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— É sua. — Servir. Obedecer. Proteger. Votos simples para um homem simples. — Quantos homens são necessários?

— Deixarei isso ao seu critério. Pode ser que alguns homens de boa vontade nos sirvam melhor do que vinte. Quero isso feito tão rápida e silenciosamente como for possível, sem derramamento de sangue.

— Rápido, silencioso e sem derramamento de sangue, sim senhor.

Quais são suas ordens?

— Você vai encontrar as filhas do meu irmão, levá-las sob custódia, e confiná-las nas celas do topo da Torre da Lança.

— As Serpentes da Areia? — A garganta do capitão estava seca. —Todas… todas as oito, meu príncipe? As pequenas também?

O príncipe refletiu sobre aquilo.

— As meninas de Ellaria são jovens demais para serem um perigo, mas há aqueles que poderiam procurar usá-las contra mim. Seria melhor mantê-las a salvo e ao nosso alcance. Sim, as pequenas também… mas primeiro prenda Tyene, Nymeria e Obara.

— Às suas ordens, meu príncipe. — Seu coração estava perturbado.

Minha princesinha não irá gostar disso. — E Sarella? Ela é uma mulher feita, quase com vinte anos.

— A menos que ela retorne para Dorne, não há nada que eu possa fazer a respeito de Sarella, exceto rezar para que mostre mais bom senso do que as irmãs. Deixe-a com o seu… jogo. Reúna as outras. Não dormirei até saber que estão em segurança e sob guarda.

— Será feito. — O capitão hesitou. — Quando isso for conhecido nas ruas, o povo irá fazer barulho.

— Toda a Dorne fará barulho. — Disse Doran Martell numa voz cansada. — Só rezo para que o Lorde Tywin os ouça em Porto Real, para que fique sabendo como é leal o amigo que tem em Lançassolar.

CERSEI

Sonhou que estava sentada no Trono de Ferro, bem alto acima de todos eles.

Os cortesãos eram ratos brilhantemente coloridos lá em baixo. Grandes senhores e orgulhosas senhoras ajoelhavam perante si. Valentes jovens cavaleiros depositavam as espadas aos seus pés e suplicavam-lhe favores, e a rainha sorria-lhes. Até que o anão apareceu, como que vindo de parte nenhuma, apontando para ela e uivando de riso. Os senhores e as senhoras começaram também a soltar risinhos, escondendo os sorrisos atrás das mãos. Foi só então que a rainha se percebeu que estava nua.

Horrorizada, tentou cobrir-se com as mãos. As farpas e lâminas do Trono de Ferro morderam-lhe a carne quando se abaixou para esconder a vergonha. O sangue escorreu vermelho, pelas pernas abaixo, enquanto dentes de aço lhe roíam as nádegas. Quando tentou levantar, enfiou o pé numa fenda no metal retorcido. Quanto mais lutava, mais o trono a engolia, arrancando pedaços de carne dos seus seios e barriga, cortando-lhe os braços e pernas até os deixar cintilantes de vermelho.

E o irmão não parava de brincar lá em baixo, rindo.

O divertimento dele ainda lhe ecoava aos ouvidos quando sentiu um leve toque no ombro e acordou de repente. Durante meio segundo, a mão pareceu fazer parte do pesadelo, e Cersei gritou, mas era apenas Senelle. O rosto da criada estava branco e assustado.

Não estamos sós, apercebeu-se a rainha. Sombras erguiam-se à volta da sua cama, silhuetas altas com cota de malha brilhando debilmente por baixo dos seus mantos. Homens armados não tinham nada a fazer ali. Onde estão os meus guardas? O quarto encontrava-se mergulhado na escuridão, à exceção da lanterna que um dos intrusos segurava bem alto. Não posso mostrar medo. Cersei afastou para trás cabelos desgrenhados pelo sono, e disse:

— Que quereis de mim? — Um homem avançou para baixo da luz da lanterna e ela viu que o manto dele era branco. — Jaime? — Sonhei com um irmão, mas o outro veio acordar-me.

— Vossa Graça? — A voz não era a do irmão. — O Senhor Comandante disse para virmos te buscar.—O cabelo dele encaracolava-se, como o de Jaime, mas o cabelo do irmão era ouro batido, tal como o dela, ao passo que o deste homem era negro e oleoso. Fitou-o, confusa, enquanto ele resmungava qualquer coisa acerca de uma latrina e uma besta, e dizia o nome do pai. Ainda estou a sonhar, pensou Cersei. Não acordei, e o meu pesadelo não terminou. Tyrion sairá em breve a gatinhar de debaixo da cama e começará a rir de mim.

Mas isso era uma loucura. O irmão anão encontrava-se nas celas negras, condenado a morrer precisamente naquele dia. Olhou para as mãos, virando-as para se certificar de que ainda lá tinha todos os dedos. Quando passou uma mão pelo braço, a pele estava eriçada em pele de galinha, mas sem golpes. Não havia cortes nas suas pernas, nenhum rasgão nas solas dos pés. Um sonho, foi só isso, um sonho. Bebi demasiado na noite passada, estes medos são só humores nascidos do vinho. Quem rirá serei eu, ao chegar o ocaso. Os meus filhos estarão a salvo, o trono de Tommen estará seguro, e o meu retorcido pequeno valonqar terá uma cabeça a menos e estará a apodrecer.

Jocelyn Swyft estava junto ao seu cotovelo, pressionando-a para que pegasse numa taça. Cersei bebeu um gole: água, misturada com umas gotas de limão, tão azeda que a cuspiu. Ouvia o vento noturno a agitar as janelas, e via com uma estranha clareza penetrante. Jocelyn estava a tremer como uma folha, tão assustada como Senelle. Sor Osmund Kettleblack pairava acima dela. Atrás dele encontrava-se Sor Boros Blount, com uma lanterna. À porta havia guardas Lannister com leões dourados a cintilar no topo dos capacetes.

Também pareciam assustados. Poderá ser? perguntou a rainha a si própria.

Poderá ser verdade?

Ergueu-se, e permitiu que Senelle lhe pusesse um roupão sobre os ombros para esconder a sua nudez. Foi a própria Cersei a atar o cinto, sentindo os dedos rígidos e desastrados.

— O senhor meu pai mantém guardas à sua volta, de noite e de dia — disse. Sentia a língua pesada. Bebeu outro gole de água com limão e bochechou com ela para lhe refrescar o hálito. Uma mariposa entrara na lanterna que Sor Boros segurava; conseguia ouvi-la a zumbir e via a sombra das suas asas enquanto ela batia no vidro.

— Os guardas estavam nos seus postos, Vossa Graça — disse Osmund Kettleblack. — Encontramos uma porta escondida atrás da lareira.

Uma passagem secreta. O Senhor Comandante desceu para ver onde vai dar.

— Jaime? — O terror capturou-a, súbito como uma tempestade. — O Jaime devia estar com o rei

— O rapaz nada sofreu. Sor Jaime enviou uma dúzia de homens para ver como ele se encontrava. Sua Graça está pacificamente a dormir.

Que tenha um sonho melhor do que o meu, e um acordar mais suave.

— Quem está com o rei?

— Sor Loras tem essa honra, se vos aprouver.

Não aprazia. Os Tyrell não passavam de intendentes que os reis do dragão tinham elevado muito acima do seu estatuto. A sua vaidade era apenas excedida pela sua ambição. Sor Loras podia ser tão lindo como um sonho de donzela, mas por baixo do manto branco era Tyrell até ao osso.

Tanto quanto sabia, o maligno fruto daquela noite fora plantado e nutrido em Jardim de Cima. Mas essa era uma suspeita que não se atrevia a exprimir em voz alta.

— Permiti-me um momento para que me vista. Sor Osmund, acompanhe-me à Torre da Mão. Sor Boros desperte os carcereiros e certifique-se de que o anão continua na sua cela. — Não queria proferir o seu nome. Ele nunca teria encontrado coragem para erguer uma mão contra o pai, disse a si própria, mas tinha de ter a certeza.