Выбрать главу

Perrin olhou em volta. Nenhum dos doqueiros que passavam transportando cargas pareceu ter ouvido. Tinha certeza de que sentiria cheiro de medo, caso alguém os escutasse. Engoliu a resposta afiada que estava na ponta da língua. A dela era mais rápida, e mais afiada.

— Gostaria que você não estivesse tão ansiosa — retumbou a voz de Loial. — Parece pensar que aqui vai ser tudo tão fácil quanto em Illian, Faile.

— Fácil? — resmungou Zarine. — Fácil! Loial, quase fomos mortos duas vezes na mesma noite. Illian já era suficiente para uma canção de Caçador. Por que acha que foi fácil?

Perrin fez uma careta. Preferiria que Loial não tivesse decidido chamar Zarine pelo nome que ela escolhera; era um lembrete constante de que Moiraine pensava que a mulher era o falcão de Min. E fazia Perrin ficar se perguntando se ela também seria a bela mulher com quem Min o avisara para tomar cuidado. Pelo menos eu não topei com o gavião. Ou com um Tuatha’an carregando uma espada! Se essa não foi a visão mais estranha, então sou um mercador de lã!

— Pare de fazer perguntas, Zarine — disse ele, montando em Galope. — Você vai saber por que estamos aqui quando Moiraine decidir contar. — Ele tentou não olhar para a Pedra.

Ela virou os olhos escuros e oblíquos para ele.

— Acho que você não sabe o motivo, ferreiro. Acho que é por isso que não quer me contar, porque não sabe. Admita, fazendeiro.

Com um pequeno suspiro, ele cavalgou para longe do desembarcadouro atrás de Moiraine e Lan. Zarine não retrucava com tanta ferocidade quando o Ogier se recusava a responder alguma de suas perguntas. Ele achou que ela estava tentando intimidá-lo para que ele passasse a usar aquele nome. Não adiantaria.

Moiraine amarrara o manto impermeável atrás da sela, por cima da trouxa aparentemente inofensiva que continha o estandarte do Dragão. Apesar do calor, ela usava o manto de linho azul de Illian. O capuz largo encobria sua face, e o anel da Grande Serpente estava preso em um cordão em volta do pescoço. Tear, dissera ela, não proibia a presença de Aes Sedai, apenas a canalização, mas os Defensores da Pedra vigiavam de perto qualquer mulher que usasse o anel. Ela não queria ser vigiada na visita a Tear.

Lan enfiara o manto que mudava de cor nos alforjes dois dias antes, quando ficara claro que quem quer que enviara os Cães das Trevas — Sammael, lembrou Perrin, sentindo um arrepio, e tentou não pensar mais naquele nome —, quem quer que tivesse sido, não mandara mais nenhum no encalço deles. O Guardião não fizera concessões ao calor de Illian, e também não fez nenhuma ao calor um pouco mais brando de Tear. O casaco verde-acinzentado estava abotoado até a gola.

Perrin usava o casaco meio desabotoado e o colarinho da camisa aberto. Tear podia até ser um pouco mais fresca do que Illian, mas ainda era quente como o verão de Dois Rios, e, como sempre acontecia após a chuva, a umidade do ar fazia o calor piorar ainda mais. O cinturão em que ele prendia o machado estava pendurado e enrolado no cepilho alto da sela. Assim, ficava à mão caso fosse preciso, e ele se sentia melhor sem usá-lo.

Nas primeiras ruas por onde passaram, ele se surpreendeu com a lama. Apenas as aldeias e cidades menores tinham ruas de terra, pelo que vira, e Tear era uma das grandes cidades. O povo, no entanto, não parecia ligar, e muitos caminhavam descalços. Uma mulher que andava em pequenas plataformas de madeira chamou sua atenção por um tempo, e ele se perguntou por que todos não as usavam. As calças largas dos homens pareciam mais frescas do que as dele, mais justas, porém Perrin tinha certeza de que se sentiria um idiota se as usasse. Imaginou-se vestido naquelas calças e com um daqueles chapéus redondos de palha, e deu uma risadinha.

— Qual é a graça, Perrin? — perguntou Loial. Suas orelhas caíram até os tufos se esconderem entre os cabelos, e ele olhava preocupado para as pessoas na rua. — Essa gente parece… derrotada, Perrin. Não estavam assim da última vez que eu vim aqui. Nem mesmo um povo que permite que cortem os bosques merece um semblante desses.

Quando Perrin começou a analisar os rostos em vez de apenas observar o cenário como um todo, viu que Loial estava certo. Algo desaparecera em muitos daqueles rostos. Esperança, talvez. Curiosidade. Eles mal olhavam o grupo que passava, exceto para sair do caminho dos cavalos. O Ogier, montado em um animal do tamanho de um cavalo de tração, recebia o mesmo olhar de indiferença que Lan ou Perrin.

As ruas se tornaram amplas e pavimentadas depois que eles ultrapassaram os portões da muralha da cidade, alta e cinzenta, passando pelos olhos escuros e severos dos soldados vestidos com placas peitorais por cima dos casacos vermelhos de mangas largas que terminavam em punhos estreitos e brancos, além de elmos redondos com abas e uma saliência no topo. Em vez das calças folgadas que os outros homens vestiam, as deles eram justas e ficavam enfiadas dentro das botas que iam até os joelhos. Os soldados franziram as testas para a espada de Lan, tocando as próprias, e lançaram olhares penetrantes para o machado e o arco de Perrin; apesar das testas franzidas e dos olhares enviesados, ainda havia certa derrota nas expressões deles também, como se mais nada continuasse a realmente valer o esforço.

As construções eram maiores e mais altas do lado de dentro dos muros, embora a maioria não fosse muito diferente das do lado de fora. Perrin achou os telhados um tanto estranhos, especialmente os mais pontudos, porém já vira tantos telhados diferentes desde que saíra de casa que apenas se perguntou que tipo de pregos teriam sido usados naquelas telhas. Em alguns lugares, nem mesmo usavam pregos nas telhas.

Palácios e grandes construções se elevavam entre casas menores e mais simples, dispostos de forma caótica. Uma estrutura de torres com domos brancos e quadrados, rodeada por ruas largas, poderia muito bem ser cercada de lojas, estalagens e casas. Um imenso saguão, cuja frente era ornamentada por colunas quadradas de mármore, cada uma com quatro passos de lado, e onde cinquenta degraus levavam a portas de bronze de cinco braças de altura, ficava entre uma padaria e uma alfaiataria.

Mais homens naquela área usavam casacos e calças como os dos soldados, embora de cores mais vibrantes e sem as armaduras, e alguns até portavam espadas. Ninguém andava descalço, nem mesmo os que usavam as calças largas. Os vestidos das mulheres eram, na maioria das vezes, mais longos, com decotes que exibiam os ombros nus, por vezes os colos, e eram feitos tanto de seda quanto de lã. O Povo do Mar vendia muita lã em Tear. Liteiras e carruagens levadas por grupos de cavalos deslocavam-se pelas ruas, junto com carroças e carros de boi. Ainda assim, muitos dos rostos tinham aquela mesma expressão abatida.

A estalagem que Lan escolhera, a Estrela, ficava entre a loja de um tecelão e uma ferraria, com vielas estreitas entre elas. A ferraria era de pedra nua cinza, e a loja do tecelão e a estalagem, de madeira, mas a Estrela tinha quatro andares e pequenas janelas até no teto. O ressoar dos teares competia com dificuldade contra o clangor do martelo do ferreiro. Eles entregaram os cavalos aos cavalariços para serem levados até os fundos e adentraram a estalagem. Aromas de peixe, pão e talvez cozido vinham da cozinha, além do cheiro de carneiro assado. Todos os homens no salão da estalagem usavam casacos justos e calças largas. Perrin achou que homens mais ricos — de alguma forma, tinha certeza de que os homens de casacos coloridos com mangas bufantes e as mulheres de ombros desnudos em seda brilhante eram todos ricos ou nobres — não tolerariam o barulho. Talvez fosse por esse motivo que Lan escolhera aquele lugar.

— Como é que vamos conseguir dormir com essa algazarra? — resmungou Zarine.

— Sem perguntas? — retrucou ele, com um sorriso. Por um instante, achou que ela lhe mostraria a língua.

O estalajadeiro era um homem meio calvo de rosto redondo, e usava um comprido casaco azul-escuro e as tais calças folgadas. Ele se curvou em uma mesura, comprimindo as mãos sobre a grande barriga. Seu rosto tinha aquela mesma aparência, uma resignação abatida.