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Algumas das correntes dos guinchos estavam presas a baldes de vime, outras a robustos baldes de carvalho. O maior destes últimos era mais alto do que Alayne, com arcos de ferro a cingir as suas aduelas castanhas escuras. Mesmo assim, quando pegou na mão de Robert e o ajudou a entrar, tinha o coração na garganta. Depois de o alçapão ser fechado atrás deles, a madeira rodeou-os por todos os lados. Só o topo estava aberto. É melhor assim, disse a si mesma, não podemos olhar para baixo. Abaixo deles havia apenas Céu e o céu. Cento e oitenta metros de céu. Por um momento deu por si curiosa em saber quanto tempo teria levado a sua tia a cair essa distância, e qual teria sido o seu último pensamento enquanto a montanha corria ao seu encontro. Não, não posso pensar nisso. Não posso!

— LARGA! — soou o grito de Sor Lothor. Alguém empurrou o balde com força. Este oscilou e inclinou-se, raspou no chão, e então balançou, livre. Alayne ouviu o crac do chicote de Mord e o chocalhar da corrente. Começaram a descer, a princípio aos sacões e sobressaltos, depois de uma forma mais regular. Robert tinha a cara pálida e os olhos inchados, mas as suas mãos estavam calmas. O Ninho da Águia encolheu por cima deles. As celas do céu dos andares inferiores faziam o castelo parecer-se um pouco com uma colmeia quando visto de baixo. Uma colmeia feita degelo, pensou Alayne, um castelo feito de neve. Ouvia o vento a assobiar em volta do balde.

Trinta metros mais abaixo, uma súbita rajada apanhou-os. O balde oscilou para o lado, girando no ar, e então colidiu com força contra a face da rocha atrás deles. Estilhaços de gelo e neve choveram sobre os dois, e o carvalho rangeu e deformou-se. Robert arquejou e a agarrou, enterrando a cara entre os seus seios.

— O meu senhor é corajoso — disse Alayne, quando o sentiu a tremer. — Estou tão assustada, que quase nem consigo falar, mas você não.

Sentiu-o a anuir.

— O Cavaleiro Alado era corajoso, e eu também sou — vangloriou-se o rapaz para o seu corpete. — Sou um Arryn.

— O meu pisco-doce abraça-me com força? — perguntou ela, embora ele já a estivesse a apertar tanto que quase não conseguia respirar.

— Se quiser — murmurou ele. E, fortemente abraçados um ao outro, continuaram a descer em direção a Céu.

Chamar castelo a isto é como chamar lago a uma poça no chão duma latrina, pensou Alayne, quando o balde foi aberto para saírem dentro do castelo intermediário. Céu não passava de uma muralha em forma de crescente, feita de pedra velha e sem argamassa, que rodeava uma saliência rochosa e a abertura escancarada de uma caverna. Lá dentro havia armazéns e estábulos, um longo salão natural, e os apoios entalhados que levavam ao Ninho da Águia. Lá fora, o terreno estava semeado de pedras e pedregulhos quebrados. Rampas de terra davam acesso à muralha. Cento e oitenta metros mais acima, o Ninho da Águia era tão pequeno que Alayne podia esconder o castelo com a mão, mas muito abaixo estendia-se o Vale, verde e dourado.

Vinte mulas esperavam dentro do castelo intermediário, com dois condutores de mulas e a Senhora Myranda Royce. A filha de Lorde Nestor revelou-se uma mulher baixa e carnuda, da mesma idade de Mya Stone, mas enquanto Mya era magra e vigorosa, Myranda tinha um corpo mole e de cheiro doce, largo de ancas, pesado de peito, e extremamente roliço. Os seus espessos caracóis cor de avelã enquadravam bochechas redondas e rubras, uma boca pequena, e um par de animados olhos castanhos. Quando Robert saiu cautelosamente do balde, ela ajoelhou-se numa mancha de neve para lhe beijar a mão e o rosto.

— Senhor — disse — se tornou tão grande!

Me tornei? — disse Robert, agradado.

— Em breve estará mais alto do que eu — mentiu ela. Pôs-se em pé e sacudiu a neve das saias. — E você deve ser a filha do Senhor Protetor —acrescentou, enquanto o balde iniciava, a chocalhar, a viagem de regresso ao Ninho da Águia. — Já tinha ouvido dizer que era bela. Vejo que é verdade.

Alayne fez uma vénia.

— A senhora é bondosa por dizê-lo.

— Bondosa? — A menina mais velha soltou uma gargalhada. — Que aborrecido que isso seria. Eu almejo ser malvada. Tem que me contar todos os seus segredos na viagem para baixo. Posso te chamar de Alayne?

Se quiser, senhora. — Mas de mim não arrancará segredos.

— Eu sou "senhora" nos Portões, mas aqui na montanha pode me chamar de Randa. Quantos anos tem, Alayne?

— Catorze, senhora. — Decidira que Alayne Stone devia ser mais velha do que Sansa Stark.

Randa. Parece que já se passaram cem anos desde que eu tive catorze. Como era inocente. Ainda é inocente, Alayne?

Alayne corou.

— Não devia... sim, claro.

— Está se guardando para Lorde Robert? — brincou a Senhora Myranda. — Ou haverá algum ardente escudeiro a sonhar com os seus favores?

— Não — disse Alayne, ao mesmo tempo que Robert dizia:

— Ela é minha amiga. Terrance e Gyles não podem ficar com ela.

Por aquela altura já um segundo balde chegara, batendo suavemente num monte de neve gelada. O Meistre Colemon saiu lá de dentro com os escudeiros Terrance e Gyles. O guincho seguinte trouxe Maddy e Gretchel, acompanhadas por Mya Stone. A menina bastarda não demorou a pôr-se ao comando.

— Não queremos nos amontoar na montanha — disse aos outros condutores de mulas. — Eu levo Lorde Robert e os companheiros. Ossy, você tras para baixo Sor Lothor e os outros, mas me dê um avanço de uma hora. Carrot, você ficará encarregado das arcas e caixas. — Virou-se para Robert Arryn, com o cabelo negro a esvoaçar ao vento. — Que mula montará hoje, senhor?

— Elas são todas fedorentas. Fico com aquela cinzenta que tem a orelha roída. Quero que Alayne venha comigo. E Myranda também.

— Onde o caminho for suficientemente largo. Venha, senhor, vamos te subir para a sua mula. Há um cheiro a neve no ar.

Passou-se mais meia hora antes de estarem prontos a partir. Quando todos montaram, Mya Stone deu uma ordem decidida, e dois dos homens de armas de Céu abriram os portões. Mya foi a primeira a sair, com Lorde  Robert logo atrás, enfaixado no seu manto de pele de urso. Alayne e Myranda Royce seguiam-nos, depois vinham Gretchel e Maddy, e a seguir Terrance Lynderly e Gyles Grafton. O Meistre Colemon fechava a retaguarda, trazendo pela arreata uma segunda mula carregada com as suas arcas de ervas e poções.

Para lá das muralhas, o vento aumentou rapidamente de intensidade.

Ali estavam acima da linha das árvores, expostos aos elementos. Alayne sentiu-se grata por ter vestido roupa tão quente. O manto batia ruidosamente atrás dela, e uma súbita rajada arrancou-lhe o capuz da cabeça. Soltou uma gargalhada, mas alguns metros mais à frente, Lorde Robert torceu-se e disse:

— Está frio demais. Devíamos voltar e esperar até o tempo ficar mais quente.

— No fundo do vale estará mais quente, senhor — disse Mya. — Ve-rá quando chegarmos lá.

— Eu não quero ver — disse Robert, mas Mya não lhe prestou atenção.

A estrada era uma tortuosa série de degraus de pedra esculpidos no flanco da montanha, mas as mulas conheciam cada centímetro dela. Isso deixou Alayne contente. Aqui e ali a pedra fora estilhaçada pela tensão causada por um sem-fim de estações, com os seus gelos e degelos. Aglomera-

ções de neve, de um branco que cegava, agarravam-se à rocha de ambos os lados do caminho. O sol brilhava, o céu estava azul, e havia falcões aos círculos por cima do grupo, cavalgando o vento.

Ali em cima, onde a encosta era mais íngreme, os degraus ziguezagueavam de um lado para o outro em vez de mergulharem a direito para baixo. Sansa Stark subiu a montanha, mas é Alayne Stone que desce.