A irmã Alys casou com Sor Elys Waynwood, tio da atual Senhora Waynwood. — Fez uma careta sardónica. — Elys e Alys, não é uma delícia?
O filho mais novo de Lorde Jasper, Sor Ronnel Arryn, casou com uma menina Belmore, mas só lhe tocou o sino uma ou duas vezes antes de morrer de um mal de barriga. Elbert, o filho deles, nasceu numa cama no momento em que o pobre Ronnel estava a morrer noutra ao fundo do corredor. Estás prestando atenção, querida?
— Sim. Havia Jon, Arys e Ronnel, mas Ronnel morreu.
— Ótimo. Bom, Jon Arryn casou por três vezes, mas as duas primeiras esposas não lhe deram filhos, de modo que durante longos anos o sobrinho Elbert foi seu herdeiro. Entretanto, Elys arava Alys com bastante diligência, e ela paria uma vez por ano. Deu-lhe nove filhos, oito meninas, e um precioso rapazinho, outro Jasper, após o que morreu, exausta. O jovem Jasper, sem mostrar consideração pelos heróicos esforços que tinham sido desenvolvidos para o gerar, arranjou maneira de ser escoiceado na cabeça por um cavalo aos três anos. Um surto de varíola levou-lhe duas das irmãs pouco depois, deixando seis. A mais velha casou com Sor Denys Arryn, um primo afastado dos Senhores do Ninho da Águia. Há vários ramos da Casa Arryn espalhados pelo Vale, todos tão orgulhosos como penuriosos, à exceção dos Arryn de Vila Gaivota que tiveram o raro bom senso de casar com mercadores. São ricos, mas não chegam a refinados, portanto ninguém fala deles. Sor Denys provinha de um dos ramos pobres e orgulhosos... mas também era combatente de renome em justas, bem-parecido e galante e transbordando de cortesia. E possuía aquele mágico nome Arryn, o que o tornava ideal para a mais velha das meninas Waynwood. Os seus filhos seriam Arryn, e os herdeiros seguintes do Vale, caso algo de mal acontecesse a Elbert. Bem, e calhou acontecer a Elbert o Rei Louco Aerys.
Conhece essa história?
Conhecia.
— O Rei Louco assassinou-o.
— De fato o fez. E, pouco depois, Sor Denys deixou a sua esposa Waynwood grávida para partir para a guerra. Morreu durante a Batalha dos Sinos, de um excesso de galanteria e de um machado. Quando contaram a sua morte à sua senhora, ela pereceu de desgosto, e o filho recém-nascido rapidamente a seguiu. Não importava. Jon Arryn arranjara uma jovem esposa durante a guerra, uma esposa que tinha motivos para julgar fértil. Estava muito esperançado, tenho a certeza, mas ambos sabemos que tudo o que obteve de Lysa foi nati-mortos, abortos, e o pobre Pisco-doce. O que nos traz de volta às restantes filhas de Elys e Alys. A mais velha foi deixada com terríveis cicatrizes pela mesma varíola que lhe mataram as irmãs, de modo que se tornou septã. Outra foi seduzida por um mercenário. Sor Elys expulsou-a, e ela juntou-se às irmãs silenciosas depois de o bastardo morrer bebê. A terceira casou com o Senhor das Bossas, mas demonstrou ser estéril.
A quarta ia a caminho das terras fluviais para casar com um Bracken qualquer quando Homens Queimados a levaram. Ficou a mais nova, que casou com um cavaleiro com terras, ajuramentado aos Waynwood, lhe deu um filho a que chamou Harrold, e faleceu. — Virou-lhe a mão e deu-lhe um leve beijo no pulso. — Portanto diz-me, querida: porque é Harry o Herdeiro?
Os olhos dela esbugalharam-se.
— Ele não é herdeiro da Senhora Waynwood. É herdeiro de Robert.
Se Robert morrer...
Petyr arqueou uma sobrancelha.
— Quando Robert morrer. O nosso pobre e bravo Pisco-doce é um rapaz tão enfermiço que é só questão de tempo. Quando Robert morrer, Harry, o Herdeiro, torna-se Lorde Harrold, Defensor do Vale e Senhor do Ninho da Águia. Os vassalos de Jon Arryn nunca gostarão de mim, nem do nosso pateta e trémulo Robert, mas gostarão do seu Jovem Falcão... e quando se reunirem para o seu casamento, e você sair com os teus longos cabelos ruivos, vestida com um manto de donzela de branco e cinzento com um lobo gigante desenhado na parte de trás... ora, todos os cavaleiros do Vale oferecerão as suas espadas para te reconquistar o que é teu por direito de sangue. De modo que são estes os presentes que eu te dou, minha querida Sansa... Harry, o Ninho da Águia, e Winterfell. Isso merece outro beijo, não acha?
BRIENNE
Este é um sonho ruim, pensou. Mas se ela estava sonhando, por que doía tanto?
A chuva tinha parado de cair, mas todo o mundo estava molhado. Sentia seu manto tão pesado quanto uma cota de malha.
As cordas que prendiam seus pulsos estavam encharcadas, mas isso só a deixava mais apertada. Não importa o quanto Brienne tentasse, ela não poderia escapar. Ela não sabia quem a tinha a prendido, ou por quê. Ela tentou perguntar às sombras, mas elas não responderam. Talvez elas não a ouvissem. Talvez elas fossem reais. Sob camadas de lã molhada e armadura enferrujada, sua pele estava vermelha e febril. Ela se perguntava se tudo isso era apenas um sonho provocado pela febre.
Ela tinha um cavalo debaixo dela, embora não conseguisse se lembrar de ter montado. Se deitou de bruços em sua parte traseira, como um saco de aveia. Seus pulsos e tornozelos estavam amarrados. O ar estava úmido, o chão envolto em névoa. Sua cabeça batia a cada passo. Ela podia ouvir vozes, mas tudo que ela podia ver era a terra sob os cascos do cavalo.
Havia coisas quebradas dentro dela. Sentia seu rosto inchado, e a face estava pegajosa com o sangue, e a cada sacudida sentia uma pontada de agonia em seu braço. Ela podia ouvir Podrick chamá-la, como se estivesse longe.
— Sor? — Ele dizia. — Sor? Minha senhora? Sor? Minha senhora?
— Sua voz estava fraca e difícil de ouvir. Finalmente, houve apenas silêncio.
Ela sonhou que estava em Harrenhal, outra vez na arena dos ursos.
Desta vez era Dentadas quem vinha de encontro a ela, enorme, calvo, branco como um verme, com feridas que choravam em seu rosto. Ele vinha pelado, acariciando seu membro, rangendo os dentes limados em conjunto. Brienne fugiu dele.
— Minha espada, — ela chamou. — Cumpridora de Promessas. Por favor. — Os espectadores não responderam. Renly estava lá, com Dick Nimble e Catelyn Stark. Shagwell, Pyg e Timeon também, e os cadáveres das árvores com as bochechas afundadas, línguas inchadas e órbitas vazias.
Brienne gemeu de horror ao vê-los, e Dentadas agarrou o braço dela e a puxou para mais perto, e rasgou um pedaço de seu rosto. — Jaime, — ela gritou, — Jaime.
Mesmo nas profundezas do sonho a dor estava lá. Seu rosto pulsava.
Seu ombro sangrava. A respiração falhava. A dor espalhava-se no braço como um relâmpago. Ela gritou por um meistre.
— Nós não temos meistre, — disse a voz de uma menina. — Só tem a mim.
Eu estou procurando uma menina, Brienne lembrou. Uma donzela nobre, com treze anos, de olhos azuis e cabelos ruivos.
— Minha senhora, — ela disse. — Senhora Sansa?
Um homem riu.
— Ela pensa que você é Sansa Stark.
V Ela não pode ir muito mais longe. Ela vai morrer.
— Um leão a menos. Eu não vou chorar.
Brienne ouviu o som de alguém orando. Ela pensou no Septão Meribald, porém não era uma de suas orações. A noite é escura e cheia de terrores, assim como os sonhos.
Eles estavam andando por um bosque sombrio, úmido, um lugar escuro, silencioso, onde os pinheiros cresciam muito juntos. O chão era macio sob os cascos de seu cavalo, e as faixas de sangue que ela deixava para trás. Ao lado dela montava Lorde Renly, Dick Crabb, e Vargo Hoat.
Sangue corria da garganta de Renly. E a orelha rasgada da cabra estava cheia de pus.
— Para onde vamos? — Brienne perguntou. — Onde vocês estão me levando? — Nenhum deles iria responder. Como eles poderiam responder? Todos eles estão mortos. Isso significava que ela estava morta também?