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Alguma coisa no fundo da mente de Dana a inquietava, sem Parar. Levou horas para adormecer. De manhã, quando acordou, compreendeu o que andara Lhe tirando o sossego. Dinheiro e jóias guardados em lugar acessível, não trancado. Por que os ladrões não os levaram?

Dana levantou-se e fez um bule de café enquanto repassava o que o chefe Bumett dissera.

Têm uma relação das pinturas roubadas? Temos, sim. São todas famosas.

Já mandamos circular uma relação das obras entre os museus, negociantes de arte e colecionadores. No instante em que aparecer uma dessas pinturas, o caso será resolvido.

Os ladrões deviam saber que os quadros não podiam ser vendidos com facilidade, pensou Dana, o que talvez signifique que o roubo tenha sido arquitetado por um rico colecionador que pretende guardá-los para si. Mas por que um homem assim se entregaria nas mãos de dois marginais assassinos?

Na segunda-feira de manhã, quando Kemal se levantou, Dana fez o café e deixou o filho adotivo na escola.

- Tenha um bom dia, querido.

- Até mais, Dana.

Ela esperou Kemal entrar no portão da frente da escola e então seguiu para a delegacía de polícia na Indiana Avenue.

Nevava mais uma vez, e um vento sádico arrancava tudo por onde passava.

O detetive Phoenix Wilson, encarregado do assassinato de Gary Winthrop, era um misantropo cheio de malandragem, com algumas cicatrizes para mostrar como tinha ficado daquele jeito. Ergueu os olhos quando Dana entrou em seu gabinete.

- Nada de entrevistas - grunhiu Wilson. - Quando houver alguma informação nova sobre o assassinato de Winthrop, você saberá na coletiva, junto com todos os demais.

- Não vim falar disso - respondeu Dana.

Ele lançou-lhe um olhar cético.

- Oh, verdade?

- Verdade. Estou interessada nas pinturas roubadas. Imagino que tenha uma relação delas, não?

- E daí?

- Poderia me dar uma cópia?

O detetive Wilson perguntou, desconfiado.

- Para quê? O que tem em mente?

- Gostaria de saber que obras os assassinos levaram. Poderia fazer um segmento ao vivo.

O detetive Wilson examinou Dana por um momento.

- Não é má idéia. Quanto mais publicidade tiverem esses quadros, menos chance os assassinos terão de vendê-los. Levantou-se. - Eles levaram cerca da metade dos quadros e deixaram a outra metade. Acho que eram preguiçosos demais para transportar todos. Boa ajuda é coisa rara atualmente. Vou pegar uma cópia daquele relatório para você.

Voltou em poucos minutos com duas fotocópias. Entregouas a Dana.

- Aqui está a relação das obras roubadas. E aqui, a outra.

Dana olhou-o, sem entender - Que outra?

- Todas as obras de arte que Gary Winthrop possuía, inclusive as que os assassinos deixaram.

- Oh. Obrigada. Fico muito grata mesmo.

Já no corredor, Dana examinou as duas listas. O que via era confuso. Saiu para o ar frígido e dirigiu-se à Christie’s, a famosa casa de leilões. Nevava ainda mais pesado, e as multidões apressavam-se para terminar as compras de Natal e voltar logo aos lares e escritórios aquecidos.

Quando Dana chegou à Christie’s, a gerente logo a reconheceu.

- Vejam só! É uma honra, Srta. Evans. Que podemos fazer por você? Dana explicou:

- Tenho duas relações de quadros aqui. Ficaria grata se alguém pudesse me dizer quais das pinturas são valiosas.

- Mas é claro. Teremos o maiór prazer. Venha por aqui, por favor..

Duas horas depois, Dana achava-se no escritório de Matt Baker - Alguma coisa muito estranha está acontecendo - começou Dana.

- Não voltamos mais uma vez à teoria da conspiração, voltamos?

- Me diga você. - Entregou a relação mais longa dos quadros. - Esta tem todas as obras de arte que Gary Winthrop possuía. Acabei de mandar avaliar os quadros na Christie’s.

Matt Baker passou os olhos pela lista.

- Espere aí, vejo alguns medalhões de peso aqui. Vincent van Gogh, Hals, Matisse, Monet, Picasso, Manet. - Ergueu os olhos. - E aí?

- Agora olhe esta lista - disse Dana. Entregou a Matt a relação mais curta das obras, com os quadros roubados.

Matt leu-as em voz alta.

- Camille Pissaro, Marie Laurencin, Paul Klee, Maurice Utrillo, Henry Leebasque. Então, aonde quer chegar? Dana explicou devagar:

- Muitas das pinturas da relação completa valem mais de dez milhões de dólares, cada uma. - Fez uma pausa. - A maioria das constantes na lista menor, as roubadas, valem duzentos mil ou menos, cada.

Matt Baker piscou os olhos.

- Os arrombadores levaram as pinturas menos valiosas?

- Isso mesmo. - Dana curvou-se à frente. - Matt, se fossem ladrões profissionais também teriam levado o dinheiro vivo e as jóias logo ali, à mão. Devemos supor que alguém os contratou para roubar apenas as pinturas mais valiosas. Mas, segundo essas relações, eles não entendiam patavina de arte.

Então, para que foram contratados realmente? Gary Winthrop não estava armado. Por que o assassinaram?

- Está dizendo que o roubo foi um encobrimento, e o assassinato o verdadeiro motivo da invasão da casa?

- Essa é a única explicação em que posso pensar Matt engoliu em seco.

- Vamos examinar o seguinte. Suponha que Taylor Winthrop tivesse de fato arranjado um inimigo e sido assassinado… Por que alguém ia querer aniquilar toda a família dele?

- Não sei - disse Dana. - É isso que quero descobrir O Dr Armand Deutsch era um dos mais respeitados psiquiatras de Washington, um homem com uma imponente aparência, de seus setenta anos, testa larga e olhos inquisidoramente azuis. Deu uma olhada em Dana quando ela entrou.

- Srta. Evans?

- Sim. Agradeço-lhe por me receber, doutor. Eu precisava vê-lo por um motivo muito importante mesmo.

- E que motivo tão importante é esse?

- O senhor leu sobre as mortes na família Winthrop?

- Claro. Tragédias terríveis. Tantos acidentes.

- E se não foram acidentes? - perguntou Dana.

- Como? Que está dizendo?

- Que há uma possibilidade de que todos tenham sido assassinados.

- Os Winthrops assassinados? Isso parece uma grande apelação, Srta.

Evans. - Forçado demais.

- Mas possível.

- Por que acha que talvez tenham sido assassinados?

- É… é só um palpite - reconheceu Dana.

- Entendo. Um palpite. - O Dr Deutsch ficou ali, examinando-a. - Assisti às suas transmissões de Sarajevo. É uma excelente repórter - Obrigada.

O Dr Deutsch curvou-se à frente, apoiado nos ombros, os olhos azuis fixos nos dela.

- Portanto, não faz muito tempo, você estava em meio a uma terrível guerra. Correto?

- Sim.

- Fazendo reportagens sobre pessoas sendo estupradas, mortas, bebês assassinados…

Dana ouvia, cautelosa.

- Achava-se, é óbvio, sob grande estresse.

- Sim - concordou Dana.

- Há quanto tempo voltou… cinco, seis meses?

- Há três meses - disse Dana.

Ele fez que sim com a cabeça, satisfeito.

- Não muito tempo para se ajustar mais uma vez à vida civil, não é? Deve ter pesadelos com os terríveis assassinatos que testemunhou, e agora sua mente inconsciente imagina…

Dana interrompeu-o.

- Doutor, não sou paranóica. Não tenho prova alguma, mas tenho motivo para acreditar que as mortes dos Winthrops não foram acidentais. Vim vêlo porque esperava que pudesse me ajudar - Ajudá-la? De que maneira?

- Preciso de uma motivação. Que motivação alguém poderia ter para aniquilar uma família inteira?

O Dr Deutsch olhou para Dana e cruzou os dedos.

- Há precedentes, claro, de agressão violenta como essa.