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- Que é udang goreng?

Rachel olhou para Dana.

- É camarão com leite de coco. Muito bem feito aqui. Voltou-se para Jeff.

- A noite em que eu e você decidimos que queríamos…

- Que é iaksa?

Rachel respondeu, paciente:

- Sopa apimentada com talharim. - Voltou-se mais uma vez para Jeff. - Você disse que queria…

- E poh pia?

Rachel desviou o olhar para Dana e disse, com calma.

- É refogado de jicama frita com legumes.

- É mesmo? - Dana decidiu não perguntar o que queria dizer jicama.

Mas no decorrer da refeição ela surpreendeu-se, porque, embora a contragosto, começava a gostar de Rachel Stevens. A ex mulher de Jeff tinha uma personalidade atraente e encantadora. Ao contrário das maiores beldades de categoria mundial, Rachel parecia inteiramente desligada de sua linda aparência, além de não exibir ego inflado algum. Inteligente e articulada, quando fez o pedido do almoço ao garçom em tailandês, não deixou transparecer nenhuma insinuação de superioridade.

Dana se perguntava: Como Jeff deixou esta mulher escapar?

- Quanto tempo vai ficar em Washington? - perguntou Dana.

- Tenho de ir embora amanhã.

- Para onde, desta vez? - Jeff quis saber.

Rachel hesitou.

- Havaí. Mas estou me sentindo muito cansada mesmo, Jeff. Cheguei até a pensar em cancelar a viagem.

- Mas não vai - disse Jeff, sabedor das coisas.

Rachel deu um suspiro.

- Não, não vou.

- Quando vai voltar? - perguntou Dana.

Rachel olhou-a por um longo momento e disse, calma.

- Acho que não vou voltar para Washington, Dana. Desejo que você e Jeff sejam muito felizes. -Transpareceu de suas palavras uma mensagem não dita.

Fora do restaurante, após o almoço, Dana disse:

- Tenho algumas coisas para fazer. Vão na frente vocês dois.

Rachel pegou a mão de Dana com as suas.

- Fiquei muito feliz por nos conhecermos.

- Eu também - disse Dana e, para sua surpresa, dissera isso com sinceridade.

Dana olhou Jeff e Rachel seguirem pela rua. Um casal impressionante, pensou.

Como era início de dezembro, Washington preparava-se para a temporada das festividades natalinas. As ruas do distrito federal estavam decoradas com luzes de Natal e guirlandas de azevinho; em quase toda esquina, viamse Papais Noel do Exército da Salvação a repicar seus sinos, pedindo moedas para caridade. As calçadas apinhavam-se de compradores que enfrentavam com destemor o vento glacial.

Chegou a hora, pensou Dana. Preciso começar a fazer minhas compras. Fez uma lista mental das pessoas a quem ia dar presentes. Sua mãe, Kemal, Matt, seu patrão e, claro, o maravilhoso Jef. Entrou num táxi e rumou para a Hetcht’s, uma das maiores lojas de departamentos de Washington. O lugar estava abarrotado de pessoas que celebravam o espírito natalino dando rudes encontrões em outros compradores para tirá-los do caminho.

Quando terminou as compras, Dana voltou para o apartamento a fim de deixar os presentes. O prédio ficava na Calvert Street num tranqüilo bairro residencial. Com uma decoração atraente, consistia em um quarto, uma sala de estar, cozinha e um escritório adaptado para quarto, onde dormia Kemal.

Dana pôs os presentes num armário, olhou o apartamento em volta e pensou, satisfeita: Vamos terde arranjarum lugar maior quando Jeff e eu nos casarmos. Ao dirigir-se à porta para voltar ao estúdio, o telefone tocou.

Lei de Murphy. Dana pegou-o.

- Alô.

- Dana, querida.

Era sua mãe.

- Oi, mãe. Eu já estava sain…

- Eu e meus amigos assistimos ao seu programa ontem à noite. Você estava ótima.

- Obrigada.

- Embora a gente tivesse achado que você podia transmitir notícias um pouco mais animadoras.

Dana suspirou.

- Notícias um pouco mais animadoras?

- É. Todos os assuntos de que você fala são tão deprimentes. Não pode arranjar alguma coisa mais alegre para discutir?

- Sem dúvida, mãe, vou ver o que posso fazer.

- Seria muito simpático. Aliás, estou meio sem dinheiro este mês. Será que dá para você me ajudar mais uma vez? Desde que a mãe de Dana se divorciara do pai e mudara-se para Las Vegas, parecia sempre estar sem dinheiro. A mesada que Dana lhe dava nunca bastava.

- Você joga, mãe?

- Claro que não - disse a Sra. Evans, com indignação.

- Las Vegas é uma cidade muito cara. Por falar nisso, você não vai aparecer? Gostaria de conhecer Kimbal. Devia trazê-lo aqui.

- O nome dele é Kemal, mãe. No momento não tenho como sair daqui.

Houve uma ligeira hesitação na outra ponta da linha.

- Não tem? Meus amigos vivem dizendo que você é uma grande felizarda por ter um emprego em que só precisa trabalhar uma ou duas horas por dia.

- É, acho que sou mesmo uma grande felizarda.

Como âncora de dois jornais, Dana chegava ao estúdio da televisão às nove todas as manhãs, passava a maior parte do dia em telefonemas para coletivas de imprensa internacionais, pegando as últimas notícias de Londres, Paris, Itália e outras localidades estrangeiras. O resto do dia era dedicado a reuniões de produção, à pauta, à compilação das notícias, decidindo em que ordem seriam editadas e transmitidas as matérias quando ela entrasse no ar. Dana apresentava dois noticiários noturnos.

- É ótimo que tenha um emprego tão fácil, querida.

- Obrigada, mãe.

- Você vem me visitar logo, não vem?

- Vou, sim.

- Estou louca pra conhecer esse menino lindo.

Seria bom também para Kemal conhecê-la, pensou Dana.

Assim, terá uma avó. E quando eu e Jeff nos casarmos, ele mais uma vez terá uma família de verdade.

Quando Dana pisou no corredor, saindo do prédio de seu apartamento, surgiu a Sra. Wharton.

- Quero lhe agradecer por ter tomado conta de Kemal ontem de manhã, Dorothy. Fico realmente muito grata.

- Foi um prazer Dorothy Wharton e o marido, Howard, haviam-se mudado para o prédio um ano antes. Eram canadenses, um encantador casal de meia-idade.

Howard Wharton era engenheiro especializado em restauração de monumentos.

Como certa noite explicou a Dana no jantar:

- Não há cidade melhor no mundo que Washington para o meu tipo de trabalho. Onde mais eu ia encontrar oportunidades assim? - perguntou Howard Wharton. E ele mesmo respondeu: - Em lugar nenhum.

- Howard e eu adoramos Washington - confidenciou a Sra. Wharton. - Nunca mais vamos sair daqui.

Ao voltar para seu escritório, Dana encontrou a última edição do Washington Tribune na mesa. A primeira página continuava cheia de matérias e fotos da família Winthrop. Dana olhou atenta as fotos durante um longo tempo, a mente disparada. Cinco deles mortos em menos de um ano. Incrível.

O telefonema foi dado para um aparelho privado na torre executiva da Washington Tribune Enterprises.

- Acabei de receber o telefonema.

- Bom. Eles estavam à espera. Que quer que façam com as pinturas?

- Queime-as.

- Todas? São valiosas…

- Tudo saiu às mil maravilhas. Não podemos deixar pontas soltas. Queime todas agora.

A secretária de Dana, Olivia Watkins, avisou-a pelo interfone.

- Telefonema para você na linha três. Ele já ligou duas vezes.

- Quem é, Olivia?

- O Sr Henry Thomas Henry, diretor da Escola Intermediária Theodore Roosevelt.

Dana levou a mão à testa e comprimiu-a para expulsar a dor de cabeça que ia começar. Pegou o telefone.

- Boa tarde, Sr Henry.

- Boa tarde, Srta. Evans. Será que poderia dar uma passada aqui para me ver?

- Sem dúvida. Daqui a uma ou duas horas, estar…

- Eu gostaria de sugerir já, se for possível.

- Já estou indo.

A escola era uma provação insuportável para Kemal. Ele era menor que os outros garotos da sala e, para sua profunda vergonha, isso incluía as meninas. Apelidaram-no de “nanico” “camarão” e “peixinho”. No que se referia aos estudos, o único interesse de Kemal era por matemática e computadores, onde invariavelmente tirava as melhores notas de toda a turma. Uma das sucursais secundárias da escola era o clube de xadrez, e Kemal dominava-o. Antes do acidente, gostava de futebol, mas quando foi inscrever-se para o time da escola, o treinador olhou para a manga vazia de Kemal e disse: “Lamento, não podemos aproveitar você.” Disse isso com delicadeza, embora para o garoto tivesse sido um golpe arrasador O inimigo número um de Kemal era Ricky Underwood. Na hora do almoço, alguns dos alunos comiam no pátio coberto em vez de na lanchonete.