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O sinal de trânsito à frente mudou para vermelho. Kemal ignorou-o, lançou-se como uma flecha e atravessou a rua, esquivando-se de carros, alheio ao barulho das buzinas e ao rangido de freios dos automóveis.

Chegou ao outro lado da rua E continuou correndo.

A Srta. Kelly pode chamar a polícia, e eles vão proteger Dana.

Começava a ficar sem fôlego, e sentia um aperto no peito.

Deu mais uma olhada no relógio: 2:55. Ergueu os olhos. Viu a escola logo adiante. Faltam só mais dois quarteirões para chegar.

Estou a salvo, pensou Kemal. Ainda não acabaram as aulas.

Um minuto depois, chegava ao portão da frente. Parou diante dele e fitou, incrédulo. Estava trancado. De repente, por detrás, sentiu um pulso de ferro no ombro.

- Hoje é sábado, idiota.

- Pare aqui - disse Dana. O táxi estava a dois quarteirões de seu apartamento. Ela viu-o se afastando. Seguiu a pé devagar, o corpo tenso, cada sentido alerta, vistoriando minuciosamente as ruas com os olhos, à procura de qualquer coisa fora do comum. Tinha certeza que Kemal estava a salvo. Jack Stone o protegeria.

Quando chegou à esquina de seu prédio, evitou a entrada da frente e entrou na viela paralela que levava aos fundos. Tudo deserto. Entrou pela porta de serviço e subiu a escada sem fazer barulho. Chegou ao segundo andar, começou a atravessar o corredor e de repente parou. A porta de seu apartamento estava aberta. Dana foi instantaneamente inundada pelo medo.

Avançou veloz para a porta e entrou correndo.

- Kemal!

Ninguém. Dana lançou-se com ímpeto pelo apartamento, frenética, imaginando o que poderia ter acontecido. Onde estava Jackstone? Onde estava Kemal? Na cozinha, a gaveta de um armário estava caída no chão e o conteúdo se espalhara. Havia dezenas de pequenas embalagens, algumas cheias, outras vazias. Curiosa, ela pegou uma e examinou-a. O rótulo dizia:

Comprimidos BuSpar l5mg, com NDC D087 D822-32 assinalado.

Que era aquilo? A Sra. Daley vinha tomando drogas ou dando-as para Kemal? Poderia ter alguma coisa a ver com a mudança de comportamento dele? Dana pôs uma das embalagens no bolso do sobretudo.

Cheia de pavor, saiu do apartamento. Fez o mesmo caminho de volta, saindo na viela e seguindo para a rua. Ao virar a esquina, um homem escondido atrás de uma árvore falou num walkie-talkie ao comparsa na esquina defronte.

Diante de Dana, ficava a Farmácia Washington. Ela entrou.

- Ah, Srta. Evans. Posso ajudá-la? - perguntou o farmacêutico.

- Sim, Coquina. Estou curiosa sobre isso. - Tirou da bolsa o saquinho.

O farmacêutico deu uma olhada.

- BuSpar: É um agente ansiolítico. Cristal branco, solúvel em água.

- Para que serve? - perguntou Dana.

- É um relaxante. Tem um efeíto calmante. Claro, quando tomado em doses maiores pode causar sonolência e fadiga.

Ele está dormindo. Quer que eu o acorde? Quando chegou da escola, se sentia tão cansado que achei que um sono lhe faria bem…

Então aquilo explicava o que vinha acontecendo. E foi Pamela Hudson quem tinha enviado a Sra. Daley e pus Kemal nas mãos daquela megera, pensou Dana. Sentiu náuseas no estômago. Olhou para o farmacêutico.

- Obrigada, Coquina.

- Foi um prazer, Srta. Evans.

Dana saiu pela porta direto na rua. Os dois homens se aproximavam dela.

- Srta. Evans, poderíamos lhe falar um min…

Dana virou-se e correu. Os homens vinham em sua cola.

Chegou à esquina da rua Dois. Um policial no meio do cruzamento dirigia o tráfego intenso.

Dana correu para a rua em direção a ele.

- Ei! Volte, senhorita.

Dana continuou aproximando-se.

- Está atravessando o sinal vermelho! Não me ouviu? Volte!

Os dois homens esperavam na esquina, olhando com atenção.

- É surda? - gritou o policial.

- Feche a matraca! - Deu um tapa com força na face do policial. O guarda, furioso, segurou-lhe o braço.

- Está presa, dona.

Empurrou-a de volta para a calçada, mantendo-a segura, enquanto falava pelo rádio.

- Preciso de um preto-e-branco.

Os dois homens parados se entreolharam, sem saber o que fazer Dana lançou-lhes um olhar do outro lado e sorriu. Ouviu-se o som de uma sirene próxima e, alguns instantes depois, um carro de polícia parou diante deles.

Impotentes, os dois homens olharam quando a puseram no banco de trás da radiopatrulha e o carro afastou-se.

Na delegacia de polícia, Dana perguntou:

- Tenho direito a um telefonema, certo?

- Certo - respondeu o sargento, que lhe entregou um telefone. Ela fez uma chamada.

A uns dez quarteirões dali, o homem que segurava Kemal pela gola da camisa empurrava-o em direção a uma limusine à espera na curva, o motor ligado.

- Por favor! Por favor, me solte - implorou Kemal.

- Feche o bico, garoto.

Quatro fuzileiros navais passavam naquele momento.

- Não quero ir pro beco com você - berrou Kemal.

O homem lançou-lhe um olhar perplexo.

- Como?

- Por favor, não me obrigue a ir pro beco. - Kemal virou-se para os fuzileiros. - Ele quer me pagar cinco dólares pra ir ao beco com ele. Eu não quero ir. Os fuzileiros pararam, encarando o homem.

- Por que, seu pervertido imundo…

O homem recuou.

- Não, não. Espere um minuto. Vocês não entendem…

Um dos fuzileiros disse, sorrindo abertamente.

- Entendemos, sim, meu chapa. Tire as mãos do garoto.

- Cercaram o homem. Ele ergueu as mãos para defender-se.

Kemal aproveitou e saiu correndo a toda.

Um garoto de entrega de encomendas descia de uma bicicleta e dirigia-se para uma casa. Kemal saltou na bicicleta e afastou-se, pedalando furiosamente. O homem viu, frustrado, quando ele contornou a esquina e desapareceu.

Na delegacia de polícia, a porta da cela abriu-se com um rangido.

- Está livre para sair, Srta. Evans. Foi liberada sob fiança.

Matt! O telefonema funcionou, pensou Dana, alegre. Ele não perdeu tempo.

Quando pisou no saguão da recepção, parou em choque.

Um dos homens a esperava ali.

Sorriu para ela e disse:

- Está livre, irmâ. Vamos.

Agarrou-a com força pelo braço e pôs-se a conduzi-la para a rua. Quando saíram, o homem parou, aturdido. Diante da delegacia, uma equipe completa da WTN.

- Olhe para cá, Dana…

- Dana, é verdade que você deu um tapa na cara de um policial…?

- Ele a molestou…?

- Vai abrir processo…?

O homem foi se encolhendo e afastando, cobrindo o rosto.

- Qual o problema? - chamou Dana. - Não quer que tirem sua foto?

Ele fugiu.

Matt Baker surgiu ao lado de Dana.

- Vamos dar o fora dessa barulheira infernal.

No prédio da Wtn, Elliot Cromwell, Matt Baker e Abbe Lasmann ouviam em chocado silêncio, já há meia hora, a história de Dana. -…e a FRA também está envolvida. Por isso é que o general Booster tentou me impedir de investigar - Estou aturdido - disse Elliot Cromwell. - Como todos nós pudemos ter nos enganado tanto e por tanto tempo a respeito de Taylor Winthrop? Acho que devíamos informar à Casa Branca sobre o que está acontecendo.

Vamos pedir a eles que comuniquem ao procurador-geral e ao FBI.

- Elliot, até agora só temos minha palavra contra a de Roger Hudson - disse Dana. - Em quem você acha que vão acreditar?

Abbe Lasmann perguntou:

- Não temos nenhuma prova?

- O irmão de Shdanoff está vivo. Tenho certeza que falará. Assim que puxarmos o primeiro fio, toda a história se desenredará.

Matt Baker inspirou fundo e lançou um olhar de admiração a Dana.

- Quando você sai em busca de uma matéria, sai mesmo em busca de uma matéria.

- Matt, que vamos fazer em relação a Kemal? Não sei aonde procurar..