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Não era preciso ver a fina coroa de rosas douradas em seus cabelos ou a estola que pendia de seu vestido branco rajado de vermelho, toda bordada com os Leões de Andor, para Mat saber que estava olhando para Morgase, pela Graça da Luz, Rainha de Andor, Defensora do Reino, Protetora do Povo, Grão-trono da Casa Trakand. Ela tinha o rosto e a beleza de Elayne, mas era o que Elayne seria quando amadurecesse. Todas as outras mulheres no pátio ficavam em segundo plano, desbotadas diante de sua presença.

Eu dançaria uma jiga com ela, e também roubaria um beijo dela ao luar, não importa quantos anos tenha. Ele se sacudiu. Não se esqueça de quem ela é!

Tallanvor abaixou-se sobre um dos joelhos, um punho pressionado na pedra branca do pátio.

— Minha Rainha, trago um mensageiro que porta uma carta de Lady Elayne.

Mat olhou a postura ajoelhada do homem e optou por fazer uma reverência profunda.

— Da Filha-herdeira… hã… minha Rainha. — Ele ergueu a carta enquanto se curvava, de modo a exibir a cera dourada do selo. Depois que ela ler e souber que Elayne está bem, eu conto a ela. Morgase virou os olhos azul-escuros para ele. Luz! Assim que ela ficar de bom humor.

— Traz uma carta de minha filha ardilosa? — A voz dela era fria, mas com indício do calor que poderia ser despertado. — Isso deve significar que ela está viva, pelo menos! Onde ela está?

— Em Tar Valon, minha Rainha — conseguiu responder. Luz, adoraria uma competição para ver quem pisca primeiro, ela ou a Amyrlin. Ele pensou melhor e decidiu que preferia não ver nada daquilo. — Pelo menos estava quando eu saí de lá.

Morgase acenou, impaciente, com a mão, e Tallanvor se ergueu para pegar a carta de Mat e entregar a ela. Por um instante, a mulher olhou o selo de lírio com a cara fechada, depois o rompeu com um giro rápido dos punhos. Murmurava sozinha enquanto lia, sacudindo a cabeça a cada duas linhas.

— Ela não pode contar mais nada, não é mesmo? — resmungou. — Vamos ver se ela vai se manter firme… — De repente seu rosto se iluminou. — Gaebril, ela foi elevada a Aceita. Menos de um ano na Torre, e já foi elevada. — O sorriso foi embora tão depressa quanto surgira, e ela contraiu os lábios. — Quando eu puser as mãos nessa garota desgraçada, ela vai desejar que ainda fosse noviça.

Luz, pensou Mat, será que nada vai deixá-la de bom humor? Ele decidiu que teria que dizer de uma vez, mas desejou que ela não parecesse prestes a cortar fora a cabeça de alguém. — Minha Rainha, por acaso eu escutei…

— Fique quieto, garoto — disse calmamente o sujeito negro de casaco com detalhes dourados. Era um homem bonito, quase tão bem-apessoado quanto Galad e de aparência quase tão juvenil quanto ele, apesar do branco rajado em suas têmporas. Mas o homem precisava ser medido em uma escala maior: era mais alto que Rand e tinha os ombros quase do tamanho dos de Perrin. — Vamos ouvir o que você tem a dizer em um instante. — Ele estendeu a mão por cima do ombro de Morgase e puxou a carta das mãos dela. O olhar da rainha se virou para ele, e Mat pôde ver sua irritação, mas o homem negro pousou a mão forte no ombro de Morgase, sem nunca tirar os olhos do que estava lendo, e a raiva da rainha se dissolveu. — Parece que ela deixou a Torre outra vez — disse. — A serviço do Trono de Amyrlin. A mulher se atropelou mais uma vez, Morgase.

Mat não teve dificuldade em segurar a língua. Sorte. Estava presa no céu da boca. Às vezes, não sei se isso é bom ou ruim. O homem negro era o dono da voz grave, o “Grande Mestre” que queria a cabeça de Elayne. Ela o chamou de Gaebril. O conselheiro dela quer matar Elayne? Luz! E Morgase olhava para ele como um cãozinho amoroso com a mão do dono sobre o ombro.

Gaebril virou os olhos quase negros para Mat. O homem tinha um olhar poderoso e uma aparência astuta.

— O que pode nos dizer disso, garoto?

— Nada… hã… milorde. — Mat pigarreou. O olhar do homem era pior que o da Amyrlin. — Fui a Tar Valon visitar minha irmã. Ela é uma noviça. Else Grinwell. Sou Thom Grinwell, milorde. Lady Elayne soube que eu pretendia passar em Caemlyn no caminho de volta. Sou de Comfrey, milorde, uma pequena aldeia ao norte de Baerlon. Nunca tinha visto um lugar maior que Baerlon até visitar Tar Valon, e ela, Lady Elayne, quer dizer, ela me deu essa carta para trazer. — Ele pensou que Morgase tinha olhado para ele quando o ouviu dizer que vinha do norte de Baerlon, mas ele sabia que lá havia uma aldeia chamada Comfrey, recordava-se de ouvir alguém mencionar.

Gaebril assentiu, mas disse:

— Você sabe aonde Elayne estava indo, garoto? Ou a serviço de quê? Fale a verdade, e não terá nada a temer. Minta, e será levado a interrogatório.

Mat não precisou fingir a expressão de preocupação.

— Milorde, essa foi a única vez que vi a Filha-herdeira. Ela me entregou a carta… e um marco de ouro! E me mandou trazer a carta para a Rainha. Não sei mais do seu conteúdo do que ouvi aqui.

Gaebril pareceu ponderar, o rosto escuro não dava sinal de que acreditava ou não em qualquer palavra.

— Não, Gaebril — começou Morgase, de repente. — Muitos já foram levados a interrogatório. Posso ver a necessidade, pois você me alertou, mas não por isso. Não um garoto que só trouxe uma carta cujo conteúdo ele nem conhece.

— Como a minha Rainha mandar, assim deve ser — respondeu o homem negro. O tom era respeitável, mas ele tocou o rosto dela de uma forma que a fez ruborizar e abrir os lábios, como se esperasse um beijo.

Morgase deu uma respiração vacilante.

— Diga, Thom Grinwell, minha filha parecia bem quando você a viu?

— Parecia, minha Rainha. Ela sorriu, gargalhou e revelou a língua insolente, quer dizer…

Morgase deu uma risada suave pela expressão que ele fez.

— Não tenha medo, rapaz. Elayne tem mesmo a língua insolente, e até demais, para o próprio bem. Fico feliz por ela estar bem. — Aqueles olhos azuis o analisavam profundamente. — Um jovem que deixa a própria aldeia costuma encontrar dificuldade para retornar. Acho que você vai viajar para muito longe antes de ver Comfrey outra vez. Talvez até retorne a Tar Valon. Se isso acontecer e se você vir minha filha, diga a ela que costumamos nos arrepender do que é dito em momentos de raiva. Não vou tirá-la da Torre Branca antes da hora. Diga a ela que penso bastante no período que passei lá e que sinto falta das conversas tranquilas com Sheriam, em seu gabinete. Conte a ela que eu disse isso, Thom Grinwell.

Mat deu de ombros, constrangido.

— Sim, minha Rainha. Mas… hã… eu não pretendo voltar a Tar Valon. Uma vez na vida de um homem já é mais do que suficiente. Meu pai precisa da minha ajuda para tocar a fazenda. Minhas irmãs vão ficar presas com a ordenha, se eu não voltar.

Gaebril soltou uma risada profunda, revelando seu divertimento.

— Então está ansioso para ordenhar vacas, garoto? Talvez deva ver um pouco do mundo, antes que tudo mude. Aqui! — Ele exibiu uma bolsa e a jogou. Ao apanhá-la, Mat sentiu as moedas sob o couro lavado. — Se Elayne pôde dar a você um marco de ouro para transportar essa carta, eu darei dez por trazê-la até aqui a salvo. Veja o mundo antes de voltar para as suas vacas.