentimento de culpa foi diminuindo, como se o corpo ganhasse aos poucos a batalha à alma, e no domingo seguinte mais uma vez nada confessou sobre as depravações com Maria Imaculada. Depressa deixou de se contentar com as noites e passou a agarrar todas as oportunidades adicionais que se lhe foram oferecendo. Bastava Amélia chamar os filhos para irem com ela comer um bolinho à Pastelaria Brasil ou darem um passeio para ver a tia Joana que José, contendo com dificuldade a excitação, fazia cara de enterro e, quase penitente, abatia a cabeça.

"Tenho de ficar em casa, mãe."

"Ai sim?", espantou-se ela quando pela primeira vez ouviu tal recusa. "Porquê?"