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— O que fará a senhora decidir? — perguntou Nynaeve, baixinho.

Ailhuin continuou mexendo, como se tivesse se esquecido de beber.

— Três jovens mulheres guiando bons cavalos. Não entendo muito de cavalos, mas esses aí me parecem tão bons quanto os que lordes e ladies conduzem. Você, Maryim, entende tanto do ofício que deveria estar pendurando ervas na própria janela, ou escolhendo onde pendurar. Nunca ouvi falar de uma mulher que praticasse o ofício longe do local onde nasceu, mas, pelo seu modo de falar, você está muito longe. — Ela olhou para Elayne. — Não existem muitos lugares com essa cor de cabelo. Andor, eu diria, pelo seu modo de falar. Os homens tolos estão sempre querendo encontrar uma andoriana de cabelos amarelos. O que eu quero saber é por quê. Estão fugindo de alguma coisa? Só que não me parecem ladras, e nunca ouvi falar de três mulheres juntas para perseguir um homem. Então me contem o motivo, e, se eu gostar, os quartos são seus. Se quiserem me pagar, podem comprar alguma carne vez ou outra. Carne é sempre bem-vinda, desde que os negócios com Cairhien minguaram.

— Estamos atrás de algumas coisas, Ailhuin — explicou Nynaeve. — Ou melhor, umas pessoas. — Egwene se obrigou a ficar quieta e torceu para estar se saindo tão bem quanto Elayne, que bebericava o chá como se ouvisse uma conversa sobre vestidos. Egwene não acreditava que os olhos escuros de Ailhuin Guenna deixassem passar muita coisa. — Elas roubaram algumas coisas, Ailhuin — prosseguiu Nynaeve. — Da minha mãe. E cometeram assassinato. Estamos aqui para que a justiça seja feita.

— Que minha alma queime — respondeu a mulher corpulenta —, será que vocês não têm homens? Os homens não prestam para muito além de levantar peso e se meter no caminho, na maioria das vezes… E beijar, essas coisas… Mas, se existe uma batalha para lutar ou um ladrão para capturar, deixem que eles façam. Andor é tão civilizada quanto Tear. Vocês não são Aiel.

— Não tinha mais ninguém além de nós — explicou Nynaeve. — Os que talvez pudessem vir no nosso lugar foram mortos.

Três Aes Sedai mortas, pensou Egwene. Elas não poderiam ser da Ajah Negra. Mas, se não tivessem sido mortas, a Amyrlin não teria sido capaz de confiar nelas três. Ela está tentando obedecer aos malditos Três Juramentos, mas está bem no limite.

— Aaah — comentou Ailhuin, com tristeza. — Mataram seus homens? Irmãos, maridos, pais? — Um borrão de cor brotou nas bochechas de Nynaeve, e a mulher interpretou mal a emoção. — Não, garota, não me diga. Não quero revirar mágoas antigas. Deixe assentar no fundo até se dissolver. Isso, isso… fique tranquila. — Egwene se esforçou para não soltar um grunhido de repulsa.

— Preciso contar isso para você — retrucou Nynaeve, com a voz firme. O vermelho ainda coloria sua face. — Esses assassinos e ladrões são Amigos das Trevas. São mulheres, mas tão perigosas quanto qualquer espadachim, Ailhuin. Se você está se perguntando por que não procuramos uma estalagem, é esse o motivo. Elas não podem saber que estão sendo seguidas, e talvez estejam vigiando a cidade à nossa espera.

Ailhuin dispensou tudo aquilo com um fungado.

— Das quatro pessoas mais perigosas que eu conheço, duas são mulheres que não carregam sequer uma faca, e apenas um dos homens é espadachim. Quanto a Amigos das Trevas… Maryim, quando tiver a minha idade, vai aprender que falsos Dragões são perigosos, peixes-leão são perigosos, tubarões são perigosos, assim como as tempestades repentinas do sul. Mas Amigos das Trevas são paspalhos. Paspalhos imundos, mas paspalhos. O Tenebroso está preso onde o Criador o prendeu, e nenhum Espectro ou peixe-papão que assusta criancinhas pode tirá-lo de lá. Paspalhos não me assustam, a não ser que estejam operando meu barco. Suponho que não tenham provas que levem aos Defensores da Pedra? É só a palavra de vocês contra a delas?

O que é um Espectro?, pensou Egwene. E um peixe-papão, aliás?

— Teremos provas quando as encontrarmos — respondeu Nynaeve. — Elas estarão carregando as coisas que roubaram, e sabemos descrever todas elas. São coisas antigas e sem valor para ninguém além de nós e nossas amigas.

— Vocês ficariam surpresas com o valor de algumas coisas antigas — retrucou Ailhuin, seca. — O velho Leuese Mulan puxou três tigelas e uma caneca de pedra-do-coração em suas redes, no ano passado. Lá nas Garras do Dragão. Agora, em vez de um barquinho de pesca, ele é dono de um navio mercante que faz negócios pelo rio. O velho besta nem sabia o que tinha até eu contar pra ele. Devem ter outros de onde aqueles saíram, mas Leuese não conseguiu nem lembrar a localização exata. Não sei nem como era que ele conseguia pescar algum peixe naquela rede. Metade dos barcos de pesca de Tear passaram meses procurando cuendillar em vez de sargos e linguados, depois disso, e alguns até levavam lordes dizendo onde jogar as redes. Isso é o tanto que as coisas velhas podem valer, quando são velhas o bastante. Agora, decidi que vocês precisam mesmo de um homem metido nisso, e conheço o homem certo.

— Quem? — perguntou Nynaeve, mais do que depressa. — Se está pensando num lorde, um dos Grão-lordes, lembre-se de que não teremos provas antes de encontrá-las.

Ailhuin gargalhou até perder o fôlego.

— Garota, ninguém do Maule conhece um Grão-lorde ou qualquer outro tipo de lorde. Peixes amia e lagartos não se misturam. Vou trazer o homem perigoso que conheço que não é espadachim, mas é o mais perigoso dos dois. Juilin Sandar é um caçador de ladrões. O melhor deles. Não sei como isso funciona em Andor, mas aqui os caçadores de ladrões podem trabalhar tanto para você ou para mim quanto para um lorde ou mercador, e cobrando menos por isso. Juilin vai encontrar essas mulheres para vocês, se elas puderem ser encontradas, e vai trazer essas coisas de volta sem nem que vocês precisem chegar perto dessas Amigas das Trevas.

Nynaeve concordou, como se ainda não estivesse inteiramente certa, e Ailhuin amarrou aos sapatos um par daquelas plataformas — que ela chamava de tamancos — e correu para fora. Por uma das janelas da cozinha, Egwene observou a mulher passar pelos cavalos e fazer a curva do beco.

— Você está aprendendo a ser uma Aes Sedai, Maryim — comentou, virando as costas para a janela. — Manipula as pessoas tão bem quanto Moiraine.

O rosto de Nynaeve ficou branco.

Elayne caminhou duro pelo chão e deu um tapa no rosto de Egwene. A jovem ficou tão chocada, que só foi capaz de encará-la.

— Você foi longe demais — informou a mulher de cabelos dourados, com rispidez. — Longe demais. Temos que viver juntas, ou acabaremos morrendo juntas! Por acaso você deu seu nome verdadeiro a Ailhuin? Nynaeve contou a ela o que podia, que estamos caçando Amigas das Trevas. E já é arriscado demais ligar nossos nomes a Amigas das Trevas. Ela disse que as mulheres eram perigosas, assassinas. Preferia que dissesse que são da Ajah Negra? Em Tear? Arriscaria tudo sem saber se Ailhuin conseguiria guardar esse segredo?

Egwene esfregou o rosto, cautelosa. Elayne tinha um braço forte.

— Não sou obrigada a gostar de fazer isso.

— Eu sei. — A Filha-herdeira suspirou. — Nem eu. Mas é o que precisamos fazer.

Egwene se virou outra vez para espiar os cavalos pela janela. Sei que precisamos. Mas não sou obrigada a gostar.

49

Tempestade em Tear

Egwene retornou à mesa e a seu chá. Pensou que talvez Elayne tivesse razão, que tivesse mesmo ido longe demais, mas não conseguiu se forçar a pedir desculpas. Então as três permaneceram sentadas, em silêncio.