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— Eu vou acabar com elas — murmurou. — Tentando me vender feito uma ovelha! Me caçando feito um animal! Eu serei a caçadora desta vez, não o coelho! Aquela Moiraine! Se ela não tivesse aparecido em Campo de Emond, eu teria ensinado o suficiente a Egwene. E quanto a Rand… eu poderia… poderia ter feito alguma coisa. — Saber que nada daquilo era verdade não ajudava, só piorava as coisas. Ela odiava Moiraine quase tanto quanto odiava Liandrin e a Ajah Negra, talvez na mesma intensidade do ódio que sentia pelos Seanchan.

Ela virou uma curva, e Juilin Sandar precisou dar um salto para sair do caminho e não ser pisoteado. Mesmo bastante acostumado a usá-los, quase tropeçou nos próprios tamancos, e foi só o cajado que o salvou de cair de cara na lama. Aquela madeira clara e cheia de juntas era chamada de bambu, ela aprendera, e era mais resistente do que parecia.

— Senhora… hã… Senhora Maryim — disse Sandar, recuperando o equilíbrio. — Eu estava… procurando a senhora. — Ele abriu um sorriso nervoso. — Está irritada? Por que está me olhando desse jeito?

Ela suavizou a expressão.

— Não estava franzindo a testa para o senhor, Mestre Sandar. O açougueiro… Não importa. Por que está me procurando? — Ela prendeu a respiração. — Por acaso as encontrou?

Ele olhou em volta, como se suspeitasse que as pessoas que passavam estivessem tentando ouvir a conversa.

— Sim. Sim, a senhora precisa vir comigo. As outras estão esperando. As outras. E Mãe Guenna.

— Por que está tão nervoso? Não deixou que elas o notassem, deixou? — perguntou ela, ríspida. — Por que está tão assustado?

— Não! Não, senhora. Eu… eu não me revelei. — Os olhos do homem passearam outra vez pela rua, e ele deu um passo à frente, baixando a voz a um sussurro baixo e premente. — Essas mulheres que a senhora procura, elas estão na Pedra! São convidadas de um Grão-lorde! O Grão-lorde Samon! Por que as chamou de ladras? O Grão-lorde Samon! — O homem quase guinchava. Estava com o rosto coberto de suor.

Dentro da Pedra! Com um Grão-lorde! Luz, como vamos chegar até elas agora? Com esforço, ela sufocou a própria impaciência.

— Fique calmo — pediu, tranquilizando o homem. — Mantenha a calma, Mestre Sandar. Podemos dar uma explicação satisfatória. — Espero que possamos. Luz, se ele disparar até a Pedra para contar a esse Grão-lorde que estamos atrás delas… — Venha comigo até a casa da Mãe Guenna. Joslyn, Caryla e eu explicaremos tudo. De verdade. Venha.

Ele deu um aceno de cabeça curto e apreensivo, diminuindo o passo para acompanhá-la enquanto ela lutava com os tamancos. Tinha a expressão de quem queria sair correndo.

Ao chegar na casa da Sábia, correu para os fundos. Ninguém nunca usava a porta da frente, não que ela já tivesse visto, nem mesmo a própria Mãe Guenna. Os cavalos estavam presos a um corrimão de bambu, bem longe das figueiras novas e dos vegetais de Ailhuin, e as selas e rédeas estavam guardadas dentro da casa. Pela primeira vez, não parou para fazer um carinho no nariz de Gaidin e dizer a ele que era um bom garoto e mais sensato que o xará. Sandar parou para raspar a lama dos tamancos com a ponta do cajado, mas ela correu para dentro.

Ailhuin Guenna estava sentada em uma das cadeiras de encosto alto que fora puxada para o aposento, os braços caídos dos lados do corpo. Os olhos da mulher grisalha estavam saltados de raiva e medo, e ela parecia tentar fazer esforço para se mexer, mas não movia um músculo. Nynaeve não precisou sentir a trama sutil de Ar para entender o que havia acontecido. Luz, elas nos encontraram! Que o queime, Sandar!

A ira a inundou, derrubou as paredes internas que costumavam mantê-la afastada do Poder, e, quando a cesta caiu de suas mãos, ela era um botão de flor branco em um arbusto de abrunheiro, abrindo-se para abraçar saidar, abrindo-se… Foi como se ela batesse em outra parede, uma parede de vidro transparente. Podia sentir a Fonte Verdadeira, mas a parede obstruía tudo, a não ser o anseio de ser preenchida com o Poder Único.

A cesta caiu no chão, e, enquanto quicava, a porta atrás dela se abriu e Liandrin entrou, seguida por uma mulher de cabelos negros com uma mecha branca acima da orelha esquerda. As duas usavam vestidos de seda longos e coloridos com os ombros à mostra, e o brilho de saidar as envolvia.

Liandrin alisou o vestido vermelho e sorriu com os lábios de botão de rosa. O rosto de boneca revelava todo o seu divertimento.

— Sabe, bravia — começou —, você não tem…

Nynaeve a acertou na boca o mais forte que pôde. Luz, preciso sair daqui. Ela golpeou Rianna com o dorso da mão com tanta força que a mulher de cabelos negros caiu sentada no chão, grunhindo. Elas devem estar com as outras, mas, se eu conseguir chegar até a porta, se conseguir chegar num ponto onde não possam me prender, poderei fazer alguma coisa. Ela empurrou Liandrin com força, atirando-a para longe da porta. Só preciso escapar desse bloqueio, e eu…

Golpes a atingiram por todos os lados, como se estivesse sendo socada por diversos punhos e bastões. Nem Liandrin, com o sangue escorrendo da boca agora apertada, nem Rianna, com os cabelos tão desgrenhados quanto seu vestido verde, ergueram a mão. Nynaeve podia sentir os fluxos de Ar se entrelaçando ao seu redor tão bem quanto os golpes. Ainda lutava para chegar até a porta, mas percebeu que estava de joelhos. Os golpes que não podiam ser vistos não cessavam, varas e punhos invisíveis golpeavam as costas e o estômago, a cabeça e os quadris, os ombros, os seios, as pernas, a cabeça. Gemendo, caiu de lado no chão e se curvou em posição fetal, tentando se proteger. Ah, Luz, eu tentei. Egwene! Elayne! Eu tentei! Não vou chorar! Que as queime, vocês podem me espancar até me matar, mas não vou chorar!

Os golpes cessaram, mas Nynaeve não conseguia parar de tremer. Seu corpo doía da cabeça aos pés.

Liandrin agachou-se ao seu lado, os braços em volta dos joelhos, seda roçando contra seda. Já limpara o sangue da boca. Seus olhos escuros eram severos, e seu rosto já não revelava divertimento algum.

— Talvez você seja muito burra para perceber quando a derrota chegou, bravia. Lutou com quase tanta fúria quanto aquela outra tola, aquela Egwene. Ela quase enlouqueceu. Vocês precisam aprender a ser submissas. Vocês vão aprender a ser submissas.

Nynaeve estremeceu e buscou saidar outra vez. Não tinha nenhuma esperança real, mas precisava fazer algo. Forçando caminho pela dor, ela buscou… e atingiu aquele escudo invisível. Liandrin recuperara o divertimento em seu olhar, a alegria soturna de uma criança terrível que gosta de arrancar as asinhas das moscas.

— Não temos mais utilidade para essa aqui, pelo menos — comentou Rianna, ao lado de Ailhuin. — Vou parar o coração dela. — Os olhos da Sábia quase saltaram das órbitas.

— Não! — As tranças de Liandrin, curtas e cor de mel, balançaram quando ela virou a cabeça de repente. — Sempre você mata rápido demais, e só o Grande Senhor pode fazer uso dos mortos. — Ela sorriu para a mulher atada à cadeira por correntes invisíveis. — Você viu os soldados que vieram conosco, velha. Sabe quem nos aguarda na Pedra. O Grão-lorde Samon não vai gostar nada se você falar sobre o que aconteceu aqui dentro da sua casa hoje. Se segurar a língua, poderá viver, talvez para servir a ele outra vez, um dia. Se abrir a boca, servirá apenas ao Grande Senhor das Trevas, do além-túmulo. Qual é a sua escolha?