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- O mesmo digo eu, Dominick.

- Que guerra fútil. - Ele balançou a cabeça. - Talvez mais que a maioria das guerras. Bene! Que veio fazer em Roma?

- Vim ver um homem aqui.

- E qual o nome desse homem de sorte?

- Vincent Mancino.

A expressão no rosto de Dominick Romano alterou-se.

- Por que quer vê-lo?

- Talvez não seja nada, mas estou dando seguimento a uma investigação.

Fale-me de Mancino.

Dominick Romano pensou cuidadosamente antes de abrir a boca.

- Mancino foi ministro do Comércio. O contexto em que se fez foi a Máfia.

Carrega um porrete bem grande. De qualquer modo, abandonou um cargo muito importante e ninguém sabe por quê. - Romano olhou para Dana, curioso. - Qual é seu interesse nele?

Dana esquivou-se à pergunta.

- Sei que Mancino negociava um acordo comercial governamental com Taylor Winthrop quando se demitiu.

- Sim. Winthrop concluiu as negociações com outra pessoa.

- Há quanto tempo Taylor Winthrop estava em Roma? Romano pensou por um momento.

- Uns dois meses. Mancino e Winthrop se tornaram bons amigos de copo. - Acrescentou: - Alguma coisa deu errado.

- O quê?

- Quem é que sabe? Circulam todos os tipos de histórias por aqui. Mancino tinha só uma filha, Pia, e ela desapareceu.

A mulher dele sofreu um colapso nervoso.

- Que quer dizer com a filha desapareceu? Foi seqüestrada?

- Não. Ela simplesmente… como posso dizer.. - Romano tentou em vão encontrar a palavra certa -…desapareceu.

Ninguém sabe o que aconteceu com ela. - Deu um suspiro.

- Mas de uma coisa tenho certeza: Pia era uma beldade.

- Onde está a mulher de Mancino?

- Dizem que está numa espécie de sanatório.

- Sabe onde fica?

- Não. E nem você deve querer saber. - O garçom aproximou-se da mesa. - Mas conheço este restaurante - disse Dominick Romano. - Gostaria que eu escolhesse por você?

- Sim.

- Bene. - Virou-se para o garçom. - Prima, pasta fagioli.

Dopo, abbacchio arrosta com polenta.

- Grazie.

A comida estava estupenda e a conversa ficou leve e informal. Mas, quando os dois se levantaram para ir embora, Romano disse:

- Dana, fique longe de Mancino. Ele não é o tipo de homem que se interroga.

- Mas e se…

- Esqueça-o. Em uma palavra… omertà.

- Obrigada, Dominick. Agradeço seu conselho.

Os escritórios de Vincent Mancino ficavam num prédio moderno de sua propriedade na Via Sardegna. Sentado à mesa da recepção no saguão de mármore, um guarda corpulento e musculoso ergueu os olhos quando Dana entrou.

- Buon giorno. Posso aiutarla, signorina?

- Meu nome é Dana Evans. Eu gostaria de falar com o Sr.

Vincent Mancino.

- Tem hora marcada?.

- Não.

- Então, sinto muito.

- Diga-lhe que é sobre Taylor Winthrop.

O guarda examinou-a por um momento, depois pegou um telefone e falou.

Desligou-o e Dana esperou.

Que será que vou descobrir?

O telefone tocou, o guarda atendeu e ouviu por um instante. Virou-se para Dana.

- Segundo andar. Uma pessoa lá vai recebê-la.

- Obrigada.

- Prego.

O escritório de Vincent Mancino era pequeno e simples, em nada semelhante ao que Dana imaginava. Mancino sentava-se atrás de uma mesa caindo aos pedaços. Com sessenta e poucos anos, era um homem de altura mediana com o peito largo, lábios finos, cabelos brancos e nariz adunco. E os olhos mais frios que Dana já vira. Na mesa, a fotografia numa moldura dourada de uma linda adolescente.

Quando Dana entrou no escritório, Mancino perguntou:

- Veio aqui para falar de Taylor Winthrop? - A voz era grossa e rouca.

- Sim. Eu queria falar do…

- Não há nada do que falar, signorina. Ele morreu num incêndio. Está ardendo no inferno e sua mulher e os filhos também estão ardendo no inferno.

- Posso me sentar, Sr Mancino?

Ele ia dizer “não”. Mas acabou dizendo:

- Scusi. Às vezes, quando fico irritado, esqueço as boas maneiras. Prego, si accomodi. Por favor, sente-se.

Dana pegou uma cadeira diante dele.

- O senhor e Taylor Winthrop estavam negociando um acordo comercial entre seus dois governos.

- Sim.

- E ficaram amigos?

- Durante algum tempo, forse.

Dana deu uma olhada na foto em címa da mesa.

- É sua filha?

Mancino não respondeu.

- Ela é linda.

- Sim, ela era muito linda.

Dana olhou para ele, aturdida.

- Ela não está viva? - Viu que ele a examinava, tentando decidir o que dizer Acabou dizendo:

- Viva? Me diga você. - A voz saiu cheia de paixão.

- Levei seu amigo americano, Taylor Winthrop, para minha casa. Ele comungou com a gente. Apresentei-o aos meus amigos. Sabe como ele me retribuiu? Engravidou minha linda filha virgem. Ela só tinha dezesseis anos. Ficou com medo de me contar, porque sabia que eu o mataria, por isso fez… fez um aborto. - Ele cuspiu a palavra como um anátema. Winthrop teve medo da publicidade, por isso não mandou Pia a um médico. Não. Ele… ele a mandou a um açougueiro.

- Os olhos encheram-se de lágrimas. - Um açougueiro que Lhe destruiu o útero. Minha filha de dezesseis anos, signorina… - A voz saiu engasgada. - Taylor Winthrop não apenas destruiu minha filha, ele assassinou meus netos e todos os seus filhos e netos. Aniquilou o futuro da família Mancino. - Sorveu o ar num longo hausto para acalmarse. - Agora ele e sua família pagaram por esse terrível pecado.

Dana ficou sentada ali, muda. -’ - Minha filha está num convento, signorina. Nunca mais a verei. Sim, fiz um acordo com Taylor Winthrop. - Seus frios olhos azuis vararam os de Dana. - Mas foi um acordo com o diabo.

Então já são dois, pensou Dana. E ainda faltava encontrar se com Marcel Falcon.

No vôo da KLM para a Bélgica, Dana percebeu alguém se sentando na poltrona a seu lado. Ergueu os olhos. Era um homem atraente, com a expressão satisfeita, e que pedira obviamente à aeromoça para trocar de lugar.

Olhou para Dana e sorriu.

- Bom dia. Permita que me apresente. Meu nome é David Haynes. - Tinha sotaque de inglês.

- Dana Evans.

Não revelou reconhecimento algum.

- Que lindo dia para voar, não?

- Maravilhoso - concordou Dana.

Ele olhava-a com admiração.

- Vai para Bruxelas a trabalho?

- Trabalho e lazer - Tem amigos lá?

- Alguns.

- Sou muito bem relacionado em Bruxelas.

Espere até Jeff ouvir isso, pensou Dana. E aí a compreensão atingiu-lhe mais uma vez. Ele está com Rachel.

David Haynes examinava-lhe o rosto.

- Você me parece familiar

Dana sorriu.

- Eu tenho esse tipo de rosto.

Quando o avião pousou no aeroporto de Bruxelas e Dana desembarcou, um homem dentro do terminal pegou o telefone celular e informou a chegada.

David Haynes perguntou:

- Tem transporte para o seu hotel?

- Não, mas posso…

- Por favor, me permita. - Levou Dana a uma comprida limusine à espera com um motorista. - Vou deixá-la no hotel - disse a Dana. Deu uma ordem ao chofer e a limusine entrou no tráfego. - É a primeira vez que vem a Bruxelas?

- É.

Estavam diante de uma grande arcada de compras com teto solar - Se pretende fazer alguma compra, eu lhe sugeriria aqui… as Galerias St. Hubert - disse David Haynes.

- Parece linda.

David Haynes disse ao motorista.

- Pare um instante, Charles. - Virou-se para Dana. Aí é onde fica a famosa Fonte do Manneken Fis. - Era uma estátua de bronze de um menino urinando, posta no alto de um nicho em forma de concha de vieira. - É uma das mais famosas estátuas do mundo.

Enquanto eu estava na prisão, minha mulher e filha morreram.

Se eu estivesse livre, poderia tê-las salvado.

David Haynes dizia:

- Se estiver livre esta noite, eu gostaria de…