- Tomara que a maldita saia logo dali e a gente acabe logo com isso.
O companheiro fez que sim com a cabeça.
- Ela não tem como conseguir… - Interrompeu-se quando viu as duas mulheres na loja começarem a trocar os casacos. Abriu um largo sorriso. - Nossa, veja como ela está tentando se livrar. As duas estão trocando os casacos. Que grande imbecil.
As duas mulheres desapareceram por um momento atrás do cabide de roupas. Um dos homens falou no walkie-talkie.
- O alvo trocou seu casacão vermelho por um verde…
Espere aí. Ela está indo para a saída quatro. Pegue-a lá.
Na saída quatro, dois homens a esperavam. Momentos depois, um deles falou no celular - Pegamos ela. Traga o carro.
Viram quando ela saiu pela porta para o ar frio. Apertou o casacão verde em volta do corpo e seguiu pela rua. Eles a cercaram. Ao chegar a uma esquina, quando ela ia fazer sinal para chamar um táxi, os homens agarraram-lhe os braços.
- Você não precisa de táxi. Temos um carro bonito à espera.
Ela olhou para eles, atônita.
- Quem são vocês? De que estão falando? Um dos homens a encarava.
- Você não é Dana Evans.
- Bem, claro que não.
Os homens entreolharam-se, soltaram a mulher e correram de volta para a loja. Um deles apertou o botão do walkietalkie.
- Alvo errado. Alvo errado. Está me ouvindo? Quando todos entraram juntos na loja, Dana já havia desaparecido.
Ela tinha sido tomada por um pesadelo vivo, colhida num mundo hostil, com inimigos desconhecidos tentando matá-la. Enredara-se numa teia de horror, quase paralisada de medo.
Quando desceu do táxi, pôs-se a andar rápido, tentando não correr e chamar a atenção para si, sem a menor idéia do lugar a que se dirigia.
Passou por uma loja com uma placa: Sede de Trajes de Época, Fantasias, Perucas e Maquilagem.
- Posso ajudá-la?
Sim. Chame a polícia. Diga a eles que alguém está tentando me matar.
- Senhorita? -há… sim. Eu gostaria de experimentar uma peruca loura.
- Por aqui, por favor Momentos depois, Dana via sua imagem como loura no espelho.
- É impressionante como muda sua aparência.
Espero.
Fora da loja, ela acenou para um táxi.
- Aeroporto O’Hare. - Preciso chegar a Kemal.
Quando o telefone tocou, Rachel atendeu.
- Alô… Dr Young? O resultado final do teste? Jeff viu a repentina tensão em seu rosto.
- Pode me dizer pelo telefone. Só um minuto. - Ela olhou para Jeff; respirou fundo e levou o telefone para o quarto.
Ele ouviu a voz dela, enfraquecida.
- Vá em frente, doutor Houve um silêncio que durou três longos minutos, e quando Jeff; preocupado, ia levantar-se para ir até o quarto, Rachel saiu, com um brilho no rosto que ele nunca vira antes.
- Funcionou! - Ela estava quase sem ar de tanta emoção. - Jeff, o câncer regrediu. A nova terapia deu certo!
- Graças a Deus! Mas isso é maravilhoso, Rachel.
- Ele quer que eu fique aqui por mais algumas semanas, mas a crise passou - disse Rachel, a voz cheia de vitorioso entusiasmo.
- Vamos sair para comemorar - disse Jeff. - Fico com você até…
- Não.
- Não… o quê?
- Não preciso mais de você, Jeff.
- Eu sei, e fico feliz por nós…
- Você não entende. Quero que vá embora.
Ele olhou para ela, surpreso.
- Por quê…?
- Meu doce e querido Jeff. Não quero magoá-lo, mas agora que a doença regrediu, significa que vou voltar a trabalhar. É a minha vida. É o que sou.
Vou telefonar e ver quais os trabalhos em oferta. Eu me senti presa numa armadilha aqui com você.
Obrigada por me ajudar, Jeff: Realmente sou muito grata a você.
Mas chegou a hora de nos despedirmos. Tenho certeza que Dana sente a sua falta. Sendo assim, por que simplesmente não vai embora, querido?
Jeff encarou-a alguns instantes e fez que sim com a cabeça.
- Está bem.
Rachel viu-o entrar no quarto e começar a arrumar a mala.
Vinte minutos depois, quando ele saiu com a mala na mão, encontrou-a falando ao telefone. -…e voltei ao mundo real, Betty. Já posso começar a trabalhar daqui a algumas semanas… Eu sei. Não é maravilhoso?
Jeff ficou parado ali, esperando para despedir-se. Rachel deulhe um aceno com a mão e voltou para o telefone.
- Vou lhe dizer o que eu quero… me arranje uma filmagem num país tropical…
Rachel viu Jeff cruzar a porta. Devagar, deixou o telefone Cair. Foi até a janela e olhou o único homem que amara em toda a vida sair dela para sempre.
As palavras do Dr Young ainda lhe soavam na cabeça.
- Srta. Stevens, lamento muito, mas tenho más notícias.
O tratamento não funcionou… Ocorreu uma metástase do câncer.. muito disseminada. Receio que seja terminal… talvez apenas mais um ou dois meses…
Rachel lembrou-se do diretor de Hollywood, Roderick Marshall, dizendolhe: “Fico feliz que tenha vindo. Vou fazer de você uma grande estrela.” E quando o excruciante rio vermelho de dor começou mais uma vez a destruir seu corpo, ela pensou: Roderick Marshall teria se orgulhado de mim.
Quando o avião de Dana aterrissou, o Aeroporto Dulles em Washington estava apinhado de passageiros à espera da bagagem. Ela passou pelas esteiras, saiu direto na rua e tomou um dos táxis diante da entrada. Não viu nenhum homem com aparência suspeita, mas seus nervos uivavam. Pegou o estojo de maquilagem na bolsa e olhou no pequeno espelho para tranqüilizar-se. A peruca loura dava-Lhe uma aparência completamente diferente. Terá de funcionar por ora, pensou. Preciso chegar a Kemal.
Kemal abriu os olhos devagar, despertado pelo barulho de vozes que chegavam através da porta do escritório que era o seu quarto. Sentia-se grogue.
- O garoto continua dormindo - ouviu a Sra. Daley dizer - Eu o droguei..
Um homem respondeu:
- Vamos ter de acordá-lo.
A voz de um segundo homem disse:
- Talvez fosse melhor se o levássemos dormindo.
- Podia liquidar ele aqui mesmo - disse a Sra. Daley. E depois se livrar do corpo.
Kemal de repente ficou totalmente desperto.
- Temos de mantê-lo vivo por algum tempo. Eles vão usálo como ísca para agarrar a tal de Evans.
Kemal sentou-se, prestando atenção, o coração martelando.
Onde ela está?
- Não sabemos ao certo. Mas sabemos que ela deve estar vindo para cá a fim de pegar o garoto.
Kemal saltou da cama. Ficou parado por um momento, rígido de medo. A mulher em quem confiava queria matá-lo.
Pizda! Não ia ser assim tão fácil, jurou a si mesmo. Eles não conseguiram me matar em Sarajevo. Não vão me matar aqui. Pôs-se freneticamente a vestir suas roupas. Quando pegou o braço artificial na cadeira, a prótese escorregou-lhe da mão e caiu no chão com o que lhe pareceu uma queda estrondosa. Ficou imóvel. Os homens do lado de fora continuavam conversando. Não tinham ouvido o barulho. Kemal prendeu o braço e acabou dE vestir-se depressa.
Abriu a janela e foi golpeado por uma lufada de ar gelado Seu sobretudo estava no outro quarto. Saiu pelo parapeito da janela só com um paletó fino, os dentes tiritando. Uma escada de incêndio percorria o prédio de cima a baixo, e ele agarrou-se a ela, cuidadosamente, para abaixar-se e ficar fora da visão pela janela da sala de estar Ao chegar à calçada, olhou para o relógio de pulso. Eram 2:45 da tarde. De algum modo, tinha dormido mais da metadE do dia. Pôs-se a correr - Vamos amarrar o garoto, só para o caso de…
Um dos homens abriu a porta do quarto e olhou em volta surpreso.
- Ei, ele fugiu!
Os dois homens e a Sra. Daley correram apressados até a janela aberta, a tempo de ver Kemal disparando a toda velocidade pela rua.
- Peguem ele!
Kemal corria como num pesadelo; as pernas ficando cada vez mais fracas e elásticas passo após passo. Cada respiração era uma facada no peito. Se eu conseguir chegar à escola antes de fecharen os portões às três da tarde, pensou, ficarei seguro. Eles não vão ousar me machucar com todos os outros garotos em volta.