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Ele não se virou para encarar Saltador. Sabia que seus dentes estavam arreganhados em um rosnado. Ergueu o martelo outra vez, descendo-o com toda a força sobre as correntes que prendiam Faile. Com o golpe, o bloco de pedra se rachou em dois. A própria Pedra repicou, como um sino emperrado.

— Então eu vou caçar outra vez — rosnou.

Com o martelo na mão, Perrin saiu do aposento a passos largos, Saltador a seu lado. A Pedra era um lugar de homens. E homens, ele sabia, eram caçadores mais cruéis até do que os lobos.

Gongos de alarme soaram em algum ponto acima, ressoando pelo corredor, mas não abafaram muito o tinido de metal contra metal e os berros dos homens que lutavam muito perto. Aiel e Defensores, Mat suspeitou. Suportes compridos e dourados, cada um contendo quatro lampiões dourados, alinhavam-se no corredor onde ele estava, e tapeçarias de seda com cenas de batalha pendiam das paredes de pedra polida. Havia até carpetes de seda no piso, vermelho-escuro sobre azul-escuro, trançados em um ponto chamado labirinto taireno. Pela primeira vez Mat estava ocupado demais para estimar os preços de cada uma daquelas coisas.

Esse desgraçado é bom, pensou, enquanto tentava afastar uma investida de espada, mas o golpe que tentara acertar na cabeça do homem, com a outra extremidade do bastão, acabou sendo desviado para bloquear outra vez a lâmina dardejante. Será que ele é um desses malditos Grão-lordes? Ele quase conseguiu desferir um bom golpe em um dos joelhos do oponente, mas o homem saltou para trás, a lâmina reta erguida em guarda.

O homem de olhos azuis sem dúvida usava um daqueles casacos de mangas bufantes; esse era amarelo com listras bordadas em fios de ouro. Mas a roupa fora vestida de qualquer jeito, apenas metade da camisa foram enfiada nas calças, e os pés estavam descalços. Os cabelos escuros e curtos estavam desgrenhados como os de alguém que acordara com pressa, mas o homem lutava com vigor. Cinco minutos antes, o sujeito irrompera de repente, atravessando uma das portas altas e entalhadas que se alinhavam no corredor, empunhando uma espada sem bainha, e Mat só pôde agradecer por tê-lo visto surgindo pela frente, não por trás. Não era o primeiro homem vestido daquela forma que Mat enfrentara, mas sem dúvida era o melhor.

— Consegue passar por mim, caçador de ladrões? — perguntou Mat, com o cuidado de não desgrudar os olhos do homem que o aguardava com a lâmina pronta para o ataque. Sandar insistira, irritado, em ser chamado de “caçador de ladrões” em vez de “apanhador de ladrões”, embora para Mat fosse tudo mesma coisa.

— Não consigo — gritou Sandar, por detrás dele. — Se você se afastar para abrir caminho, vai perder espaço para balançar este remo que chama de bastão e vai acabar no espeto que nem um sargo.

Que nem o quê?

— Bem, pense em alguma coisa, taireno. Esse desgrenhado está me dando nos nervos.

O homem de casaco listrado de ouro o encarou com desprezo.

— Terá a honra de morrer pela espada do Grão-lorde Darlin, camponês, se eu assim o permitir. — Era a primeira vez que ele se dignava a falar. — Em vez disso, acho que vou pendurar vocês dois pelos calcanhares e assistir às suas peles serem arrancadas dos corpos…

— Acho que eu não gostaria disso — comentou Mat.

O rosto do Grão-lorde ficou vermelho de indignação por ser interrompido, mas Mat não deu ao homem a chance de fazer qualquer comentário ultrajado. Girando o bastão em laçadas duplas contidas, tão rápidas que transformavam as extremidades da arma em borrões, ele deu um salto para a frente. Darlin, rosnando, mal conseguia afastar o bastão. Por hora. Mat sabia que não conseguiria manter aquele ritmo por muito tempo e, se tivesse sorte, os dois ficariam nos golpes e contragolpes. Se tivesse sorte. No entanto, não tinha qualquer intenção de contar com a sorte daquela vez. Assim que o Grão-lorde teve um momento para definir um padrão de defesa, Mat alterou o ataque no meio do giro. A extremidade do bastão que Darlin esperava que fosse golpear sua cabeça acabou mergulhando e atingindo suas pernas. A outra ponta acertou sua cabeça, e ele caiu com um estrépito cortante que o fez revirar os olhos.

Ofegante, Mat inclinou o bastão sobre o Grão-lorde inconsciente. Que me queime, se eu tiver que lutar com mais um ou dois iguais a esse, vou acabar desabando de exaustão! As histórias não contam o trabalhão que dá para ser um herói! Nynaeve sempre acaba encontrando um jeito de me fazer trabalhar.

Sandar andou até ele, franzindo o cenho para o Grão-lorde caído.

— Não parece tão poderoso aí no chão — comentou, espantado. — Não parece muito mais grandioso do que eu.

Mat levou um susto e espiou pelo corredor, onde um homem acabava de passar trotando ao longo de um corredor adjacente. Que me queime, não sei se estou maluco, mas podia jurar que era Rand!

— Sandar, acha que… — começou a falar, balançando o bastão por cima do ombro, e parou ao atingir algo.

Ele se virou e deu de cara com outro Grão-lorde vestido às pressas, dessa vez com a espada já no chão, os joelhos dobrados e as duas mãos sobre a cabeça, que Mat acertara com o bastão. Mais do que depressa, desferiu um golpe forte no estômago do homem com a ponta do bastão, para fazê-lo baixar as mãos, e depois, outra pancada na cabeça, fazendo-o desabar por cima da própria espada.

— É a sorte, Sandar — murmurou. — Não dá para competir com a maldita sorte. Agora, por que não encontra logo essa porcaria de passagem secreta que os Grão-lordes usam para descer até as celas? — Sandar insistira que existia uma escada dessas e que usá-la os pouparia de ter que atravessar a maior parte da Pedra. Mat achava que não gostava muito de homens que, de tão ávidos para verem os prisioneiros sendo interrogados, quisessem uma rota rápida de seus aposentos até as celas.

— Só fique feliz por ter tanta sorte — retrucou Sandar, vacilante —, ou esse aqui teria matado nós dois antes mesmo que o víssemos. Eu sei que a porta está em algum lugar por aqui. Você vem? Ou prefere esperar outro Grão-lorde aparecer?

— Vá na frente. — Mat passou por cima do Grão-lorde inconsciente. — Não sou um maldito herói.

Correndo, o rapaz seguiu o caçador de ladrões, que espiava por todas as portas altas por que passavam, resmungando que sabia que a passagem estava ali, em algum lugar.

55

O Que Está Escrito na Profecia

Rand adentrou a câmara devagar, caminhando por entre as grandes colunas de pedra vermelha polida que se lembrava de ter visto nos sonhos. O silêncio preenchia as sombras, mas algo o chamava. E algo piscava mais adiante, uma luz momentânea que jogava as sombras para trás, um farol. Ele deu um passo à frente, entrando embaixo de um enorme domo, e viu o que buscava. Callandor, suspensa no ar com a empunhadura para baixo, à espera apenas da mão do Dragão Renascido, nenhuma outra. Enquanto girava, dividia a pouca luz que havia no recinto, e vez ou outra tremulava, como se emanasse luz própria. Chamando-o. Esperando por ele.

Se é que eu sou o Dragão Renascido. Se é que não sou só mais um homem meio louco, amaldiçoado com o dom de canalizar, uma marionete de Moiraine e da Torre Branca.

— Pegue, Lews Therin. Pegue, Fratricida.

Ele se virou na direção de onde vinha a voz. O homem alto de cabelos brancos e curtos que irrompera das sombras entre as colunas era um pouco familiar. Rand não fazia ideia de quem era o sujeito vestido em um casaco de seda vermelha com listras pretas com mangas bufantes, além de calças pretas enfiadas nas botas cobertas de elaborados ornamentos em prata. Não conhecia o homem, mas já o vira em seus sonhos.

— Você as trancou em uma jaula — comentou. — Egwene, Nynaeve e Elayne. Nos meus sonhos. Você sempre trancava as três em uma jaula e fazia mal a elas.