Выбрать главу

— É de Gaebril que estou falando, rapaz — retrucou Gill. — Durante os motins, ele assumiu a liderança da facção em defesa de Morgase. Foi ferido durante as lutas, pelo que ouvi dizer, e quando ela retornou ele já havia controlado a situação. Gareth Bryne não gostava dos métodos de Gaebril, que pode se comportar de forma muito rígida. Mas Morgase ficou tão satisfeita em ver a ordem restaurada que o nomeou para o posto que Elaida ocupava.

O estalajadeiro parou. Mat esperou que o homem prosseguisse, mas isso não aconteceu. Thom encheu o cachimbo de tabaco e foi acender uma lasca de madeira na pequena lâmpada que ficava na cornija da lareira, exatamente para esse fim.

— O que mais? — perguntou Mat. — O sujeito deve ter uma razão para fazer o que faz. Se ele se casar com Morgase, vai virar rei quando ela morrer? Se Elayne também morrer, quer dizer?

Thom engasgou enquanto acendia o cachimbo, e Gill gargalhou.

— Andor é governado por uma rainha, rapaz. Sempre uma rainha. Se Morgase e Elayne morrerem, a Luz permita que não, a parente mais próxima de Morgase é que subiria ao trono. Pelo menos quanto a isso agora não resta dúvida: é uma prima dela, Lady Dyelin. Nada como a Sucessão, logo depois do sumiço de Tigraine. Naquela época, Morgase levou dois anos para subir ao Trono do Leão. Dyelin poderia, então, manter Gaebril como conselheiro ou se casar com ele para consolidar a linhagem, o que não seria muito provável de acontecer, a não ser que Morgase tivesse filhos com ele. Mas mesmo assim o homem seria apenas Príncipe Consorte. Nada mais que isso. Graças à Luz Morgase ainda é jovem. E Elayne é saudável. Luz! A carta não dizia que ela está doente, dizia?

— Ela está bem. — Pelo menos por enquanto. — Não tem mais nada que possa me dizer sobre ele? Você não parece gostar dele. Por quê?

O estalajadeiro franziu o cenho, perdido em pensamentos, coçou o queixo e sacudiu a cabeça.

— Acho que não gostaria de vê-lo casado com Morgase, mas na verdade não sei por quê. Dizem que ele é um bom homem, e todos os nobres o têm em alta conta. Eu não gosto da maioria dos homens que ele trouxe para a Guarda. Muita coisa mudou desde a chegada dele, mas não posso dizer que é tudo obra dele. É só que parece ter muita gente conspirando pelos cantos, depois que ele apareceu. Andamos até parecendo cairhienos, do jeito que estavam as coisas antes dessa guerra civil. Todo mundo tramando e tentando levar vantagem. Ando tendo uns pesadelos desde que Gaebril chegou, e não sou o único. São coisas bestas com que se preocupar, os sonhos. Deve ser só pela preocupação com Elayne, com o que Morgase pretende fazer em relação à Torre Branca, e com o povo agindo feito os cairhienos. Eu simplesmente não sei. Por que está fazendo tantas perguntas a respeito de Lorde Gaebril?

— Porque ele quer matar Elayne — respondeu Mat —, junto com Egwene e Nynaeve. — Ele não encontrou nada de útil nas coisas que Gill dissera. Que me queime, eu não tenho que saber por que ele quer matar as três. Só preciso impedir.

Os dois homens o encaravam outra vez. Como se ele estivesse louco. Outra vez.

— Está ficando doente de novo? — perguntou Gill, desconfiado. — Lembro que você olhava torto para todo mundo, naquela época. Ou é isso ou então você acha que é algum tipo de brincadeira. Você tem cara de quem gosta de pregar peças nos outros. Se for isso, é uma das feias!

Mat fez uma careta.

— Não é uma peça, droga. Eu ouvi Gaebril mandando um cara chamado Comar cortar a cabeça de Elayne. E aproveitar para cortar as de Egwene e Nynaeve. Um homem grandalhão, com uma mecha branca na barba.

— Parece mesmo com Comar — comentou Gill, lentamente. — Ele era um bom soldado, mas dizem que deixou a Guarda por causa de algum problema de dados viciados. Não que alguém diga isso na cara dele, já que o homem era um dos melhores espadachins da Guarda. Está falando sério, não está?

— Acho que ele está, Basel — interveio Thom. — Acho mesmo que ele está falando sério.

— Que a Luz brilhe sobre nós! O que Morgase disse? Você contou a ela, não contou? Que a Luz o queime, você contou a ela!

— Claro que contei — respondeu Mat, amargo. — Com Gaebril ali do lado, e ela olhando para ele que nem um cachorrinho carente! Eu disse “posso ser só um aldeão que acabou de escalar um dos seus muros há meia hora, mas já fiquei sabendo que esse seu fiel conselheiro aí, esse por quem você parece estar apaixonada, quer matar a sua filha”. Luz, camarada, ela teria mandado cortar a minha cabeça!

— Talvez tivesse mesmo. — Thom encarou os entalhes elaborados no fornilho do cachimbo e puxou uma das pontas do bigode. — O temperamento dela sempre foi inesperado como um relâmpago, e duas vezes mais perigoso.

— Você sabe melhor que a maioria, Thom — comentou Gill, distraído. Olhando para o nada, ele esfregou as mãos nos cabelos grisalhos. — Tem que haver alguma coisa que eu possa fazer. Não empunho uma espada desde a Guerra dos Aiel, mas… Bem, não seria de muita ajuda. Eu acabaria morto sem ter feito coisa alguma. Mas preciso fazer alguma coisa!

— Boatos. — Thom esfregou o lado do nariz. Parecia estudar o tabuleiro de pedras e falar sozinho. — Ninguém pode impedir que boatos cheguem aos ouvidos de Morgase, e se ela ouvir boatos o suficiente, vai começar a se perguntar se é verdade. Os boatos são a voz do povo, e com frequência a voz do povo diz a verdade. Morgase sabe disso. Não há um só homem vivo que a enfrentaria no Jogo. Com amor ou sem amor, quando Morgase começar a observar Gaebril de perto, ele não vai conseguir esconder nem mesmo as cicatrizes de infância. E se ela descobrir que ele quer fazer mal a Elayne — Thom pôs uma pedra no tabuleiro. Pareceu uma jogada estranha à primeira vista, mas Mat reparou que, em mais três movimentos, um terço das pedras de Gill estaria encurralado —, Lorde Gaebril terá um funeral bastante elaborado.

— Você e seu Jogo das Casas — resmungou Gill. — Ainda assim, pode ser que funcione. — Um sorriso surgiu em seu rosto, de repente. — Já até sei a quem devo contar isso para espalhar os boatos. Só preciso comentar com Gilda que sonhei com essa história, e em três dias ela já vai ter espalhado pra metade das garçonetes da Cidade Nova como se fosse verdade absoluta. A mulher é a maior fofoqueira que o Criador já fez.

— Só tome cuidado para que não seja possível rastrear esse boato de volta até você, Basel.

— Não tenho medo disso, Thom. Ora, uma semana atrás um sujeito me contou um dos meus pesadelos como se fosse uma história que alguém contou para outro alguém, que contou para ele. Gilda deve ter bisbilhotado quando eu contava o caso para Coline, mas, quando eu perguntei, ela me deu uma lista de nomes que iam até o outro lado de Caemlyn e evaporou. Ora, eu fui seguindo a lista e encontrei o último homem, só de curiosidade, para saber por quantas bocas aquilo tinha passado, e o sujeito garantiu que ele próprio sonhara aquilo. Não se preocupe, Thom.

Mat não se importava muito com o que o povo faria com os boatos, já que boato algum ajudaria Egwene e as outras, mas uma coisa o intrigava.

— Thom, você parece estar encarando isso tudo com muita calma. Pensei que Morgase fosse o grande amor da sua vida.

O menestrel encarou o fornilho do cachimbo outra vez.

— Mat, uma mulher muito sábia uma vez me disse que o tempo curaria as minhas feridas, que o tempo acalmava tudo. Não acreditei nela. Só que ela estava certa.

— Quer dizer que você não ama mais Morgase.

— Garoto, faz quinze anos que deixei Caemlyn, e estava a apenas meio passo do machado do carrasco, com a tinta da assinatura de Morgase ainda fresca no mandado de prisão. Sentado aqui ouvindo Basel tagarelar… — Gill protestou, e Thom elevou o tom de voz — tagarelar, como eu dizia, sobre Morgase e Gaebril, sobre esse suposto casamento, percebi que a paixão já morreu faz muito tempo. Sim, acredito que ainda tenha afeição por ela, talvez até a ame um pouco, mas não é mais uma grande paixão.