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— Não existe alternativa.

— É isso que você pensa?

O jornalista fez que sim.

— Convenci-me disso, depois de conversar várias horas com Folimun. Meu instinto me diz para não confiar em Folimun e seu bando de fanáticos. Não há dúvida de que ele é uma pessoa sedenta de poder, um homem frio e perigoso. Mas quais são os seus rivais? Altinol? Todos aqueles chefetes ao longo da estrada? As novas províncias levariam um milhão de anos para se unir espontaneamente em uma economia global. Folimun tem autoridade suficiente para fazer com o que o mundo se ajoelhe diante dele… ou melhor, diante de Mondior. Escute, Siferra, a maior parte da humanidade perdeu o juízo. Existem milhões de loucos por aí. Apenas os mais equilibrados, como você, eu e Beenay, conseguiram se recuperar. Os outros, porém, o grosso da humanidade, vão levar muitos anos para conseguirem pensar de novo com clareza. Um profeta carismático como Mondior pode ser a única solução, por mais que eu deteste a ideia.

— Não há outra opção, então?

— Não, Siferra.

— Como pode ter tanta certeza?

— Escute, Siferra, o importante é salvar a civilização. O resto é secundário. O mundo sofreu um golpe terrível e…

— O mundo desferiu um golpe terrível contra si mesmo.

— Não é assim que eu encaro a questão. Os incêndios foram o resultado de uma mudança brusca no ambiente. Nunca teriam acontecido se o eclipse não fizesse as Estrelas aparecerem. Mas os males perduram até hoje. Uma coisa leva a outra. Altinol é um mal. As novas províncias independentes são males. Os loucos se matando na floresta, ou caçando os pobres professores universitários, são males.

— E Folimun? Ele é o maior mal de todos!

— Sim e não. Claro que ele está estimulando o fanatismo e o misticismo. Acontece que estão sendo usados como instrumento de disciplina. As pessoas acreditam no que ele está vendendo, até os malucos, até as pessoas que perderam o juízo. Ele é um mal tão grande que pode engolir todos os outros. Ele pode curar o mundo, Siferra. Depois, trabalhando de dentro, podemos tentar consertar os males que ele causou. Mas só se estivermos trabalhando de dentro. Se nos juntarmos a ele, teremos uma oportunidade. Se nos colocarmos na oposição, seremos esmagados como insetos.

— Que é que você propõe, então?

— Temos que escolher entre nos unirmos a ele e nos tornarmos parte da elite que governará o mundo nos próximos anos ou passarmos o resto da vida como proscritos e fugitivos. Que é que você quer, Siferra?

— Quero uma terceira opção.

— Só existem as que acabei de mencionar. O grupo de Aragando não tem força de vontade suficiente para formar um governo viável. Pessoas como Altinol não têm escrúpulos. Folimun já controla metade da antiga República de Saro. Não vai levar muito tempo para conquistar o resto. O reino da razão ainda vai levar alguns séculos para voltar, Siferra…

— De modo que acha que é melhor apoiá-lo e tentar controlar os rumos da nova sociedade do que combatê-lo apenas porque não gostamos do tipo de fanatismo que representa?

— Exatamente. Exatamente.

— Mas ajudar a entregar o mundo ao fanatismo religioso…

— O mundo já se libertou outras vezes do fanatismo religioso, não é mesmo? O importante agora é descobrir alguma forma de sairmos do caos. Folimun e seu grupo são a nossa única esperança. Pense na fé como uma máquina capaz de mover a civilização, em uma época em que todas as outras máquinas estão quebradas. E a única coisa que importa agora. Primeiro consertar o mundo, depois, esperar que nossos descendentes se cansem dos místicos e suas vestes negras. Entende o que estou dizendo, Siferra? Entende?

A arqueóloga fez que sim com a cabeça, de uma maneira vaga, como se estivesse dormindo. Theremon ficou olhando quando ela se afastou lentamente em direção à clareira onde tinham sido surpreendidos pelos Apóstolos na noite anterior. Parecia que tinha sido há muitos anos.

Ficou parada na clareira por um longo tempo, à luz dos quatro sóis.

Como ela é linda, pensou Theremon. Como eu a amo!

Como este mundo é estranho!

Esperou. A atividade no acampamento dos Apóstolos era quase frenética. Figuras encapuzadas passavam a todo momento para cá e para lá.

Folimun aproximou-se.

— E então?

— Estamos pensando no assunto — disse Theremon.

— Nós? Tive a impressão de que estava do nosso lado. Theremon enfrentou o seu olhar.

— Só ficarei do seu lado se Siferra concordar.

— Como preferir. Entretanto, detestaria perder um homem com a sua capacidade de comunicação. Para não falar na experiência da Dra. Siferra com artefatos do passado.

Theremon sorriu.

— Isto vai ser um teste para a minha capacidade de comunicação, sabia?

Folimun assentiu e se afastou para supervisionar o carregamento dos caminhões. Theremon olhou para Siferra. Estava virada para leste, na direção de Onos, banhada pela luz fria de Sitha e Tano, enquanto, do norte, vinham os raios avermelhados de Dovim.

Quatro sóis. O melhor dos augúrios.

Siferra estava voltando agora, correndo pelos campos. Seus olhos brilhavam. Parecia muito contente.

— E aí? — perguntou Theremon. — Que foi que você decidiu?

Ela tomou as mãos do repórter nas suas.

— Está bem, Theremon. Aceito. O poderoso Folimun é o nosso líder, e eu o seguirei aonde quer que vá, com uma condição.

— Qual é?

— A mesma que mencionei quando estávamos na tenda. Não vou usar a veste. Recuso-me. Se ele insistir para que eu use a veste, o trato está desfeito.

Theremon olhou para a moça, sorrindo. Tudo iria dar certo. Depois do Cair da Noite vinha o Nascer do Dia, o renascimento. Da devastação, surgiria um novo Kalgash, e ele e Siferra ajudariam a criá-lo.

— Acho que pode ser arranjado — respondeu. — Vamos falar com Folimun, e ver o que ele diz.