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- Como posso ajudá-la, Srta. Evans?

- Eu queria lhe perguntar sobre Julie Winthrop.

- Pois não, senhorita.

- Quanto tempo trabalhou para ela?

- Quatro anos e nove meses.

- Como era trabalhar para ela, como patroa? Ele sorriu, lembrando-se.

- Ela era uma dama extremamente agradável, linda, em todos os sentidos.

Eu… não pude acreditar quando ouvi a notícia do seu acidente.

- Julie Winthrop tinha algum inimigo? Ele franziu as sobrancelhas.

- Como? Não entendi.

- A Srta. Winthrop estava envolvida com alguém a quem pudesse ter.. dado um fora? Ou alguém que pudesse querer ferila, ou à sua família?

Steve Rexford balançou a cabeça, devagar - A Srta. Julie não era esse tipo de pessoa. Jamais poderia magoar alguém.

Não. Era muito generosa com seu tempo e sua saúde. Todo mundo a adorava.

Dana examinou-o por um momento. Ele parecia sincero.

Todos pareciam sinceros. Que diabo estou fazendo? Sinto-me como Dana Quixote. Sei que não há moinhos de vento.

O encontro seguinte de Dana foi com Morgan Ormond, diretor do Museu de Arte de Georgetown.

- Queria me perguntar sobre Gary Winthrop?

- Sim. Imaginei…

- A morte dele foi uma terrível perda. Nosso país perdeu seu maior patrono das artes.

- Sr Ormond, há muita competição no mundo das artes?

- Competição?

- Acontece às vezes, quando várias pessoas estão interessadas na mesma obra de arte e entram em…

- Claro. Mas nunca com o Sr. Winthrop. Ele tinha uma coleção particular fabulosa, mas ao mesmo tempo era muito generoso com os museus. Não com este, em especial, mas com outros em todo o mundo. Sua ambição era tornar a arte acessível a todos.

- Conheceu algum inimigo que ele…

- Gary Winthrop? Nunca, nunca, nunca.

A última entrevista de Dana foi com Rosalind Lopez, que trabalhara quinze anos como criada pessoal de Madeline Winthrop.

Agora ajudava na administração de uma empresa dela e do marido que fornecia refeições congeladas.

- Obrigada por me receber, Srta. Lopez - disse Dana. Gostaria de conversar sobre Madeline Winthrop.

- Aquela pobre senhora. Ela… ela foi a pessoa mais bondosa que já conheci.

Está começando a parecer um disco arranhado, pensou Dana.

- Foi simplesmente terrível o modo como ela morreu.

- Foi, sim - concordou Dana. - Estava com ela há um longo tempo, não?

- Oh, sim, senhora.

- Sabe de alguma coisa que ela poderia ter feito que talvez tivesse ofendido alguém ou criado algum inimigo da família?

Rosalind Lopez olhou para Dana, surpresa.

- Inimigos? Não, senhora. Todo mundo a adorava.

É um disco arranhado mesmo, decidiu Dana.

Voltando para o escritório, Dana pensava: Acho que estou errada. Apesar das probabilidades, as mortes devem ter sido coincidências.

Dana entrou para falar com Matt Baker. Foi recebida por Abbe Lasmann.

- Oi, Dana.

- Matt está pronto pra mim?

- Sim. Pode entrar Matt Baker ergueu os olhos quando Dana entrou no escritório.

- Como vai Sherlock Holmes hoje?

- É elementar, meu caro Watson. Eu estava errada. Não há matéria alguma ali.

O telefonema de Eileen, mãe de Dana, chegou de modo muito inesperado.

- Dana, querida, tenho a notícia mais emocionante para lhe dar.

- É, mãe?

- Vou me casar

Dana ficou aturdida.

- O quê?!

- É. Fui a Westport, em Connecticut, visitar uma amiga e ela me apresentou a esse homem lindo, adorável.

- Eu… eu estou encantada por você, mãe. É maravilhoso.

- Ele é… ele é tão… - Deu risadinhas. - Não dá para descrevê-lo, mas é um amor e você vai gostar dele.

Dana perguntou, cautelosa:

- Há quanto tempo o conhece?

- O suficiente, querida. Somos perfeitos um para o outro.

Tenho tanta sorte.

- Ele tem um emprego? - perguntou Dana.

- Pare de agir como seu pai. Claro que tem um emprego. É um corretor de seguros muito bem-sucedido. Chama-se Peter Tomkins. Tem uma linda casa em Westport, e estou louca para que você e Kimbal venham aqui conhecê-lo. Vocês vêm?

- Claro que vamos.

- Peter está tão ansioso por conhecer você. Contou a todo mundo que minha filha é muito famosa. Tem certeza que vai poder vir?

- Claro que sim. - Dana não ia ao ar nos fins de semana, portanto não haveria problema algum. - Kemal e eu aguardamos com impaciência a hora de chegar aí.

Quando pegou Kemal na escola, Dana disse-lhe:

- Você vai conhecer sua avó. Agora vamos ser uma familia de verdade, querido.

- Maneiro.

Dana sorriu.

- Maneiro é legal.

Bem cedo, na manhã de sábado, Dana e Kemal pegaram o carro e foram para Connecticut. Aguardavam a viagem para Westport com grande impaciência e expectativa.

- Vai ser maravilhoso para todo mundo - ela tranqüilizou Kemal. - Todos os avós precisam de netos para mimar. Esta é a melhor parte de ter filhos. E você poderá passar algum tempo com eles.

Kemal perguntou, nervoso.

- Você também vai ficar lá?

Dana apertou-lhe a mão.

- Vou, sim.

A casa de Peter Tomkins era um encantador chalé antigo na Blind Brook Road, com um pequeno riacho correndo ao lado.

- Ei, é maneira - disse Kemal.

Dana assanhou-lhe os cabelos.

- Que bom que você gostou. Vamos vir aqui muitas vezes.

A porta da frente do chalé abriu-se e Eileen Evans parou diante dela. Ainda restavam vagos traços de beleza em seu rosto, como indicações do que fora outrora, mas a amargura sobrepusera-se ao passado com ásperas pinceladas. Era Dorian Gray. A beleza da mãe desaparecera e passara para Dana. Ao lado de Eileen, via-se um homem de meia-idade, com uma aparência bonachona e um largo sorriso.

Eileen avançou às pressas e tomou Dana nos braços.

- Dana, querida! E este é Kimbal!

- Mãe…

- Então esta é a famosa Dana Evans, hem? - exclamou Peter Tomkins. - Falei de você a todos os meus clientes. Virou-se para Kemal. - E este é o garoto. - Percebeu o braço que faltava em Kemal. - Ei, você não me disse que ele era aleijado.

Dana sentiu o sangue congelar. Viu o choque na expressão de Kemal.

Peter Tomkins balançou a cabeça, pesaroso.

- Se ele tivesse feito um seguro com a nossa companhia antes disso acontecer, hoje seria um garoto rico. Virou-se em direção à porta. - Entrem.

Vocês devem estar com fome.

- Não mais - disse Dana, categórica. Virou-se para Eileen. - Desculpe, mãe. Kemal e eu vamos voltar para Washington.

- Lamento, Dana. Eu…

- Eu também. Espero que não esteja cometendo um grande erro. Tenha um ótimo casamento.

A mãe de Dana, consternada, observou a filha e Kemal entrarem no carro e afastarem-se.

Peter Tomkins procurou-os com o olhar, espantado.

- Ei, que foi que eu disse?

Eileen Evans respondeu, com um suspiro.

- Nada, Peter. Nada.

Kemal ficou calado no trajeto de volta para casa. Dana lançava-lhe um olhar de vez em quando.

- Sinto muito, querido. Algumas pessoas são simplesmente ignorantes.

- Ele tem razão - disse Kemal, ressentido. - Eu sou um aleijado. - você não é um aleijado - disse Dana, com ferocidade na voz. - você não julga as pessoas por quantos braços ou pernas têm. você as julga pelo que são.

- Ah, é? E então o que sou?

- É um sobrevivente. E sinto orgulho de você. Sabe, o Sr Encantador tinha razão numa coisa… estou morrendo de fome.

Acho que não vai lhe interessar, mas estou vendo um McDonald’s logo ali adiante.

Kemal sorriu.

- Assombroso.

Depois que Kemal foi para a cama, Dana entrou na sala de estar e sentou-se para pensar. Ligou a televisão e pôs-se a surfar pelos canais de notícias.

Todos apresentavam matérias sobre o assassinato de Gary Winthrop. -…esperando que a caminhonete roubada pudesse oferecer algumas pistas para a identidade dos assassinos… -…duas balas de uma Beretta. A polícia está investigando todas as lojas de armas para… -…e o brutal assassinato de Gary Winthrop na exclusiva área noroeste provou que ninguém está…