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- Ao contrário - disse Shdanoff, enigmático.

Dana olhou mais uma vez os prédios modernos em volta.

- Comissário, qual o sentido deste lugar? Ele lançou-lhe um olhar longo, intenso.

- Você ficaria em melhor situação se não soubesse o que estou prestes a lhe dizer Dana teve uma vívida sensação de alarme.

- Conhece alguma coisa sobre plutônio?

- Não muito.

- Plutônio é o combustível de uma ogiva nuclear, o ingrediente básico nas armas atômicas. O único propósito da existência de Krasnoyarsk-26 é fazer plutônio. Cem mil cientistas e técnicos vivem e trabalham aqui, Srta.

Evans. No início, recebiam o que existia de mais excelente em comida, roupas e moradia. Mas todos estão aqui com uma restrição.

- Sim?

- Têm de concordar em jamais deixar Krasnoyarsk-26.

- Quer dizer…

- Não podem sair. Para sempre. São obrigados a desligarse completamente do resto do mundo exterior Dana olhou para as pessoas andando nas ruas aquecidas e pensou consigo mesma.

Isso não pode ser real.

- Onde eles fazem o plutônio?

- Vou lhe mostrar - Um bonde elétrico aproximava-se.

- Venha.

Shdanoff entrou no bonde e Dana seguiu-o. Percorreram a movimentada rua principal e, no fim dela, entraram num labirinto de túneis maliluminados.

Ela pensou no incrível trabalho e em todos os anos que deviam ter sido consumídos na construção daquela cidade. Em alguns minutos, as luzes começaram a ficar mais fortes e o bonde parou. Estavam diante da entrada de um enorme laboratório intensamente iluminado.

- Saltamos aqui.

Dana seguiu Shdanoff e olhou em volta, assombrada. Na imensa gruta, alojavam-se três reatores gigantescos. Dois estavam desativados, mas o terceiro em operação e cercado por un ocupado quadro de técnicos.

Shdanoff disse:

- As máquinas nesta sala podem produzir plutônio para fazer uma bomba atômica a cada três dias. - Indicou uma en funcionamento. - Aquele reator continua produzindo meia tonelada de plutônio por ano, o suficiente para fazer uma centena de bombas. O plutônio armazenado na sala seguinte vale o resgate de um czar.

- Comissário, se eles têm todo esse plutônio, por que continuam fazendo mais? - perguntou Dana.

- É o que vocês americanos chamam de Ardil, um dilema insolúvel - disse Shdanoff, com um sorriso forçado. Não podem desligar o reator porque o plutônio fornece a energia para a cidade em cima. Se interromperem o funcionamento dele, não haverá mais luz nem calor, e as pessoas lá em cima logo morrerão congeladas.

- Isso é terrível - disse Dana. - Se…

- Espere. O que tenho a lhe dizer é pior ainda. Devido à situação da economia russa, não há mais dinheiro para pagar os cientistas e técnicos que trabalham aqui. Eles não receben há meses. As lindas casas que ganharam anos atrás estão se deteriorando, e não há dinheiro para consertálas.

Todos os luxos desapareceram. As pessoas aqui começaram a ficar desesperadas. Entende o paradoxo? A quantidade de plutônio estocada aqui vale indizíveis bilhões de dólares, mas as pessoas que o criaram nada mais têm e estão começando a ficar famintas.

- Acha que eles poderiam vender parte do plutônio a outros países? -perguntou Dana, devagar Ele fez que sim com a cabeça.

- Antes de Taylor Winthrop se tornar embaixador na Rússia, amigos lhe contaram sobre Krasnoyarsk-26 e perguntaram se ele queria fazer um acordo. Após conversar com alguns cientistas aqui, que se sentiam traídos por seu governo, Winthrop ficou doido para fazer um acordo. Mas era complicado, e ele tinha de esperar até que todas as peças se encaixassem.

Ele parecia um doido. Disse alguma coisa como: “Todas as peças se encaixaram.”

Dana respirava com dificuldade.

- Logo depois disso, Taylor Winthrop tornou-se embaixador americano na URSS. Ele e seu sócio colaboraram com alguns dos cientistas rebeldes e começaram a contrabandear plutônio para uma dezena de países, entre eles Líbia, Irã, Iraque, Paquistão, Coréia do Norte e China.

Afinal todas as peças haviam-se encaixado! Ser embaixador era importante para Taylor Winthrop só porque ele tinha de ficar perto para controlar a operação.

O comissário continuava.

- Era fácil, Srta. Evans, porque um volume de plutônio do tamanho de uma bola de tênis é suficiente para fazer uma bomba atômica. Taylor Winthrop e seu parceiro estavam fazendo bilhões de dólares. Administravam tudo com muita inteligência e competência, ninguém suspeitava de nada. - Ele parecia ressentido. - A Rússia se tornou uma loja de guloseimas, só que em vez de comprar guloseimas, podem-se comprar bombas atômicas, tanques, aviões de caça e sistemas de mísseis.

Dana tentava digerir tudo que ouvia.

- Por que Taylor Winthrop foi assassinado?

- Ele ficou ganancioso e decidiu criar um negócio só para si. Quando o sócio descobriu o que estava fazendo, mandou assassiná-lo.

- Mas… mas por que assassinar toda a família?

- Depois que Taylor Winthrop e a mulher morreram no incêndio, o filho Paul tentou chantagear o sócio, por isso ele mandou matá-lo. E depois decidiu não correr risco algum de que os outros filhos viessem a saber do negócio do plutônio, portanto mandou assassinar todos. Fez de um jeito que as mortes parecessem acidentes.

Dana olhou para ele, horrorizada.

- Quem era o sócio de Taylor Winthrop? O comissário Shdanoff balançou a cabeça.

- Já sabe bastante por ora, Srta. Evans. Eu lhe direi o nome quando me tirar da Rússia. - Conferiu as horas em seu relógio de pulso. - Agora precisamos partir Dana voltou-se para dar uma última olhada no reator que não podia ser desligado, a expelir plutônio letal 24 horas por dia.

- O governo dos Estados Unidos sabe da existência de Krasnoyarsk-26?

Shdanoff fez que sim com a cabeça.

- Oh, sim. Têm pavor disso. O Departamento de Estado vem trabalhando freneticamente conosco para transformar esses reatores em alguma coisa menos letal. Enquanto isso…

Deu de ombros.

No elevador, o comissário Shdanoff perguntou:

- Conhece a Agência Federal de Pesquisas, FRA? Dana olhou para ele e respondeu, cautelosa:

- Conheço.

- Eles também estão envolvidos nisso.

- Como? - E nesse momento a compreensão atingiu-a.

Por isso é que o general Booster não parou de me avisar para que me afastasse.

Chegaram à superfície e saíram do elevador. Shdanoff disse:

- Tenho um apartamento aqui. Vamos para lá.

Quando se puseram a seguir pela rua, Dana reparou numa mulher vestida igual a ela agarrada aos braços de um homem.

- Aquela mulher.. - começou a dizer - Já lhe expliquei. Alguns homens têm permissão para usar prostitutas durante o dia. Mas à noite elas têm de ir para um alojamento vigiado. Não podem saber nada do que se passa no subsolo.

Ao seguirem pela rua, Dana percebeu que a maioria das vitrines das lojas estava vazia.

Os luxos desapareceram. O Estado não tem mais dinheiro para pagar os cientistas e técnicos que trabalham aqui. Eles não recebem há meses. Olhou para um prédio alto na esquina e viu que em vez de um relógio tinha um grande instrumento instalado no topo.

- Que é aquilo? - perguntou.

- Um medidor Geiger, um alarme para o caso de ocorrer alguma coisa errada com os reatores. - Dobraram numa rua lateral cheia de prédios de apartamentos. - Meu apartamento é aqui. Precisamos ficar lá por algum tempo para que ninguém desconfie. A FSB investiga todo mundo.

- A FSB?

- É. Era chamada de KGB. Eles mudaram o nome, mas só isso.

O apartamento era grande e luxuoso antes, mas havia se tornado decadente.

Tinha as cortinas rasgadas, os tapetes gastos e a mobília precisava de restauração.

Dana sentou-se, pensando no que Sasha Shdanoff Lhe disse sobre a FRA.

E Jeff dissera: A agência é uma fachada. A verdadeira função da FRA é espionar os serviços secretos estrangeiros.