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Lorde Renly, seu doce rei sorridente, ia atrás dela. Ele estava conduzindo seu cavalo por entre as árvores. Brienne o chamou para dizer o quanto ela o amava, mas quando se virou para a carranca dele, ela percebeu que não era Renly. Renly nunca fez uma careta. Ele sempre tinha um sorriso para mim, pensou ... exceto ...

— Frio, — disse seu rei, perplexo, e uma sombra sem homem se projetou para ele, e o sangue de seu doce senhor correu pelo aço verde do gorjal e lhe banhou as mãos. Ele tinha sido um homem quente, mas o seu sangue estava frio como gelo. Isto não é real, ela disse a si mesma. Este é um outro sonho ruim, e logo eu vou acordar.

Sua montaria deu uma parada súbita. Mãos ásperas a agarraram. Ela viu raios de luz vermelha da tarde oblíqua através dos galhos de uma castanheira. Um cavalo pairava entre as folhas mortas depois das castanheiras, e os homens moviam-se por perto, conversando em voz baixa.

Dez, doze, talvez mais. Brienne não conseguia reconhecer seus rostos. Ela estava estendida no chão, de costas contra um tronco de árvore.

— Beba isso, Minha senhora, — disse a voz da menina. Levou um copo aos lábios de Brienne. O gosto era forte e azedo. Brienne cuspiu para fora. — Água, — ela ofegou. — Por favor. Água.

— A água não vai ajudar com a dor. Se é sua vontade. Tome aqui um pouco." A menina levou o copo aos lábios Brienne novamente.

Até beber era doloroso. Vinho correu pelo queixo e pingou em seu peito. Quando se esvaziou, a menina o encheu novamentede de um odre.

Brienne bebeu até não poder suportar mais.

— Não mais.

— Mais. Você tem um braço quebrado, e algumas de suas costelas estão rachadas. Duas, talvez três.

— Dentadas, — Brienne disse, lembrando de seu peso, da maneira como seu joelho tinha batido em seu peito.

— Sim. Um verdadeiro monstro.

Ela se lembrou de tudo de repente; dos relâmpagos no céu, da lama no chão, da chuva pingando suavemente contra o aço escuro do elmo de Cão de Caça, a terrível força nas mãos de Dentadas. De repente, ela não pode surportar as amarras. Ela tentou arranca-las, ficar livre das cordas, mas tudo o que fez foi ficar mais irritada. Os pulsos haviam sido amarrados com muita força. Havia sangue seco sobre o cânhamo.

Ele está morto? — Ela estremeceu. — Dentadas. Ele está morto? —Lembrou-se dos dentes rasgando a carne de seu rosto. O pensamento de que ele ainda poderia estar lá fora em algum lugar, respirando, dava a Brienne vontade de gritar.

— Ele está morto. Gendry empurrou uma ponta de lança na parte de trás do pescoço. Beba, minha senhora, ou vou derramar tudo em sua garganta.

— Ela bebeu.

— Estou procurando uma garota, — ela sussurrou, entre cada golada. Ela quase disse: a minha irmã. — Uma doce donzela de treze anos.

Ela tem olhos azuis e cabelos ruivos.

— Eu não sou ela.

Não. Brienne podia ver isso. A menina era magra ao ponto de ter o olhar faminto. Usava o cabelo castanho em uma trança, e seus olhos eram mais velhos do que seus anos. Cabelos castanhos, olhos castanhos, liso.

Willow, seis anos mais velha.

— Você é a irmã. A estalajadeira.

— Eu poderia ser. — A menina apertou os olhos. — E se eu for?

— Você tem um nome? — Brienne perguntou. Seu estômago borbulhava. Ela temia que fosse vomitar.

— Liza. Como Willow. Jeyne Liza.

— Jeyne. Desate minhas mãos. Por favor. Tenha piedade. As cordas estão fazendo escoriações em meus pulsos. Estou sangrando.

— Não é permitido. Você tem que continuar atada, até que... até que você fique diante da minha senhora. — Renly estava atrás da garota, afastando os cabelos negros de seus olhos. Não Renly. Gendry. — Minha senhora quer que você responda por seus crimes.

— Minha senhora. — O vinho fazia sua cabeça girar. Era difícil pensar. — Coração de pedra. É o que você quer dizer? — Lorde Randyll tinha falado dela em Lagoa da Donzela. — Senhora Coração de Pedra.

— Alguns a chamam assim. Alguns a chamam de outras coisas. A irmã silenciosa. Mãe Impiedosa. A Mulher Enforcadora.

A Mulher Enforcadora. Quando Brienne fechou seus olhos, viu os corpos balançando nus sob os galhos marrons, pretos com seus rostos inchados. De repente, ela sentiu muito medo.

— Podrick. Meu escudeiro. Onde está Podrick? E os outros... Sor Hyle, Septão Meribald. O cachorro. O que você fez com o cachorro?

Gendry e a menina trocaram olhares. Brienne tentou se levantar, e conseguiu levar uma joelhada antes que o mundo começasse a girar.

— Foi você que matou o cachorro, minha senhora, — ela ouviu Gendry dizer, pouco antes de a escuridão engoli-la novamente.

Então, ela estava de volta nos Sussuros, em pé entre as ruínas e de frente para Clarence Crabb. Ele era enorme e feroz, montava um auroque mais peludo do que ele. A besta pateava o chão furiosa, rasgando sulcos profundos na terra. Os dentes de Crabb eram afiados, pontiagudos. Quando Brienne foi pegar sua espada, encontrou sua bainha vazia.

— Não, — ela chorou, quando Sor Clarence cavalgou contra. Não era justo. Ela não poderia lutar sem a sua espada mágica. Sor Jaime tinha dado a ela. Ia falhar, assim como tinha falhado com Renly. — Minha espada.

Por favor, eu tenho que encontrar a minha espada.

— A moça quer que sua espada de volta, — declarou uma voz.

— E eu quero Cersei Lannister para chupar meu pau. E daí?

— Jaime a chama de Cumpridora de Promessas. Por favor. — Mas as vozes não deram ouvidos, e Clarence Crabb caiu sobre ela e arrancou sua cabeça. Brienne desceu em espiral para uma escuridão mais profunda.

Ela sonhou que estava deitada em um barco, a cabeça em um travesseiro, no colo de alguém. Havia sombras em torno deles, homens encapuzados em cotas de malha e artigos de couro, remando em um rio nebuloso, abafando os remos para evitar produzirem barulho. Ela estava encharcada de suor, ardendo, mas de alguma forma tremendo também. O nevoeiro estava repleto de faces.

— Beleza, — sussurraram os salgueiros na margem, mas os juncos disseram”

— Monstro, monstro. Brienne estremeceu.

— Parem, — disse ela. — Alguém faça-os parar. — Na próxima vez que ela acordou, Jeyne levou as seus lábios uma colher de sopa quente.

Cebola, caldo de carne, Brienne pensou. Ela bebeu tanto quanto pode, depois pegou um pedaço de cenoura e o pos na boca, mas engasgou. A tosse era uma agonia.

— Fique tranquila, — a menina disse.

— Gendry, — ela ofegou. — Eu tenho que falar com Gendry"

— Ele voltou ao rio, minha senhora. Voltou para a forja, para proteger Willow e os pequeninos, para mantê-los seguros.

Ninguém pode mantê-los seguros. Ela começou a tossir.

— Ah, deixe-a engasgar. Poupe-nos uma corda. — Um homem das sombras empurrou a menina de lado. Ele estava usando anéis enferrujados e um cinto cravejado. Pendurada em seu quadril estava uma espada longa e um punhal. Uma capa amarela lhe cobria os ombros, encharcada e suja. Tinha emcima dos ombros uma cabeça de cachorro de aço, seus dentes à mostra em um rosnado.

— Não, — Brienne gemeu. — Não, você está morto, eu matei você.

O Cão riu.

— Para trás. Eu é que vou matar você. Eu faria isso agora, mas minha senhora quer vê-la enforcada.

Enforcada. A palavra a deu um calafrio de medo. Ela olhou para a menina, Jeyne. Ela é muito jovem para ser tão dura.

— Pão e sal, — Brienne engasgou. — A estalagem... Septão Meribald alimentou as crianças... partiu o pão com sua irmã...

— A prerrogativade de hóspedes não é o que parecia, — disse a menina. — Ainda menos desde que minha senhora voltou do casamento.