- Não estou falando disso. Refiro-me a alguma coisa diferente. Algo muito complicado… em que todas as peças tinhan que se encaixar Tim Drew pensou por um momento.
- Nada me vem à cabeça.
- Conhece alguém aqui com quem mantinha muito contato?
- Acho que algumas de suas contrapartes russas. Você podería falar com eles.
- Certo - disse Dana. - Vou falar O garçom trouxe a conta. Tim Drew passou os olhos pelas comandas e ergueu·os para Dana.
- Isso é típico. Há três cobranças a mais separadas na conta. E não adianta se dar o trabalho de pedir que as especifiquem. - Ele pagou a conta.
Quando já estavam na rua, Tim Drew perguntou a Dana;
- Você anda armada?
Ela lançou-lhe um olhar de surpresa.
- Claro que não. Por quê?
- Isto é Moscou. Nunca se sabe. - Teve uma idéia. - Já sei. Vamos dar uma parada no caminho.
Os dois entraram num táxi e Tim Drew deu um endereço ao motorista.
Cinco minutos depois, pararam diante de uma loja de armas e desceram do táxi.
Dana olhou o interior da loja e disse:
- Não vou andar por aí com uma arma.
- Eu sei. Só entre um instante comigo. - Os balcões da loja estavam cheios de todo tipo de arma imaginável.
Ela olhou em volta.
- Qualquer pessoa pode entrar e comprar uma arma aqui?
- Só precisam do dinheiro - disse Tim Drew O homem atrás do balcão resmungou alguma coisa em russo para Tim, que lhe disse o que queria.
- Da. - Enfiou a mão debaixo do balcão e retirou-a com um objeto pequeno, preto e cilíndrico.
- Para que serve isso? - perguntou Dana.
- Épara você. Um aerossol de pimenta. - Pegou-o. Basta apertar este botão aqui em cima, que os bandidos vão sentir dores demais para incomodá-la.
- Não sei se… - disse.
- Confie em mim. Guarde-o. - Entregou-lhe o objeto, pagou e os dois saíram. - Gostaria de conhecer uma boate de Moscou? - perguntou Tim Drew - Parece interessante.
- Ótimo. Vamos.
A Boate Vôo Noturno na rua Tverskaya era suntuosa, com uma decoração trabalhada, e estava cheia de russos bem-vestidos jantando, bebendo e dançando.
- Não dá a impressão de haver algum problema econômico aqui - comentou Dana.
- Não, porque eles mantêm os mendigos na rua.
Às duas da manhã, Dana voltou para o hotel, exausta. Tinha sido um dia muito longo. Sentada a uma mesa no saguão, uma mulher registrava os movimentos dos hóspedes.
Quando Dana entrou, olhou pela janela. Viu uma cena de cartão-postal de neve suave caindo à luz do luar.
Amanhã, pensou, decidida, voü saber por que vim aqui.
O barulho do jato acima foi tão alto que pareceu que o avião poderia atingir o prédio. O homem levantou-se de um salto da escrivaninha, pegou um binóculo e foi até a janela. A cauda da aeronave que se afastava rápido descia como se preparando para pousar no pequeno aeroporto a um quilômetro dali. Tudo na paisagem, a não ser as pistas de decolagem, estava coberto de neve até onde a vista alcançava. Era inverno e na Sibéria.
- Pois bem - disse ele ao assistente -, os chineses são os primeiros a chegar - O comentário não pedia resposta.
- Eu soube que nosso amigo, Ling Wong, não vai voltar.
Quando retornou do nosso último encontro, de mãos vazias, não teve uma feliz volta ao lar. Muito triste. Era um homem decente.
Nesse momento, um segundo jato rugiu acima. Ele não reconheceu a origem. Depois que aterrissou, ele focou as poderosas lunetas do binóculo nos homens saindo da cabine e descendo para a pista. Alguns deles não fizeram o mínimo esforço para ocultar as pistolas automáticas que levavam.
- Chegaram os palestinos.
Outro jato bramiu acima. Ainda faltam doze, ele pensou.
Quando começarmos as negociações amanhã, será o maior leilão até agora.
Voltou-se mais uma vez para o assistente.
- Escreva um memorando.
MEMORANDO CONFIDENCIAL PARA TODO O PESSOAL DA
OPERAÇÃO (DESTRUIR APÓS RECEBIMENTO)
CONTINUAR ESTREITA VIGILÂNCIA DO OBJETO ALVO.
INFORMAR ATIVIDADES E FICAR A POSTOS PARA POSSÍVEL
ELIMINAÇÃO.
Ao acordar, Dana telefonou para Tim Drew - Soube mais alguma coisa do embaixador Fiardy? Perguntou ele.
- Não. Acho que o ofendi. Tim, preciso falar com você.
- Está bem. Tome um táxi e me encontre no Clube Boyrsky, na rua Treatilny Proyez, cento e quarenta.
- Aonde? Eu nunca…
- O motorista sabe. Pegue um carro velho.
- Certo.
Dana saiu do hotel ao encontro de um vento gelado e uivante. Sentiu-se feliz por estar usando o novo casaco de lã vermelha. Uma placa com mostrador num prédio do outro lado da rua informou-lhe que fazia -29 graus. Meu Deus, pensou. Em Fahrenheit, isso é mais ou menos vinte graus abaixo de zero.
Viu um reluzente táxi novinho em folha parado diante do hotel. Ela recuou e esperou até um passageiro entrar nele. O táxi seguinte parecia velho. Ela entrou. O motorista lançoulhe um olhar interrogativo pelo espelho retrovisor Dana disse, devagar:
- Quero ir para o número cento e quarenta da rua Treat…
- Hesitou. -…rilny.. - Respirou fundo. -…Proyez…
O motorista retrucou, impaciente:
- Quer ir ao Clube Boyrsky?
- Da.
O táxi arrancou. Passaram por avenidas com tráfego intenso e pedestres descuidados atravessando apressados as ruas geladas. A cidade parecia sobreposta por uma camada de pátina fosca e cinzenta. E não é só o tempo, pensou Dana.
O Clube Boyrsky acabou se revelando um ambiente moderno e confortável, com poltronas e sofás de couro. Tim Drew a esperava numa poltrona junto à janela.
- Vejo que encontrou logo.
- O motorista falava inglês - disse, sentando-se.
- Você teve sorte. Alguns deles não falam nem russo, pois vêm de muitas províncias distantes e diferentes. É impressionante que este país consiga sequer funcionar. Me faz lembrar de um dinossauro agonizante. Sabe como são grandes as dimensões da Rússia?
- Não exatamente.
- É duas vezes maior que os Estados Unidos. Tem treze fusos horários e fronteiras com quatorze países. Quatorze países.
- É impressionante - disse Dana. -Tim, quero falar com alguns russos que faziam transações com Taylor Winthrop.
- Isso inclui quase todo mundo no governo russo.
- Eu sei. Mas deve haver alguns russos de quem ele era mais próximo que outros. O presidente…
- Talvez alguém num escalão mais baixo - disse Tim Drew, indiferente. - Eu diria que, de todas as pessoas com quem ele lidava, provavelmente era mais íntimo de Sasha Shdanoff.
- Quem é Sasha Shdanoff?
- O comissário do Departamento Internacional de Desenvolvimento Econômico. Acho que Winthrop convivia com ele tanto em termos sociais quanto oficiais. - Olhou atentamente para Dana. - O que está procurando, Dana?
- Não sei ao certo - respondeu ela, honestamente. Não sei ao certo.
O Departamento Internacional de Desenvolvimento Econômico era um enorme prédio de tijolos vermelhos na rua Ozernaya e ocupava um quarteírão inteiro. Dentro da principal entrada, havia dois policiais russos uniformizados junto à porta e um terceiro sentado atrás de uma escrivaninha.
Dana dirigiu-se até a mesa. O guarda ergueu os olhos.
- Dobry dyen - disse ela.
- Zdrastaruytye. Ne…
Dana interrompeu-o.
- Desculpe-me. Vim aqui falar com o comissário Shdanoff.
Sou Dana Evans. Trabalho para a Rede Washington Tribune.
O guarda conferiu uma folha de papel diante dele e balançou a cabeça.
- Tem hora marcada?
- Não, mas…
- Então terá de marcar uma hora. É americana?
- Sim.
O guarda folheou alguns formulários em sua mesa e entregou-lhe um.
- Preencha isto, por favor - Pois não. Seria possível ver o comissário ainda esta tarde? Ele piscou os olhos.
- Ya ne ponimayu. Vocês americanos estão sempre apressados. Em que hotel está?