Estou tentando obter uma imagem do homem. Ficarei muito grata por qualquer coisa que possa me dizer.
O general Booster curvou-se à frente.
- Não sei de que diabo você está atrás, mas posso lhe dizer uma coisa. A lenda era o homem. Quando Taylor Winthrop presidiu a FRA, trabalhei sob sua chefia. Foi o melhor diretor que essa organização já teve. Todo mundo o admirava. O que aconteceu a ele e à sua família é uma tragédia que não consigo nem sequer compreender - A fisionomia ficou carregada.
Com toda franqueza, não gosto da imprensa, Srta. Evans. Acho que seu pessoal passou a perder o controle. Assisti à cobertura que fez em Sarajevo. Suas transmissões lacrimosas e floreadas não nos ajudaram em nada.
Dana tentava com esforço controlar a raiva.
- Eu não estava lá para ajudá-lo, general. Estava lá para noticiar o que acontecia com a população civil inocente…
- Seja o que for Para sua informação, Taylor Winthrop foi o melhor e maior estadista que este país já teve. - Cravou os olhos nos dela. - Se pretende esfrangalhar a memória dele, vai arranjar um monte de inimigos.
Estou Lhe avisando para ficar longe disso. Até logo, Srta. Evans.
Dana fitou-o por um momento e levantou-se em seguida.
- Muito obrigada, general. - Ela saiu do escritório.
Jack Stone apressou-se atrás dela.
- Vou acompanhá-la para mostrar a saída.
No corredor, Dana respirou fundo e perguntou, furiosa:
- Ele é sempre assim?
Jack Stone deu um suspiro.
- Peço desculpas por ele. Às vezes, é um pouco bruto. Ele fala por falar, não sente nada daquilo.
- É mesmo? - perguntou Dana, firme. - Tive a sensação de que sentia.
- De qualquer modo, do fundo do coração, me desculpe - disse Jack Stone.
Virou-se, começando a afastar-se.
Dana tocou-lhe a manga.
- Espere. Eu gostaria de conversar com você. É meio-dia.
Poderíamos almoçar em algum lugar? Jack Stone deu uma olhada na porta do general.
- Está bem. No restaurante Sholl’s Colonial, na rua K, em uma hora?
- Ótimo. Obrigada.
- Não me agradeça cedo demais, Srta. Evans.
Dana esperava-o quando ele entrou no self service semideserto.
Jack Stone parou na porta por um momento, certificando-se de que não havia ninguém conhecido dentro, depois juntou-se a Dana na mesa.
- O general Booster me esfolaria vivo se soubesse que estou conversando com você. Ele é um excelente homem. Seu trabalho é duro, sensível, e ele é muito, muito bom mesmo no que faz. - Hesitou. - Receio, porém, que não goste muito da imprensa.
- Deu para perceber - disse Dana, forçando um sorriso.
- Tenho de deixar uma coisa bem clara, Srta. Evans. Esta conversa é completamente em caráter não oficial.
- Entendo.
Eles pegaram bandejas, escolheram a comida e serviram-se.
Quando voltaram a se sentar, Jack Stone explicou:
- Não quero que tenha uma impressão errada da nossa organização. Nós somos os mocinhos. Por isso é que entramos nela. Para começar Estamos trabalhando para ajudar os países subdesenvolvidos.
- Aprecio isso - disse Dana.
- Que posso lhe dizer sobre Taylor Winthrop?
- Tudo que consegui até agora são histórias de santidade.
O homem devia ter alguns defeitos.
- E tinha - admitiu Jack Stone. - Deixe-me Lhe contar primeiro as coisas boas. Mais que qualquer outro homem que conheci, Taylor Winthrop se preocupava com as pessoas.
- Fez uma pausa. - Quer dizer, se preocupava mesmo. Prestava atenção nos nascimentos e casamentos, e todo mundo que trabalhava para ele o adorava. Tinha uma mente perspicaz, incisiva, e era um solucionador de problemas. E embora se envolvesse muito em tudo que fazia, no íntimo era um homem de família. Adorava a mulher e os filhos. - Interrompeu-se.
- Qual a parte ruim? - perguntou Dana.
Jack Stone disse, relutante:
- Taylor Winthrop era um ímã pra mulheres. Também carismático, bonitão, rico e poderoso. As mulheres achavam difícil resistir - Continuou: - Por isso, de vez em quando, Taylor.. dava um escorregão. Tinha alguns casos amorosos, mas posso lhe garantir que nenhum deles era sério, e ele os mantinha com muita discrição. Jamais faria nada que pudesse magoar a família.
- Major Stone, pode imaginar se alguém teria tido um motivo para matar Taylor Winthrop e sua família? Jack Stone largou o garfo.
- Como?
- Alguém com esse perfil tão elevado deve ter feito alguns inimigos ao longo da trajetória.
- Srta. Evans… está insinuando que os Winthrops foram assassinados?
- Só estou perguntando - disse Dana.
Jack Stone pensou por um momento. Depois balançou a cabeça.
- Não -disse. - Não faz sentido. Taylor Winthrop nunca feriu ninguém na vida. E se você falasse com qualquer um de seus amigos ou sócios, não faria sequer essa pergunta.
- Deixe-me lhe dizer o que soube até agora - disse Dana.
- Taylor Winthrop era…
Jack Stone ergueu a mão.
- Srta. Evans, quanto menos eu souber, melhor. Estou tentando ficar fora do circuito. Posso ajudá-la melhor assim, se entende o que quero dizer.
Dana fitou-o, aturdida.
- Acho que não, para falar a verdade.
- Honestamente, pelo seu bem, espero que abandone toda essa matéria. Se não o fizer, seja cuidadosa. - Levantou-se e desapareceu do restaurante.
Ela ficou ali sentada, pensando no que acabara de ouvir.
Então Taylor Winthrop não tinha inimigos. Talvez eu esteja cercando o assunto pelo ângulo errado. E se não foi ele quem fez um inimigo mortal?
E se foi um dos filhos? Ou a mulher?
Dana contou a Jeff sobre o almoço com o major Stone.
- Interessante. E agora?
- Quero falar com algumas das pessoas que conheceram os filhos. Paul Winthrop era noivo de uma moça chamada Harriet Berk. Estavam juntos há quase um ano.
- Lembro-me de ter lido sobre os dois - disse Jeff: Hesitou. - Querida, você sabe que lhe dou cem por cento de apoio…
- Claro, Jeff.
- Mas e se estiver enganada? Acidentes às vezes acontecem. Quanto tempo mais vai levar nisso?
- Não muito mais - prometeu Dana. - Vou fazer só mais algumas sondagens.
Harriet Berk morava num elegante apartamento duplex na parte noroeste de Washington. Era uma loura magra de trinta e poucos anos, com um sorriso nervoso e cativante.
- Obrigada por me receber - disse Dana.
- Ainda não sei exatamente por que a recebo, Srta. Evans.
Disse que era alguma coisa relacionada a Paul.
- Sim. - Dana escolheu as palavras com cuidado. Não quero me intrometer em sua vida pessoal, mas quando você e Paul eram noivos e iam se casar, tenho certeza que, talvez mais que ninguém, você fosse a pessoa que o conhecia melhor.
- Gosto de imaginar que sim.
- Eu adoraria saber um pouco mais sobre ele, como Paul era realmente.
Harriet Berk ficou calada por um momento. Quando falou, a voz saiu tranqüila.
- Paul era diferente de todos os outros homens que já conheci. Tinha um grande entusiasmo pela vida. Era gentil e pensava muito nos outros. Às vezes, era muito engraçado. Não se levava muito a sério. Era uma grande diversão tê-lo por perto. Planejávamos nos casar em outubro. - Ela parou. - Quando Paul morreu no acidente, eu… eu senti que minha vida tinha acabado. - Olhou para Dana e disse, em voz baixa: - Continuo me sentindo assim.
- Lamento muitíssimo - disse Dana. - Detesto ter de pressioná-la, mas sabe se ele tinha algum inimigo, alguém que tivesse um motivo para assassinálo?
Harriet Berk olhou para ela e os olhos encheram-se de lágrimas.
- Assassinar Paul? - perguntou com a voz chocada. Se você o tivesse conhecido, não teria sequer feito esta pergunta.
A conversa seguinte de Dana foi com Steve Rexford, o mordomo que trabalhara para Julie Winthrop. Era um inglês de meia-idade com aparência elegante.