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Enquanto os rodeavam, os Aiel batiam as lanças nos pequenos broquéis de couro. Drum-drum-DRUM-drum… drum-drum-DRUM-drum… drum-drum-DRUM-drum. Os Myrddraal se viraram, os rostos sem olhos pareciam confusos, incomodados, pois o medo que seu olhar causava em todos os humanos não parecia afetar aqueles.

— Dance comigo, Homem das Sombras — gritou um Aiel de repente, em tom de deboche. Parecia um jovem homem.

— Dance comigo, Sem-olhos. — Era uma mulher.

— Dance comigo.

— Dance comigo.

— Acho — começou Nynaeve, se endireitando — que está na hora. — Ela abriu a porta, e as três mulheres envoltas no tênue brilho de saidar saíram do cômodo.

Parecia que, para os Myrddraal, os Aiel tinham deixado de existir. Da mesma forma, parecia que os Myrddraal haviam sumido, para os Aiel. Estes olhavam para Egwene e as outras por cima dos véus, como se não soubessem ao certo o que viam. Ela ouviu uma das mulheres arquejar. O olhar sem olhos dos Myrddraal era diferente. Egwene quase sentia que os Meios-homens sabiam que iam morrer. Os Meios-homens sabiam identificar uma mulher que abraçava a Fonte Verdadeira quando viam uma. Ela também tinha certeza do desejo que sentiam pela morte dela, mesmo que para isso tivessem que pagar com a própria vida, e um desejo ainda mais forte de arrancar a alma dela da carne e transformar ambas em brinquedos para a Sombra, um desejo de…

Ela acabara de adentrar o recinto, mas parecia encarar aquele olhar por horas.

— Não tolerarei mais isso — rosnou, e liberou um fluxo de Fogo.

Chamas irromperam em meio aos três Myrddraal, espalhando-se em todas as direções, e eles guincharam como lascas de ossos em uma máquina de moer carne. Mas ela esquecera que não estava sozinha, que Elayne e Nynaeve estavam com ela. Ao mesmo tempo em que as chamas consumiam os Meios-homens, o próprio ar pareceu suspendê-los acima do chão e esmagá-los em uma bola de fogo e escuridão, uma bola que ficava cada vez menor. Os gritos provocaram calafrios em Egwene, e algo pulou das mãos de Nynaeve. Era uma barra fina de luz branca que fazia o sol do meio-dia parecer escuro, uma barra de fogo que fazia o metal incandescente parecer gélido, ligando as mãos dela aos Myrddraal. E eles cessaram de existir como se jamais tivessem passado por ali. Nynaeve deu um salto, assustada, e o brilho tênue que a envolvia desapareceu.

— O que… o que foi isso? — perguntou Elayne.

Nynaeve sacudiu a cabeça. Parecia tão atônita quanto Elayne.

— Eu não sei… eu… estava com tanta raiva, com tanto medo do que eles queriam fazer… Não sei o que foi isso.

Fogo devastador, pensou Egwene. Não sabia como, mas tinha certeza de que era. Relutante, soltou saidar. Fez saidar soltá-la. Não sabia o que era mais difícil. E não vi nada do que ela fez!

Os Aiel tiraram os véus. Um pouco depressa, pensou Egwene, como se quisessem mostrar a ela e às outras duas que não estavam mais prontos para a luta. Três dos Aiel eram homens, um deles mais velho, com mais do que algumas mechas grisalhas nos cabelos vermelho-escuros. Eram altos os homens Aiel e, jovens ou velhos, tinham a mesma certeza tranquila no olhar, os mesmos movimentos graciosos e perigosos que Egwene associava aos Guardiões. A morte cavalgava em seus ombros, e eles sabiam disso e não tinham medo. Uma das mulheres era Aviendha. Os gritos e brados do lado de fora começavam a morrer.

Nynaeve começou a caminhar em direção aos Aiel caídos.

— Não é preciso, Aes Sedai — disse o homem mais velho. — Eles foram feridos pelo aço dos Homens das Sombras.

Ainda assim, Nynaeve se inclinou para conferir cada um deles, erguendo os véus para puxar as pálpebras e sentir o pulso em suas gargantas. Quando levantou o véu da segunda pessoa, empalideceu. Era Dailin.

— Que queime! Que queime! — Não estava claro se ela se referia a Dailin, ao homem de cabelos grisalhos, a Aviendha ou ao povo Aiel como um todo. — Eu não curei essa mulher só para ela morrer desse jeito!

— A morte chega para todos — começou Aviendha, mas, quando Nynaeve se virou para ela, a mulher se calou.

Os Aiel se entreolharam, como se não soubessem ao certo se Nynaeve faria a eles o que fizera aos Myrddraal. Não havia medo em seus olhos, pareciam apenas cientes da possibilidade.

— O aço dos Homens das Sombras mata — explicou Aviendha —, não fere. — O homem mais velho a encarou com uma leve surpresa nos olhos. Egwene concluiu que para ele, assim como para Lan, aquele leve tremor das pálpebras era o equivalente aos olhos arregalados de assombro de qualquer outro homem. Aviendha acrescentou: — Elas sabem pouco sobre certas coisas, Rhuarc.

— Sinto muito — pediu Elayne, com a voz clara — por termos interrompido sua… dança. Talvez tivesse sido melhor não interferirmos.

Egwene a encarou, surpresa, depois percebeu o que ela estava fazendo. Tranquilizando-os e dando uma chance para Nynaeve acalmar os nervos.

— Vocês estavam cuidando muito bem das coisas — continuou. — Talvez tenhamos ofendido vocês, nos metendo.

O homem grisalho, Rhuarc, soltou uma risada grave.

— Aes Sedai, de minha parte, afirmo que fico feliz por… seja lá o que tenham feito. — Por um instante, ele não parecia totalmente certo, mas no momento seguinte suavizou a expressão. Tinha um bom sorriso e um rosto forte e quadrado. Era bonito, ainda que um tanto velho. — Teríamos conseguido matar todos eles, mas três Homens das Sombras… Eles decerto matariam três dos nossos, talvez todos, e não posso afirmar que daríamos conta de todos. Para os jovens, a morte é uma inimiga com quem desejam medir forças. Para nós, que somos um pouco mais velhos, ela é uma velha amiga, uma velha amante, mas não estamos ávidos para encontrá-la tão cedo.

Nynaeve pareceu relaxar com o discurso do homem, como se conhecer um Aiel que não estivesse ansioso para morrer tivesse aliviado a tensão dela.

— Eu é que deveria agradecer — disse —, e agradeço. Mas admito que fiquei surpresa em vê-los. Aviendha, você esperava nos encontrar aqui? Como?

— Eu segui vocês. — A Aiel não parecia constrangida. — Para ver o que iriam fazer. Vi os homens levarem vocês, mas estava longe demais para ajudar. Tinha certeza de que vocês me veriam se eu me aproximasse demais, então me mantive cerca de cem passos atrás. Quando percebi que não conseguiriam se salvar, já era tarde demais para tentar qualquer coisa sozinha.

— Tenho certeza de que fez o que pôde — respondeu Egwene, fraca. Ela estava a apenas cem passos da gente? Luz, os bandidos não viram nadinha.

Aviendha interpretou aquelas palavras como um incentivo para falar mais.

— Eu sabia onde Coram devia estar, e ele sabia onde estavam Dhael e Luaine, que sabiam… — Ela parou, franzindo o rosto para o homem mais velho. — Não esperava encontrar o chefe de um clã, muito menos do meu próprio, entre os que vieram. Rhuarc, quem lidera os Aiel Taardad, com você aqui?

Rhuarc deu de ombros, como se aquilo não tivesse importância.

— Os chefes dos ramos se revezam e tentam decidir se de fato desejam ir para Rhuidean, quando eu morrer. Eu não teria vindo, mas Amys, Bair, Melaine e Seana me perseguiram como gatas-bravas atrás de uma cabra-selvagem. Os sonhos diziam que eu devia ir. Elas perguntaram se eu queria mesmo morrer velho e gordo em cima de uma cama.