Dana lançou-lhe um olhar, aturdida.
- Não? Então qual é?
Shdanoff escolheu cuidadosamente suas palavras seguintes.
- Já ouviu falar de Krasnoyarsk-26? Dana balançou a cabeça.
- Não.
- Não me surpreende. Não existe em nenhum mapa, e as pessoas que vivem lá também não existem oficialmente.
- De que está falando?
- Você vai ver. Amanhã a levarei lá. Vai me encontrar no mesmo café ao meio-dia. - pôs a mão no braço de Dana e apertou-o com força. - Não deve contar isso a ninguém. - Ele a machucava. - Entendeu?
- Sim.
- Orobopeno. Combinado.
Às doze horas da manhã seguinte, Dana chegou ao pequeno café no Parque VDNKh. Entrou e sentou-se no mesmo reservado, à espera. Meia hora depois, Shdanoff ainda não havia chegado. Que aconteceu agora?, perguntou-se, ansiosa.
- Dobry dyen. - Sasha Shdanoff tinha parado diante do reservado. - Venha.
Precisamos fazer compras.
- Compras? - perguntou ela, incrédula.
- Venha.
Dana seguiu-o dentro do parque.
- Compras para quê?
- Para você.
- Eu não preciso…
Shdanoff fez sinal para um táxi e seguiram num tenso silêncio até um shopping. Desceram e Shdanoff pagou ao motorista.
- Aqui - disse Sasha Shdanoff:
Entraram no prédio e passaram por umas dez lojas. Quando chegaram diante de uma com a vitrine cheia de lingerie sexy, provocativa, Shdanoff parou.
- Aqui. - Ele levou Dana até o interior Dana olhou em volta acessórios obscenos.
- Que estamos fazendo aqui?
- Você vai trocar de roupa.
Uma vendedora aproximou-se deles e houve um rápido diálogo em russo.
A vendedora fez que sim com a cabeça e alguns minutos depois voltou com uma minissaia rosa-shocking e uma blusa listrada, bem justa e curta.
Shdanoff aprovou com um movimento da cabeça.
- Da. - Virou-se para Dana. - Ponha essas roupas.
Dana recuou.
- Não! Não vou vestir isso. Que acha…
- Você precisa. - A voz era firme.
- Por quê?
- Você verá.
Dana pensou: Esse homem deve ser algum tipo de maníaco sexual. Por que diabos tenho de vestir isso?
Shdanoff observava-a.
- Então?
Ela respirou fundo.
- Está bem. - Foi até uma cabine minúscula e pôs a roupa. Quando saiu, deu uma olhada num espelho e suspirou. Pareço uma prostituta.
- Ainda não - informou Shdanoff. - Vamos ter de pôr alguma maquilagem carregada em você.
- Comissário…
- Venha.
As roupas de Dana foram postas numa sacola de papel. Ela vestiu o casaco de lã, tentando esconder o traje o máximo possível. Seguiram mais uma vez pelo shopping. Os passantes lançavam olhares a Dana, e homens davam-lhe sorrisos insinuantes.
Um operário piscou os olhos para ela. Sentia-se degradada.
- Aqui!
Pararam diante de um salão de beleza. Sasha Shdanoff entrou. Dana hesitou, seguindo-o depois. Ele foi até o balcão.
- Ano tyomnyj - disse.
A esteticista mostrou-lhe um tubo de batom vermelho vivo e um estojo de ruge.
- Savirshehnstva - disse Shdanoff. Voltou-se para Dana.
- Ponha em você. Pesado.
Ela chegara ao limite.
- Não, obrigada. Não sei que tipo de jogo está armando, comissário, mas não vou participar dele. Já…
Shdanoff varou-lhe os olhos com os dele.
- Asseguro-lhe que não é um jogo, Srta. Evans. Krasnoyarsk-26 é uma cidade fechada. Sou um dos poucos que têm acesso a ela. Permitem a pouquíssimos de nós levarmos prostitutas durante o dia. É o único meio possível que tenho para fazê-la passar pelos guardas. Isso e uma excelente vodca como pagamento por sua entrada. Está interessada, ou não?
Cidade fechada? Guardas? Até onde iremos com isso?
- Estou - disse ela, relutantemente decidida. - Estou interessada.
VinTE E DOIS Um jato militar esperava-os numa área privada do Aeroporto Sheremetyevo II. Dana ficou surpresa ao constatar que ela e Shdanoff eram os únicos passageiros.
- Para onde estamos indo? - perguntou.
Sasha Shdanoff deu-lhe um sorriso sinistro.
- Para a Sibéria.
Sibéria. Dana sentiu um nó no estômago.
- Oh.
O vôo levou três horas. Ela tentou puxar conversa, esperando ter uma idéia do que ia enfrentar, mas Shdanoff ficou sentado na poltrona calado e com a expressão carrancuda.
Quando o avião pousou no pequeno aeroporto que lhe pareceu ficar no meio de lugar nenhum, um sedã Lada 2110 esperava-os no macadame congelado. Dana olhou em volta para a paisagem mais desolada que já tinha visto.
- Este lugar para onde vamos fica longe daqui? - E será que vou voltar?
- É uma distância curta. Precisamos ter muito cuidado.
Ter muito cuidado com o quê?
Um curto trajeto aos solavancos levou-os ao que pareceu uma pequena estação de trem. Na plataforma havia uns seis guardas uniformizados e com grossos agasalhos.
Quando Dana e Shdanoff se aproximaram, os guardas lançaram olhares amorosos e impertinentes ao traje indecoroso de Dana. Um deles apontou para ela e deu um sorrisinho afetado.
- Ti vezuchi!
- Kakaya krasivaya zJienshina!
Shdanoff deu um sorriso aberto e disse alguma coisa em russo que fez os guardas rirem.
Não quero saber, ela decidiu.
Shdanoff embarcou no trem e Dana seguiu-o, mais confusa que nunca.
Para onde poderia ir um trem no meio daquela tundra deserta e congelada?
Dentro do vagão a temperatura era enregelante.
A locomotiva pôs-se em movimento e, passados alguns minutos, entrou num túnel iluminado que varava o coração de uma montanha. Dana olhou a rocha dos dois lados, a centímetros de distância, e teve a sensação de que mergulhava em algum sonho misterioso, surrealista.
Virou-se para Shdanoff.
- Poderia, por favor, me dizer para onde estamos indo? O trem deu um tranco e parou.
- Já chegamos.
Desembarcaram e seguiram em direção a um prédio de formas estranhas a uns cem metros adiante. Diante do prédio, erguiam-se duas cercas de arame farpado proibitivas ao olhar, patrulhadas por soldados armados até os dentes. Quando Dana e Sasha Shdanoff se aproximaram dos portões, os soldados os saudaram.
Shdanoff sussurrou:
- Ponha o braço no meu, me beije e ria.
Jeff jamais acreditará nisso, pensou ela. Envolveu o braço no de Shdanoff, beijou-o na face e forçou um sorriso falso.
Os portões abriram-se e os dois cruzaram a entrada de braços dados. Os soldados lançaram olhares invejosos ao comissário Shdanoff entrando com sua bela prostituta. Para espanto de Dana, o prédio onde haviam entrado ficava acima de uma estação de elevador que descia para o subsolo.
Entraram no compartimento do elevador e a porta fechou-se com estrépito.
Ao descerem, Dana perguntou:
- Para onde estamos indo?
- Descendo por dentro da montanha. - O elevador ganhava velocidade.
- Qual a distância para baixo da montanha?
- Cento e oitenta metros.
Dana olhou para ele, incrédula.
- Vamos descer cento e oitenta metros para baixo de uma montanha? Por quê? Que tem lá?
- Você vai ver Minutos depois, o elevador começou a diminuir a velocidade, parou e as portas abriram-se automaticamente.
- Chegamos, Srta. Evans - disse o comissário Shdanoff.
Mas que lugar é este?
Os dois saíram do elevador e não haviam andado mais de seis metros quando Dana parou em choque. Viu-se seguindo pela rua de uma cidade moderna, com lojas, restaurantes e teatros. Homens e mulheres andavam pelas calçadas e, de repente, ela percebeu que ninguém usava sobretudos.
Começou a sentir-se aquecida. Virou-se para Shdanoff:
- Estamos debaixo de uma montanha?
- Isso mesmo.
- Mas… - Ela admirou a incrível paisagem que se estendía diante de si. - Não entendo. Que lugar é este?
- Eu lhe disse. Krasnoyarsk-26.
- É um daqueles abrigos antiaéreos?