- Claro. Achei que ele ia me ajudar - Quando contou, o que foi que Marcel Falcon disse? “- Suas palavras exatas foram: “Que o resto de sua família junte-se a ele no inferno.”
Meu Deus. Agora são três, pensou Dana.
Tenho de falar com Marcel Falcon em Paris.
Era impossível não sentir a magia de Paris, mesmo sobrevoando a cidade e preparando-se para aterrissar. Era a cidade da luz, a cidade dos amantes. Não um lugar para se ir sozinha. Paris causava-lhe uma dolorosa saudade de Jeff: Na recepção do Hotel Plaza Athénée, Dana conversava com Jean-Paul Hubert, da Televisão Metro 6.
- Marcel Falcon? Claro. Todo mundo sabe quem ele é.
- O que pode me dizer dele?
- É uma personalidade e tanto. Isso que vocês americanos chamam de magnata.
- Que é que ele faz?
- Falcon tem uma enorme empresa farmacêutica. Há alguns anos, foi acusado de forçar empresas menores a sair do ramo, mas como tinha ligações políticas nada lhe aconteceu. O primeiro-ministro francês inclusive o nomeou embaixador na OTAN.
- Mas ele renunciou - disse Dana. - Por quê?
- Ah, é uma triste história. O filho dele foi atropelado e morto em Bruxelas por um motorista embriagado, e Falcon não conseguiu segurar a barra. A mulher teve um colapso nervoso.
Hoje está num sanatório. - Jean-Paul olhou para ela e disse, sério: - Dana, se está pensando em fazer uma matéria sobre Falcon, tome cuidado com o que vai escrever. Ele tem fama de ser um homem muito vingativo.
Foi necessário um dia para conseguir marcar um encontro com Marcel Falcon.
Quando ela entrou por fim no escritório do ex-embaixador, ele disse:
- Concordei em recebê-la porque sou um admirador seu, mademoiselle.
Suas transmissões da zona de guerra foram muito corajosas.
- Obrigada.
Marcel Falcon era um homem de aparência imponente, corpulento, com traços fortes e olhos azuis penetrantes.
- Por favor, sente-se. O que posso fazer por você?
- Eu queria lhe perguntar sobre seu filho.
- Ah, sim - disse, o olhar desolado. - Gabriel era um garoto maravilhoso.
- O homem que o atropelou…
- O chofer
Dana olhou para ele, estupefata.
Pense com cuidado antes de responder. Algum dia você disse a Marcel Falcon que foi Taylor Winthrop o responsável pela morte do filho dele?
- Claro. Achei que ele ia me ajudar.
- Quando lhe contou, o que foi que Marcel Falcon disse?
- Suas palavras exatas foram: “Que o resto de sua famíliajunte-se a ele no inferno.”
E agora Marcel Falcon agia como se não soubesse da verdade.
- Sr Falcon, quando serviu na OTAN, Taylor Winthrop também estava lá. - Observava o rosto de Falcon, à procura da mínima mudança de expressão.
Não viu nenhuma.
- Sim. Nós nos conhecemos - disse, num tom casual.
Só isso? Dana se perguntava. Sim. Nós nos conhecemos. Que está escondendo?
- Sr Falcon, eu gostaria de falar com sua mulher se…
- Lamento, mas ela viajou de férias.
A mulher teve um colapso nervoso. Hoje está num sanatório em Cannes.
Ou Marcel Falcon se achava num estado de completa autonegação ou professava total ignorância por um motivo mais sinistro.
Dana telefonou para Matt do quarto no Plaza Athénée.
- Dana, quando é que você volta?
- Só tenho mais uma pista a desvendar, Matt. O chofer de Taylor Winthrop me disse que ele falou de algum plano secreto russo que não queria que fosse interrompido. Vou ver se consigo descobrir do que ele falava. Quero conversar com alguns dos sócios dele em Moscou.
- Está bem. Mas Cromwell quer você de volta ao estúdio o mais rápido possível. Tim Drew é nosso correspondente em Moscou. Vou pedir que a receba. Ele pode ser muito útil.
- Obrigada. Não devo ficar mais que um ou dois dias em Moscou.
- Dana?
- Sim?
- Deixe pra lá. Até logo.
Obrigada. Não devo ficar mais que um ou dois dias em Moscou.
Dana?
Sim?
Deixe pra lá. Até logo.
Fim da fita.
Dana telefonou para casa.
- Boa noite, Sra. Daley.. ou melhor, boa tarde.
- Srta. Evans! Que maravilha ter notícias suas.
- Como está indo tudo?
- Simplesmente esplêndido.
- Como vai Kemal? Algum problema aí?
- Nenhum. Sem dúvida, ele sente sua falta.
- Também sinto falta dele. Pode chamá-lo?
- Ele está tirando um cochilo. Quer que o acorde? Dana se surpreendeu:
- Tirando um cochilo? No outro dia quando telefonei, ele estava tirando um cochilo.
- Pois é. O rapazinho chegou em casa do colégio se sentindo tão cansado que achei que um cochilo lhe faria bem.
- Entendo… Bem, diga a ele que o amo. Telefonarei amanhã. Diga também que vou levar um urso da Rússia para ele.
- Um urso? Bem! Ele vai ficar doido de empolgação.
Depois telefonou para Roger Hudson.
- Roger, detesto abusar, mas preciso de um favor - Se eu puder fazer alguma coisa…
- Estou de partida para Moscou e quero conversar com Edward Hardy, o embaixador americano lá. Imaginei que você talvez o conhecesse.
- Na verdade, conheço.
- Estou em Paris. Se pudesse passar uma carta de apresentação por fax, eu ficaria muito grata.
- Posso fazer melhor que isso. Vou telefonar para ele e dizer que espere você.
- Obrigada, Roger. Fico muito grata.
Era véspera do Ano-Novo. Foi um choque lembrar-se que aquele deveria ser o dia do seu casamento. Logo, disse Dana a si mesma. Logo. Pôs o casaco e saiu.
O porteiro perguntou:
- Táxi, Srta. Evans?
- Não, obrigada. - Não tinha para onde ir. Jean-Paul Hubert viajara para visitar a família. Esta não é uma cidade para se ficar sozinha, decidiu Dana.
Pôs-se a andar, tentando não pensar em Jeff e Rachel. Tentando simplesmente não pensar. Passou por uma igrejinha aberta e, num impulso, entrou. O interior abobadado proporcio ou-Lhe uma sensação de paz.
Sentou-se num banco e fez uma oração silenciosa.
À meia-noite, enquanto Dana andava pelas ruas, Paris explodia numa cacofonia de barulho e confetes. Imaginava o que fazia Jeff. Ele e Rachel estariam fazendo amor? Ele não telefonara.
Como pôde esquecer que aquela noite era tão especial? No quarto de hotel, perto da cômoda, o telefone celular de Dana, que caíra da bolsa, tocava.
Quando voltou para o Plaza Athénée, eram três da manhã.
Entrou no quarto, despiu-se e enfiou-se na cama. Primeiro o pai, agora Jeff.
O abandono entremeava-se por sua vida como um fio escuro numa tapeçaria. Não vou sentir pena de mim mesma, jurou. E pensar que esta ia ser a noite do meu casamento. Oh, Jeff, por que não me telefona?
Chorou até adormecer.
O vôo para Moscou na Sabena Airlines levou três hotas e meia.
Dana reparou que a maioria dos passageiros usava roupas quentes, e as prateleiras de bagagem estavam cheias de casacos de pele, chapéus e cachecóis.
Eu devia ter me agasalhado melhor, pensou. Bem, só vou ficar em Moscou dois ou três dias.
Não parava de pensar nas palavras de Antonio Persico: Winthrop parecia um doido. Repetia sem parar ao telefone: “O plano russo tem de continuar.
Já fomos longe demais para deixar que alguma coisa o detenha agora.”
Em que plano importante Wínthrop trabalhava? Que peças se haviam encaixado? E logo depois o presidente o nomeou embaixador em Moscou.
Quanto mais informação obtenho, menos sentido faz, decidiu Dana.
Para sua surpresa, o Aeroporto Internacional Sheremetyevo estava repleto de turístas. Por que uma pessoa sã visita a Rússia no inverno?, perguntavase.
Ao chegar à esteira das bagagens, viu um homem parado ali perto que a olhava de esguelha. Sentiu o coração saltar.
Eles sabiam que eu vinha para cá, pensou. Como poderiam ter sabido?
O homem aproximava-se dela.