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— Se ela está na estrada por estes dias, não será donzela por muito tempo — disse o homem mais velho. O mais novo quis saber se a moça era também ruiva entre as pernas.

Aqui não encontrarei ajuda. Quando Brienne voltou a montar, vislumbrou um rapaz magro em cima de um cavalo malhado na outra ponta da aldeia.

Não falei com aquele, pensou, mas o rapaz desapareceu atrás do septo antes dela ter tempo de interrogá-lo. Não se incomodou em segui-lo. O mais certo era ele não saber mais do que os outros. Rosby pouco mais era do que um sítio mais largo na estrada; Sansa não teria motivo algum para se demorar ali. Regressando à estrada, Brienne seguiu para o norte e para o leste, passando por pomares de macieiras e campos de cevada, e rapidamente deixou a aldeia e o seu castelo bem para trás. Seria em Valdocaso que encontraria a sua presa, disse ela a si própria. Se é que Sansa veio nesta direção.

— Encontrarei a moça e a manterei a salvo — prometera Brienne a Sor Jaime, em Porto Real.

— Pelo amor de sua velha mãe. E por vós. — Nobres palavras, mas proferir palavras era fácil. Agir era difícil. Demorara-se demasiado e ficara a saber muito pouco na cidade. Devia ter partido mais cedo… mas para onde?

Sansa Stark desaparecera na noite em que o Rei Joffrey morrera, e se alguém a vira desde então, ou tivera algum indício do local para onde ela poderia ter ido, não falavam. Pelo menos, não para mim.

Brienne estava convencida de que a moça deixara a cidade. Se ainda estivesse em Porto Real, os homens de mantos dourados a teriam encontrado. Tinha de ter ido para outro lugar… mas o outro lugar é um lugar muito grande. Se eu fosse uma donzela acabada de florir, sozinha e assustada, em desesperado perigo, o que faria? Perguntara a si mesma. Para onde iria? Para ela, a resposta foi simples. Regressaria a Tarth, para junto do pai. Mas o pai de Sansa fora decapitado na sua frente. A senhora sua mãe também estava morta, assassinada nas Gêmeas, e Winterfell, a grande fortificação dos Stark, fora saqueada e queimada, e transpassadas pela espada. Ela não tem um lar para onde correr, não tem pai, não tem mãe, não tem irmãos. Podia estar na vila seguinte, ou num navio com destino a Asshai; uma coisa parecia tão provável como a outra.

Mesmo se Sansa Stark quisesse ir para casa, como chegaria lá? A estrada do rei não era segura; até uma criança saberia disso. Os homens de ferro controlavam o Fosso Cailin no meio do Gargalo, e nas Gêmeas estavam os Frey, que tinham assassinado o irmão de Sansa e a senhora sua mãe. A moça podia ir por mar se tivesse dinheiro, mas o porto Porto Real continuava em ruínas, com o rio transformado numa confusão de cais quebrados e galés incendiadas e afundadas. Brienne fizera perguntas ao longo das docas, mas ninguém conseguia lembrar-se de um navio ter partido na noite em que o Rei Joffrey morrera. Alguns navios mercantes tinham vindo a ancorar na baía e a descarregar por intermédio de botes, dissera-lhe um homem, mas eram mais os que prosseguiam ao longo da costa até Valdocaso, cujo porto nunca tivera tanto movimento.

A égua de Brienne era linda de se ver, e manteve um belo ritmo.

Havia mais viajantes do que teria imaginado ser possível. Irmãos mendigando passavam por ela com as tigelas penduradas ao pescoço. Um jovem septão passou a galope num palafrém tão fino como o de qualquer lorde, e mais tarde encontrou um bando de irmãs silenciosas que abanaram as cabeças quando Brienne lhe fez as suas perguntas. Um comboio de carros de bois arrastava-se penosamente para sul com cereais e sacas de lã, e mais tarde passou por um criador de porcos que levava uma vara de animais, e por uma velha numa liteira a cavalo com uma escolta de guardas montados.

Perguntou a todos se teriam visto uma moça de nascimento elevado com treze anos, olhos azuis e cabelo ruivo. Nenhum vira. Interrogou-os também acerca da estrada que tinha em frente.

— Daqui a Valdocaso está bastante segura — disse-lhe um homem — mas depois de Valdocaso há foras da lei e homens quebrados na floresta.

Só os pinheiros marciais e as árvores sentinela ainda ostentavam verde; as árvores de folha caduca tinham vestido mantos de castanho-avermelhado e dourado, ou então haviam-se descoberto para arranhar o céu com ramos castanhos e nus. Cada rajada de vento fazia com que a estrada sulcada fosse atravessada por rodopiantes nuvens de folhas mortas. Faziam um som farfalhante ao esgueirar-se junto aos cascos da grande égua baia que Jaime Lannister lhe dera. É tão fácil encontrar uma folha no vento como uma moça perdida em Westeros. Deu por si a interrogar-se sobre se Jaime lhe teria atribuído aquela tarefa como uma cruel forma de gracejo. Talvez Sansa Stark estivesse morta, decapitada pelo papel desempenhado na morte do Rei Joffrey, enterrada em alguma sepultura anônima. Que melhor forma de esconder o seu assassinato do que enviar uma prostituta grande e estúpida de Tarth à sua procura?

Jaime não faria isso. Ele foi sincero. Deu-me a espada, e a chamou de Cumpridora de Promessas. Fosse como fosse, não fazia diferença.

Prometera à Senhora Catelyn que lhe traria as filhas de volta, e não havia promessa mais solene do que aquela feita aos mortos. A moça mais nova estava a muito morta, afirmava Jaime; a Arya que os Lannister tinham enviado para norte a fim de se casar com o bastardo de Roose Bolton era uma fraude. Só restara Sansa. Brienne tinha de encontra-la.

Perto do crepúsculo, viu uma fogueira de acampamento a arder ao lado de um regato. Dois homens encontravam-se sentados junto dela grelhando trutas, com as armas e armaduras empilhadas por baixo de uma árvore. Um deles era velho e o outro algo mais novo, embora estivesse longe de ser jovem. O homem mais novo ergueu-se para saudá-la. Tinha uma grande barriga que lhe esticava os cordões do seu gibão malhado de pele de corça. Uma barba desgrenhada e por aparar cobria-lhe o rosto e o queixo da cor de ouro antigo. — Temos truta o bastante para três, sor — gritou. Não era a primeira vez que Brienne era confundida com um homem. Tirou o elmo, deixando que o cabelo se derramasse, livre. Era amarelo, da cor de palha seca, e quase igualmente quebradiço. Longo e fino, foi soprado em volta dos seus ombros.

— Agradeço, sor.

O cavaleiro andante semicerrou os olhos com tal zelo que ela compreendeu que o homem devia ser míope. — É uma senhora? Armada e vestida de armadura? Illy, pela bondade dos deuses, o tamanho que ela tem.

— Também a tomei por um cavaleiro — disse o mais velho, virando as trutas. Se Brienne fosse um homem, a chamariam grande; para uma mulher, era enorme. Monstruosa era a palavra que ouvira a vida inteira. Era larga de ombros e mais larga nas ancas. As pernas eram longas, os braços grossos. O peito era mais músculo do que seio. As mãos eram grandes, os pés enormes. E além do mais era feia, com uma cara de cavalo e sardenta e dentes que pareciam ser quase grandes demais para a boca. Não precisava que lhe recordassem de nada daquilo.

— Sores, — disse — viram uma donzela de treze anos na estrada?

Tem olhos azuis e cabelo ruivo, e podia estar na companhia de um homem robusto de rosto vermelho com quarenta anos. O cavaleiro andante míope coçou a cabeça.

— Não me lembro de nenhuma donzela assim. Que tipo de cabelo é o ruivo?

— Vermelho-acastanhado, normalmente — disse o homem mais velho.

— Não, não a vimos.

— Não a vimos, senhora — disse-lhe o mais novo. — Venha, desmonte, o peixe está quase pronto. Está com fome?

De fato tinha, mas também tinha cautela. A reputação dos cavaleiros andantes era duvidosa. “Um cavaleiro andante e um cavaleiro assaltante são dois lados da mesma espada”, dizia-se. Aqueles dois não parecem muito perigosos. Posso saber os vossos nomes, sores?