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Alguns desses que balançam à beira do rio também acreditavam serem convidados.

— Foi um pequeno mal entendido, — disse Cão de Caça. — Eles queriam camas. Nós demos árvores.

— Nós ainda temos mais árvores, porém, — disse outro homem na sombra, tinha apenas um olho sob um elmo enferrujado. — Nós sempre temos mais árvores.

Quando chegou a hora de montarem novamente, eles taparam seu rosto com uma capa de couro. Não tinha buraco para os olhos. O couro abafava os sons ao seu redor. O gosto de cebolas permanecia em sua língua afiada, como lembrança de seu fracasso. Vão me enforcar. Ela pensou em Jaime, em Sansa, em seu pai em Tarth, e se alegrou de ter o capus. Ele ajudou a esconder as lágrimas em seus olhos. De vez em quando ela ouvia os bandidos falarem, mas ela não conseguia distinguir suas palavras. Depois de um tempo ela se entregou ao cansaço e ao movimento lento e constante de seu cavalo.

Desta vez, ela sonhou que estava em casa novamente. Através das altas janelas arqueadas no salão do senhor seu pai, ela podia ver o sol. Eu estou segura aqui. Eu estou segura aqui.

Ela estava vestida com um brocado de seda, e um vestido azul e vermelho decorado com sóis dourados e luas crescentes de prata. Em outra garota aquele poderia ter sido um lindo vestido, mas não sobre ela. Ela tinha doze anos, desajeitada e desconfortável, esperando para se encontrar com o jovem cavaleiro que seu pai tinha arranjado para ela se casar, um menino seis anos mais velho que ela, com a certeza de ser um campeão famoso um dia. Ela temia sua chegada. Seus seios eram muito pequenos, e as mãos e os pés muito grandes. Seu cabelo se arrupiava constantemente, e tinha uma espinha aninhada do lado do seu nariz.

— Ele vai trazer uma rosa para você, — seu pai lhe prometeu, mas uma rosa não era boa, uma rosa não poderia mantê-la segura. Era uma  espada que ela queria. Cumpridora de Promessas. Eu tenho que encontrar a garota. Tenho que recuperar a horna de Jaime.

Finalmente as portas se abriram, e seu noivo caminhou na sala de seu pai. Ela tentou cumprimentá-lo como tinha sido instruída a fazer, só para ter sangue saindo de sua boca. Ela tinha mordido a língua mais forte do que queria. Ela cuspiu aos pés do jovem cavaleiro, e viu o desgosto em seu rosto.

— Brienne a Beleza, — disse ele em tom de zombaria. — Eu vi semeadoras mais bonitas que você. — Ele jogou a rosa na cara dela.

Enquanto se afastava, os grifos em seu manto ondulado e turvo se transformaram em leões . Jaime! Ela queria chorar. Jaime, volte para mim!

Mas a língua estava deitada no chão, junto da rosa, afogada em sangue.

Brienne acordou de repente, ofegante.

Ela não sabia onde estava. O ar estava frio e pesado, e cheirava a terra, a vermes e a fungos. Ela estava deitada sobre um monte de peles de ovelhas, havia uma pedra acima de sua cabeça e raízes sobressaiam-se das paredes. A única luz vinha de uma vela de sebo, fumegante em uma poça de cera derretida.

Ela afastou as peles. Alguém a tinha despido de suas roupas e armadura. Ela estava vestida com um vestido de lã marrom, fino, mas bem lavado. Seu antebraço tinha sido imobilizado e ligado à roupa. Um dos lados de seu rosto estava molhado e rígido. Quando ela tocou a si mesma, encontrou uma espécie de cataplasma úmido cobrindo o rosto, o maxilar e a orelha. Dentadas...

Brienne ficou de pé. Sentia suas pernas tão fracas como a água, e a cabeça tão leve como o ar.

— Tem alguém aí?

Algo se moveu em uma das alcovas, nas sombras atrás da vela, um homem cinzento, velho e vestido com trapos. As mantas que a cobriam escorregaram para o chão. Ela se sentou e esfregou os olhos.

— Senhora Brienne? Você me deu um susto. Eu estava sonhando.

Não, ela pensou, eu é que estava.

— Que lugar é esse? É uma masmorra?

— Uma caverna. Como ratos, temos que correr de volta para os nossos buracos quando os cães farejadores vêm atrás de nós, e há mais cães a cada dia. — Ele estava vestido com os restos esfarrapados de um manto velho, rosa e branco. Seu cabelo era longo e cinza, e embaraçado, a pele solta das bochechas e do queixo estava coberta com uma palha grossa. — Você está com fome? Você gostaria de um copo de leite? Talvez um pouco de pão e mel?

— Eu quero as minhas roupas. Minha espada. — Sentia-se nua sem a sua cota de malha, e ela queria a Cumpridora de Promessas ao seu lado. —O caminho para fora daqui. Mostre-me o caminho para sair. — O chão da caverna era terra e pedra, áspera sob a sola dos seus pés. Mesmo agora, ela sentia-se tonta, como se estivesse flutuando. A luz bruxeleante projetava sombras estranhas. Espíritos dos mortos, pensou ela, dançando sobre mim, escondendo-se quando me viro para olhar para eles. Em todos os lugares viu buracos, fendas e rachaduras, mas não havia maneira de saber quais passagens iam para fora, e quais poderiam levá-la mais para fundo da caverna, e quais não dariam em nada. Todas eram negras como breu.

— Posso sentir sua testa, minha senhora? — A mão do carcereiro estava cheia de feridas e calos duros, mas era estranhamente delicada. —Sua febre acabou, — anunciou, numa voz floreada com o sotaque das Cidades Livres. — Muito bem. Ontém a sua carne parecia como se estivesse em fogo. Jeyne temia que pudéssemos perdê-la.

— Jeyne. A menina alta?

— Essa mesma. Embora ela não seja tão alto quanto você, minha senhora. Jeyne, a comprida, os homens a chamam. Foi ela quem cuidou do seu braço, tão bem quanto qualquer meistre. Ela fez o que pode no seu rosto, bem como, lavou as feridas com cerveja fervida para parar a mortificação.

Mesmo assim... uma mordida humana é uma coisa imunda. Foi daí que a febre veio, estou certo disso. — O homem grisalho tocou seu rosto enfaixado. — Tivemos que cortar algum pedaço de carne. Temo que seu rosto não vá ficar muito bonito.

Nunca foi tão bonito.

— Vão ficar cicatrizes, você quer dizer?

— Minha senhora, aquela criatura mastigou fora metade da sua bochecha.

Brienne não pode deixar de estremecer. Todo cavaleiro tem cicatrizes de batalha, Sor Goodwin a avisara quando ela lhe pediu para que ele a ensinasse a usar uma espada.

— É isso que você quer, criança? — Porém, seu velho mestre de armas se referia a cortes de espada, ele nunca poderia ter antecipado dentes tão pontudos quanto os de Dentadas.

— Por que arrumar meus ossos e lavar as minhas feridas se você só quer me enforcar?

— Por quê? — Ele olhou para a vela, como se já não suportasse mais olhar para ela. — Você lutou bravamente na estalagem, disseram-me.

Lem não deveria ter saído da encruzilhada. Foi-lhe dito para ficar perto, escondido, e vir de imediato se visse fumaça saindo da chaminé... mas quando lhe chegou a notícia de que o Cachorro Louco das Salinas tinha sido visto trilhando um caminho ao longo do norte do Ramo Verde, ele mordeu a isca. Tivemos o caçado por tanto tempo... Ainda assim, ele deveria ter sido mais sensato. Levou metade de um dia para perceber que os mascarados tinham usado um córrego para esconder seus rastros e ficar atrás dele, então ele perdeu mais tempo circulando em torno de uma coluna de cavaleiros de Lorde Frey. Se não fosse por você, Lem e seus homens teriam encontrado apenas cadáveres. Foi por isso que Jeyne cuidou de suas feridas. O que quer que tenha feito, você ganhou essas feridas honradamente, defendendo a melhor causa possível.

O que quer que tenha feito.

— O que é que você acha que eu fiz? — Disse. — Quem é você?

— Nós fomos homens do rei quando começamos, — o homem lhe disse: — mas os homens do rei precisam ter um rei, e não temos nenhum.

Éramos irmãos também, mas agora a nossa irmandade está quebrada. Eu não sei quem somos, verdade seja dita, nem para onde vamos. Eu só sei que a estrada é escura. Os incêndios não me mostram final algum.