- Nenhum problema. Vi sua transmissão desta noite.
Achei maravilhosa, como sempre, Srta. Evans.
- Obrigada.
A Sra. Daley suspirou.
- Eu só gostaria que as notícias não fossem tão escabrosas. Em que tipo de mundo estamos vivendo?
- É uma boa pergunta. Como está Kemal?
- O pestinha está ótimo. Deixei ele ganhar de mim nas cartas.
Dana sorriu.
- Bom. Obrigada, Sra. Daley. Se quiser chegar mais tarde amanhã…
- Não, não. Chegarei aqui cedo para despachar vocês para a escola e o trabalho.
Dana esperou na porta a Sra. Daley sair. Uma pedra preciosa, pensou, agradecida. O telefone celular tocou. Ela correu para atendê-lo.
- Jeff?
- Feliz Natal, minha adorada. -A voz dele inundou-Lhe o corpo, da cabeça aos pés. - Estou ligando muito tarde?
- Nunca é tarde demais. Fale-me de Rachel.
- Já voltou para casa.
Jeff quer dizer que Rachel voltou para a casa dela.
- Tem uma enfermeira aqui, mas Rachel só vai deixá-la ficar até amanhã.
Dana detestava perguntar - E depois?
- Os resultados do exame indicam que o câncer se espalhou. Rachel não quer que eu vá embora ainda.
- Entendo. Não quero parecer egoísta, mas não há mais alguém aí que…
- Ela não tem ninguém, querida. Está sozinha e em pânico. Não quer mais ninguém aqui. Francamente, não sei o que Rachel faria se eu fosse embora.
E eu não sei o que vou fazer se você ficar.
- Eles querem começar a quimioterapia imediatamente.
- Quanto tempo vai levar?
- Ela vai precisar de um tratamento a cada três semanas durante quatro meses.
Quatro meses.
- Matt me pediu que eu tirasse uma licença sem vencimento. Lamento muito tudo isso, meu bem.
Que queria dizer com aquilo? Lamenta pelo emprego? Lamenta por Rachel? Ou lamenta por nossas vidas estarem se afastando?
- Como posso ser tão egoísta?, perguntou-se Dana. A mulher talvez esteja morrendo.
- Eu também lamento muito - acabou dizendo Dana.
- Espero que tudo acabe bem. - Acabe bem para quem? Para Rachel e Jeff?
Para Jeff e eu?
Quando Jeff desligou o telefone, ergueu os olhos e viu Rachel parada ao lado dele. Usava camisola e robe longos. Estava linda, com uma luz quase translúcida.
- Era Dana?
- Sim - disse Jeff.
Rachel aproximou-se dele.
- Pobre querido. Sei como toda essa história está machucando vocês dois.
Eu… Eu simplesmente não poderia ter passado por tudo isso sem sua ajuda.
Eu precisava de você, Jeff. Preciso de você agora.
Dana chegou ao seu escritório na manhã seguinte e acessou mais uma vez a Internet. Dois textos atraíram-lhe a atenção. Separados eram inócuos, mas juntos sugeriam um mistério.
O primeiro dizia: “Vincent Mancino, ministro do Comércio italiano, renunciou inesperadamente durante as negociações do acordo comercial com Taylor Winthrop, representante dos Estados Unidos. O assistente de Mancino, Ivo Vale, assumiu a pasta.”
O segundo texto dizia: “Taylor Winthrop, conselheiro especial da OTAN em Bruxelas, pediu para ser substituído e voltou para casa em Washington.”
Marcel Falcon havia renunciado, Vicent Mancino havia renunciado, Taylor Winthrop caíra fora inesperadamente. Estariam em conluio? Coincidência?
Interessante.
O primeiro telefonema de Dana foi para Dominick Romano, que trabalhava na Rede Itália-1, em Roma.
- Dana! Que bom ouvir sua voz. Que aconteceu?
- Estou indo para Roma e gostaria de conversar com você.
- Va bene! Sobre o quê?
Dana hesitou.
- Prefiro discutir o assunto quando chegar aí.
- Quando você vem?
- Chegarei aí no sábado.
- Vou lhe oferecer uma pasta suculenta.
O telefonema seguinte foi para Jean Somville, que trabalhava em Bruxelas na sede geral da OTAN, na rue des Chapeliers.
- Jean? Dana Evans.
- Dana! Não a vejo desde Sarajevo. Que tempos aqueles, hem? Nunca mais vai voltar lá?
Ela fez uma careta.
- Se eu puder evitar, não.
- Que posso fazer por você, chérie?
- Vou a Bruxelas nos próximos dias. Vai estar aí?
- Por você? Sem dúvida. Alguma coisa especial acontecendo?
- Não - disse Dana, rápido.
- Certo. Vai só fazer um passeio turístico, hem? - Havia um tom de ceticismo em sua voz.
- Pode-se dizer que é mais oü menos isso - disse Dana.
Ele riu.
- Espero você, ansioso. Au revoir.
- Au revoir.
- Matt Baker quer falar com você.
- Diga a ele que já vou, Olivia.
Mais dois telefonemas e Dana seguiu para o escritório de Matt.
Ele disse, sem preâmbulos:
- Talvez tenhamos sorte com alguma coisa. Eu soube ontem à noite de uma coisa que poderia ser uma pista para o que estamos procurando.
Dana sentiu o coração disparar - É?
- Tem um homem chamado… - ele consultou um pedaço de papel na escrivaninha. -… Dieter Zander, em Düsseldorf.
Esteve envolvido em algum tipo de negócio com Taylor Winthrop.
Dana ouvia atentamente.
- Não sei de toda a história, mas parece que alguma coisa muito ruim aconteceu entre eles. Tiveram um violento desentendimento e Zander jurou que ia matar Winthrop. Acho que talvez valha a pena você verificar - Sem dúvida que vale. Vou pesquisar agora mesmo, Matt.
Conversaram mais alguns minutos e Dana foi embora.
Aonde será que posso encontrar mais sobre isso? De repente, lembrou-se de Jack Stone e da Agência Federal de Pesquisa, FRA. Ele deve saber alguma coisa. Ela achou o número particular que ele lhe dera e telefonou.
A voz dele surgiu na linha.
- Jack Stone.
- Aqui fala Dana Evans.
- Alô, Srta. Evans. Que posso fazer por você?
- Estou tentando descobrir alguma coisa sobre um homem chamado Zander, em Düsseldorf.
- Dieter Zander?
- Sim. Conhece ele?
- Nós sabemos quem é.
Dana registrou o nós.
- Pode me dizer alguma coisa sobre ele?
- Isso tem relação com Taylor Winthrop?
- Sim.
- Taylor Winthrop e Dieter Zander eram sócios numa empresa comercial.
Zander foi mandado para a prisão por manipular algumas ações no mercado e, enquanto estava preso, atearam fogo em sua casa, matando a mulher e os três filhos. Ele culpa Taylor Winthrop pelo que aconteceu.
E Taylor Winthrop e a mulher morreram num incêndio. Dana ouvia, chocada.
- Zander continua na prisão?
- Não. Acho que saiu ano passado. Mais alguma coisa?
- Não. Muito, muito obrigada mesmo.
- Isso fica só entre nós.
- Entendo.
A linha caiu.
Agora, há três possibilidades, pensou Dana.
Dieter Zander em Düsseldorf.
Vincent Mancino em Roma.
Marcel Falcon em Bruxelas.
Vou primeiro a Düsseldorf.
- A Sra. Hudson na linha três, Dana - disse Olivia.
- Obrigada. - Dana pegou o telefone. - Pamela?
- Alô, Dana. Sei que é meio em cima da hora, mas um bom amigo nosso acabou de chegar à cidade e Roger e eu vamos lhe oferecer uma festinha na quarta-feira que vem. Sei que Jeff continua fora da cidade, mas adoraríamos que você viesse.
Está livre?
- Receio que não, Pamela. Estou de partida amanhã para Düsseldorf.
- Oh. Que pena.
- E, Pamela…
- Sim?
- Jeff talvez fique fora por algum tempo.
Houve um silêncio.
- Espero que esteja tudo bem.
- Sim. Tenho certeza que vai ficar - Tinha de ficar.
Na noite seguinte, no Aeroporto Dulles, Dana embarcou num jato da Lufthansa para Düsseldorf. Havia telefonado para Steffan Mueller, que trabalhava na Kabel Network, para dizer-lhe que estava a caminho. Tinha a mente cheia do que Matt Baker lhe dissera. Se Dieter Zander culpou Taylor Winthrop por…
- Guten Abend. Ich heisse Herman Friedrich. Ist es das ersten mal das sie Deutschland besuchen?…