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- Receio que esteja na hora de Cinderela transformar-se numa abóbora, querido.

- E que abóbora! Vou preparar minha carruagem.

Ela baixou os olhos e correu-os pelo corpo dele.

- Acho que já está pronta. Mais uma vez? Quando Dana chegou em casa, a mulher do serviço de acompanhantes esperava impaciente para ir embora.

- Uma e meia da manhã -disse, acusadora.

- Desculpe. Fiquei amarrada. - Dana deu-lhe um dinheiro extra. - Tome um táxi - disse. - É perigoso sair a essa hora. Vejo-a amanhã.

A babá disse:

- Srta. Evans, acho que devia saber..

- Sim?

- Toda noite, Kemal fica me atormentando, querendo saber quando você vai voltar. Essa criança é muito insegura.

- Obrigada. Boa noite.

Dana entrou no quarto de Kemal. Acordado, jogava um jogo no computador - Oi, Dana.

- Você já devia estar dormindo, meu chapa.

- Eu estava esperando você. E aí, se divertiu?

- Foi ótimo, querido, mas senti sua falta.

Kemal desligou o computador - Você vai sair toda noite?

Dana pensou em todas as emoções por trás da pergunta.

- Vou tentar passar mais tempo com você, querido.

O telefonema chegou inesperadamente.

- Dana Evans?

- Sim.

- Aqui é o Dr. Joel Hirschberg. Trabalho na Fundação Infantil.

Dana ouvia, intrigada.

- Sim?

- Elliot Cromwell me disse que você lhe explicou que estava tendo problemas para conseguir um implante de braço para seu filho.

Dana pensou por um momento.

- Sim, acho que disse.

- O Sr Cromwell me contou o histórico. Esta fundação foi criada para ajudar crianças de países arrasados por guerra.

Pelo que ele me disse, seu filho se inclui no programa. Será que não gostaria de trazê-lo aqui para eu examiná-lo? - bem, eu… bem, sim, claro. - Marcaram o encontro para o dia seguinte.

Quando Kemal chegou da escola, Dana disse, animada.

- Amanhã vamos a um médico para conseguir um novo braço para você.

Gostaria disso?

Kemal pensou.

- Não sei. Não vai ser um braço de verdade.

- Vai ser o mais parecido com um braço de verdade que podemos conseguir. Está bem, meu chapa?

- Legal.

O Dr Joel Hirschberg era um homem de seus quarenta e tantos anos, atraente, com a fisionomia séria e uma aparência de tranqüila competência.

Depois que ela e Kemal o cumprimentaram, Dana disse:

- Doutor, quero explicar de saída que teremos de combinar algum tipo de acordo financeiro, porque eu…

O Dr. Hirschberg interrompeu-a.

- Como Lhe disse ao telefone, a Fundação Infantil foi criada para ajudar crianças de países arrasados por guerra. As despesas são por nossa conta.

Dana sentiu uma onda de alívio.

- Isso é maravilhoso. - Ela disse uma prece silenciosa Deus abençoe Elliot Cromwell.

O Dr Hirschberg voltou-se mais uma vez para Kemal.

- Agora, vamos dar uma olhada em você, rapaz.

Meia hora depois, disse a Dana:

- Acho que podemos reconstituir o braço e deixá-lo quase novo. - Tirou um gráfico da parede. - Temos dois tipos de prótese, a mioelétrica, que é a tecnologia mais avançada e sofisticada, e um braço movido por cabo.

Como podem ver aqui o braço mioelétrico é feito de plástico e revestido por uma luva igual a uma mão. - Sorriu para Kemal. - Parece tão boa quanto o original.

Kemal perguntou:

- Ela se mexe?

O Dr. Hirschberg respondeu:

- Kemal, você em algum momento pensa em mover sua mão? Quer dizer, a mão que não está mais aí?

- Penso - disse Kemal.

O Dr Hirschberg curvou-se à frente.

- Bem, agora, sempre que pensar nessa mão fantasma, os músculos que funcionavam ali vão se contrair e gerar automaticamente um sinal mioelétrico. Em outras palavras, você vai poder abrir e fechá-la apenas pensando nisso.

O rosto de Kemal iluminou-se.

- Vou? Como… como é que vou botar e tirar o braço?

- Isso é muito simples mesmo, Kemal. Basta apoiar o braço novo. É um encaixe de sucção. Há uma fina meia de náilon sobre o braço. Você não pode nadar com ele, mas pode fazer simplesmente quase tudo mais. É como um par de sapatos. Você tira à noite e calça de manhã.

- Quanto pesa? - perguntou Dana.

- De 170 a 450 gramas.

Dana voltou-se para Kemal.

- Que acha, desportista? Vamos experimentar? Kemal tentava esconder a emoção.

- Vai parecer de verdade?

O Dr Hirschberg sorriu.

- Vai parecer de verdade.

- Parece maneiro.

- Você se tornou canhoto, portanto vai ter de desaprender isso. Leva tempo, Kemal. Podemos fazê-lo adaptar-se imediatamente, mas você vai precisar de terapia durante algum tempo para aprender a tornar o braço parte de si mesmo e se habituar a controlar os sinais mioelétricos.

Kemal respirou fundo.

- Legal.

Dana abraçou-o com força.

- Vai ser maravilhoso - disse, contendo as lágrimas.

O Dr Hirschberg ficou observando os dois por algum tempo, depois sorriu.

- Vamos ao trabalho.

Quando Dana voltou para o escritório, foi falar com Elliot Cromwell.

- Elliot, acabamos de vir do Dr Hirschberg.

- Que bom. Espero que ele possa ajudar Kemal.

- Parece que pode. Não tenho como Lhe dizer o quanto, muito mesmo, lhe sou grata por isso.

- Dana, não há o que agradecer. Fico feliz por poder ser útil. Só gostaria que me informasse do andamento da coisa.

- Eu informarei. Deus o abençoe.

- Flores! - Olivia entrou no escritório com um imenso buquê de flores.

- Mas que lindas! - exclamou Dana. Abriu o envelope e leu o cartão. Cara Srta. Evans, o latido de nosso amigo é pior que a mordida. Espero que se alegre com as flores. Jack Stone.

Dana examinou o cartão por um momento. Interessante, pensou. Jeff disse que a mordida dele é pior que o latido. Qual dos dois está certo? Ela teve a sensação de que Jack Stone detestava seu emprego na FRA. E seu chefe.

Vou me lembrar disso.

Dana telefonou para Jack Stone na FRA.

- Sr Stone? Só queria lhe agradecer as lindas…

- Você está no escritório?

- Sim. Eu…

- Telefono para você. - Apertou a tecla tone.

Três minutos depois, Jack Stone telefonou.

- Srta. Evans, seria melhor para nós dois que um amigo comum não saiba que estamos conversando. Tentei mudar a atitude dele, mas é um homem obstinado. Se algum dia precisar de mim… quer dizer, se precisar mesmo… vou Lhe dar o número do meu celular particular. Chegará a mim a qualquer hora.

- Obrigada. - Ela anotou o número.

- Srta. Evans…

- Sim.

- Deixe pra lá. Tome cuidado.

Quando Jack Stone chegou naquela manhã, o general Booster esperava-o.

- Jack, alguma coisa me diz que aquela cadela Evans é uma criadora de caso. Quero que comece um arquivo sobre ela. E me mantenha no circuito.

- Deixe que eu cuido disso. - Só que não haveria circuito algum. E ele lhe enviara flores.

Na sala de jantar executiva da estação de televisão, Dana e Jeff conversavam sobre a prótese de Kemal.

- Estou tão emocionada, querido. Isso vai fazer toda a diferença no mundo.

Ele tem sido agressivo porque se sente inferior. O braço vai mudar tudo isso.

- Ele deve estar entusiasmadíssimo - disse Jeff. - Eu pelo menos estou.

- E a maravilha é que a Fundação Infantil vai pagar tudo.

Se pudermos…

O telefone celular de Jeff tocou.

- Com licença, meu bem. - Apertou um botão e falou.

- Alô… Oh… - Deu uma olhada em Dana. - Não… Está tudo bem… Fale…

Dana ficou ali sentada, tentando não ouvir.

- Sim… Entendo… Certo… Provavelmente não é nada sério, mas você devia procurar um médico. Onde está agora? Brasil? Tem muito médico bom aí.