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— Somos os seus herdeiros, Jaime — sussurrou. — Nos cabe terminar a sua obra. Tens de tomar o lugar do pai como Mão. Agora vês isso, certamente. Tommen irá precisar de ti… Ele afastou-a e ergueu o braço, pondo-lhe o coto em frente dos olhos.

— Uma Mão sem mão? Mau gracejo, irmã. Não me peças para governar. — O tio ouviu a recusa. Qyburn também, e os Kettleblack igualmente, lutando para fazer passar a sua trouxa pelas cinzas. Até os guardas ouviram, Puckens e Hoke e o Perna de Cavalo e o Orelha-Curta.

Todo o castelo saberá ao cair da noite. Cersei sentiu o calor a subir-lhe ao rosto.

— Governar? Nada disse de governar. Eu governarei até o meu filho ter idade.

— Não sei de quem tenho mais pena — disse o irmão. — Se de Tommen, se dos Sete Reinos.

Ela esbofeteou-o. O braço de Jaime ergueu-se para apanhar o golpe, com a rapidez de um gato… mas aquele gato tinha um coto de aleijado no lugar de uma mão direita. Os dedos dela deixaram marcas vermelhas da sua face.

O som levou o tio a erguer-se.

— O vosso pai jaz aqui morto. Tende a decência de levar a discussão lá para fora. — Jaime inclinou a cabeça, num pedido de desculpa.

— Perdoai-nos, tio. A minha irmã está doente de dor. Ela esquece o que é próprio.

Cersei desejou voltar a esbofeteá-lo por aquilo. Devia estar louca quando pensei que ele podia ser Mão. Mais depressa aboliria o cargo.

Quando lhe teria uma Mão trazido algo além de pesar? Jon Arryn pusera Robert Baratheon na sua cama, e antes de morrer começara também a farejar em volta dela e de Jaime. Eddard Stark apanhara o fio à meada onde Arryn o deixara; a sua intromissão forçara-a a livrar-se de Robert mais depressa do que teria desejado, antes de ter tempo de tratar dos seus pestilentos irmãos. Tyrion vendera Myrcella aos dorneses, tomara um dos seus filhos como refém e assassinara o outro. E quando Lorde Tywin regressara a Porto Real… O próximo Mão conhecerá o seu lugar, prometeu a si própria.

Teria de ser Sor Kevan. O tio era incansável, prudente, infalivelmente obediente. Poderia contar com ele, tal como o pai contara. A mão não discute com a cabeça. Tinha um reino para governar, mas teria necessidade de novos homens para a ajudar a governa-lo. Pycelle era um lambe botas trêmulo, Jaime perdera a coragem com a mão da espada, e Mace Tyrell e os seus amiguinhos Redwyne e Rowan não eram dignos de confiança. Tanto quanto sabia, podiam ter desempenhado um papel naquilo.

O Lorde Tyrell tinha de saber que nunca governaria os Sete Reinos enquanto Tywin Lannister vivesse.

Terei de me mover com cautela relativamente a esse. A cidade estava cheia dos seus homens, e ele até conseguira plantar um dos seus filhos na Guarda Real, e pretendia plantar a filha na cama de Tommen.

Ainda a deixava furiosa pensar que o pai concordara em prometer Tommen a Margaery Tyrell. A garota tem o dobro da idade dele e é duas vezes viúva. Mace Tyrell afirmava que a filha ainda era virgem, mas Cersei tinha as suas dúvidas. Joffrey fora assassinado antes de se poder deitar com a garota, mas ela fora primeiro casada com Renly… Um homem pode preferir o sabor do hipocraz, mas se puser uma caneca de cerveja na sua frente, emborca-a bem depressa. Teria de ordenar ao Lorde Varys para descobrir o que pudesse.

Aquilo a fez estacar. Esquecera-se de Varys. Ele devia estar aqui.

Está sempre aqui. Sempre que algo de importância acontecia na Fortaleza Vermelha, o eunuco aparecia como que saído de parte nenhuma.

Jaime está aqui, bem como o tio Kevan, Pycelle chegou e partiu, mas Varys não. Um dedo frio tocou-lhe a espinha. Ele participou nisto. Deve ter temido que o pai quisesse cortar-lhe a cabeça, portanto atacou primeiro.

O Lorde Tywin nunca sentira nenhuma amizade pelo afetado mestre dos sussurros. E se havia homem que conhecia os segredos da Fortaleza Vermelha, era certamente o mestre dos sussurros. Ele deve ter feito causa comum com Lorde Stannis. Afinal de contas, serviram juntos no conselho de Robert…

Cersei dirigiu-se à porta do quarto, para falar com Sor Meryn Trant.

— Trant, traga-me o Lorde Varys. Guinchando e esperneando, se tiver de ser, mas ileso.

— Às ordens de Sua Graça.

Mas assim que um homem da Guarda Real partiu, outro regressou.

Sor Boros Blount estava corado e ofegava da corrida precipitada pelos degraus acima.

— Desapareceu — arquejou, quando viu a rainha. Caiu sobre um joelho. — O Duende… tem a cela aberta, Vossa Graça… não há sinal dele em sítio nenhum… — O sonho era verdadeiro.

— Eu dei ordens — disse. — Ele deveria ser mantido sob guarda, de dia e de noite…

O peito de Blount palpitava.

— Um dos carcereiros também desapareceu. Chamava-se Rugen.

Dois outros homens foram encontrados a dormir.

Foi com dificuldade que evitou gritar.

— Espero que não os tenha acordado, Sor Boros. Deixe-os dormir.

— Dormir? — Ergueu o olhar, queixudo e confuso. — Sim, Vossa Graça. Quanto tempo deverá…

— Para sempre. Certifique-se de que eles durmam para sempre, sor.

Não admitirei que guardas durmam em serviço. — Ele está nas paredes. Ele matou o pai, tal como matou a mãe, e tal como matou Joff.

O anão também viria atrás dela, a rainha sabia, tal como a velha vaticinara na escuridão daquela tenda. Eu ri na cara dela, mas a mulher tinha poderes. Vi o meu futuro numa gota de sangue. A minha perdição.

Sentia as pernas fracas como água. Sor Boros tentou pegar-lhe no braço, mas a rainha afastou-se do seu toque. Tanto quanto sabia, ele podia ser uma das criaturas de Tyrion.

— Afaste-se de mim — disse. — Afaste-se! — Cambaleou até um banco.

— Vossa Graça? — disse Blount. — Deverei ir buscar uma taça de água? — Eu preciso é de sangue, não de água. O sangue de Tyrion, o sangue do valonqar.

Os archotes rodopiaram à sua volta. Cersei fechou os olhos, e viu o anão a sorrir-lhe. Não, pensou, não, já me tinha quase visto livre de ti. Mas os dedos dele tinham-se fechado em torno do seu pescoço, e sentia-os a começar a apertar.

BRIENNE

— Ando a procura de uma donzela de treze anos — disse ela à dona de casa de cabelo grisalho junto ao poço da aldeia.

 — Uma donzela bem nascida e muito bela, com olhos azuis e cabelo ruivo. Ela pode ter viajado com um cavaleiro corpulento de quarenta anos, ou talvez com um bobo. Você a viu?

— Que eu me lembre não, sor. — disse a mulher batendo na testa com os nós dos dedos. — Mas vou ficar alerta, ah isso vou.

O ferreiro também não a tinha visto, e o septão da aldeia também não, ou a moça que arrancava cebolas do seu jardim, ou qualquer outra das pessoas simples que a Donzela de Tarth encontrou entre as cabanas de taipa de Rosby. Mesmo assim, ela persistiu. Este é o caminho mais curto para Valdocaso, Brienne disse a si mesma. Se Sansa veio por aqui, alguém deve tê-la visto. Aos portões do castelo fez a sua pergunta aos dois lanceiros cujas divisas mostravam três asnas vermelhas em arminho, as armas da Casa Rosby.