— Enforque eles, — ela resmungou.
— Ao seu comando, minha senhora, — disse o homem grande.
Eles amarraram os pulsos Brienne novamente com corda e levaram-a pela caverna, seguindo um caminho pedregoso que ia para a superfície.
Surpreendeu-se com a manhã quando chegaram do lado de fora. Feixes de luz pálida do amanhecer se inclinavam através das árvores. Tantas árvores para escolher, pensou ela. Eles não precisarão nos levar longe.
Foi assim mesmo. Debaixo de um salgueiro torto, os bandidos laçaram uma corda em volta do pescoço, sacudiram-a firmemente, e jogaram a outra ponta da corda sobre um galho. Hyle Hunt e Podrick Payne foram dados a olmos. Ser Hyle estava gritando que iria matar Jaime Lannister, mas Cão de Caça o calou com uma bofetada. Ele tinha posto o elmo de novo.
— Se vocês têm pecados a confessar aos seus deuses, este seria o momento de dizer.
— Podrick nunca fez mal a você. Meu pai vai resgatá-lo. Tarth é chamada a ilha de safira. Envie Podrick com meus ossos ao Entardeecer, e você terá safiras, prata, o que você quiser.
— Quero minha esposa e filha de volta, — disse o Cão de Caça. — Seu pai pode me dar isso? Se não, ele vai ficar arruinado. O menino vai apodrecer ao seu lado. Lobos vão roer seus ossos.
— Você vai enforcá-la de uma vez, Lem? — Perguntou o homem de um olho só. — Ou você pretende faze-la falar até a morte?
O Cão arrebatou o fim da corda do homem que a segurava.
— Vamos ver se ela pode dançar, — disse ele, e deu um puxão.
Brienne sentiu o cânhamo se contraindo, cavando em sua pele, puxando o queixo para cima. Sor Hyle os xingou com eloqüência, mas não o menino. Podrick não levantou os olhos, nem mesmo quando seus pés estavam se erguendo do chão. Se este é outro sonho, é hora de despertar. Se isto é real, é hora de morrer. Tudo o que ela podia ver era Podrick, a corda em seu pescoço fino, com as pernas a se mexerem. Sua boca se abriu. Pod estava esperneando, sufocando, morrendo. Brienne sugou o ar desesperadamente, até que a corda a estrangulou. Nunca sentira uma dor tão intensa.
Ela gritou uma palavra.
CERSEI
A Septã Moelle era uma bruxa de cabelos brancos com o rosto tão afiado como um machado e com os lábios franzidos perpetuamente em um gesto de desaprovação.
Certeza de que ainda é uma donzela, pensou Cersei. Ainda que, a essas alturas, tenha a virgindade mais rígida e resistente que o couro endurecido.
As escoltavam seis cavaleiros do Pássaro Supremo, com a espada arco-íris de sua ordem renascida gravada nos escudos de lágrima.
— Septã, diga a Sua Altíssima Santidade que isto é um ultraje. Não toleraremos tamanha ousadia. — Cersei estava sentada ao pé do Trono de Ferro, vestida de sedas verdes e renda dourada. As esmeraldas brilhavam em seus dedos e em sua cabeleira dourada. Os olhos da corte e de toda a cidade estavam cravados nela, e queria que vissem a filha de Lorde Tywin. Quando terminasse aquela farsa de saltimbancos, todos saberiam que só tinham uma rainha verdadeira. Mas para isso teremos que bailar sem que se vejam as cordas. — Lady Margaery é a esposa de meu filho, sua abnegada companheira e amiga. Sua Altíssima Santidade não tem motivos para tocar em um fio de cabelo de sua pessoa, nem para confinar a ela e a suas primas, que tanto queremos. Exijo que as libere imediatamente.
A expressão severa da septã Moelle não mudou.
— Transmitirei a Sua Altíssima Santidade as palavras de Vossa Graça, mas me dói ter que dizer que a jovem rainha e suas damas não ficarão em liberdade, a menos que se prove a sua inocência.
— Inocência? Só é necessário olhar para seus rostos, tão doces e jovens, para ver como são inocentes.
— Com frequência, um rosto doce oculta um coração pecador.
— De que ofensa se acusa essas jovens donzelas? — perguntou Lorde Merryweather, que estava sentado à mesa do conselho. — E quem às acusa?
— Megga e Elinor Tyrell estão sendo acusadas de despudor, fornicação e conspiração para cometer traição. — Respondeu a septã. —Alla Tyrell é acusada de presenciar sua desonra e ajuda-las a oculta-la. A rainha Margaery está sendo acusada do mesmo, assim como de adultério e alta traição.
Cersei levou uma mão ao peito.
— Diga-me quem dissemina semelhantes calúnias sobre a minha nora! Não acredito em nenhuma palavra disso. Meu querido filho ama a Senhora Margaery com todo o seu coração; ela jamais teria a crueldade de traí-lo.
— O acusador é um cavaleiro de sua própria casa. Sor Osney Kettleback confessou sua relação carnal com a rainha diante do Alto Septão e diante do altar do Pai.
Na mesa do conselho, Harys Swyft deixou escapar uma exclamação, e o Grande Meistre Pycelle arregalou os olhos. Um murmúrio encheu o ar, como se houvessem soltado milhares de vespas no Salão do Trono. Várias damas nos corredores começaram a se retirar, seguidas por um punhado de senhores menores e cavaleiros situados ao fundo do aposento. Os mantos dourados os deixaram sair, mas a rainha havia dado instruções a Sor Osfryd para que prestasse atenção a todos os fugitivos.
De repente, a rosa Tyrell já não cheira mais tão bem.
— Sor Osney é um jovem luxurioso, não ignoro isso. — Replicou a rainha. —Mas também é um cavaleiro fiel. Se disse que participou desta...
Não, não pode ser. Margaery é uma donzela!
— Não. Eu mesma a examinei por ordem de sua Altíssima Santidade. Sua virgindade não está intacta. As septãs Aglantine e Melicent confirmarão isso a vocês, assim como a própria septã da rainha Margaery, Nysterica, que se encontra confinada em um cela de penitência por tomar parte na desonra da rainha. Também examinamos as senhoras Megga e Elinor. Nenhuma das duas estava intacta.
As vespas zumbiam tanto que a rainha quase não podia pensar.
Espero que a pequena rainha e suas primas tenham disfrutado de suas cavalgadas.
Lorde Merryweather deu um soco na mesa.
— A Senhora Margaery prestou juramento solene diante de Sua Alteza, a Rainha, e de seu defunto pai, jurou que era donzela. Muitos foram testemunhas. Lorde Tyrell também testemunhou sobre sua inocência, assim como a Senhora Olenna, cuja reputação é intocável. Quer que acreditemos que todas essas nobres pessoas mentiram para nós?
— Talvez também estivessem enganadas, meu senhor. —E respondeu a Septã Moelle. — Não poderia dizer nada sobre isso. Só posso dar a certeza do que descobri eu mesma, quando examinei a rainha.
A imagem daquela velha amarga metendo os dedos enrugados na pequena boceta rosada de Margaery era tão cômica que Cersei esteve a ponto de começar a rir.
— Insistimos que Sua Altíssima Santidade permita que nossos meistres examinem minha nora, para determinar se há algum rastro de verdade nestas injúrias. Grande Meistre Pycelle, acompanhe a septã Moelle ao septo de Baelor, o Abençoado e volte para nos trazer à verdade sobre a virgindade de Margaery.
Pycelle havia adquirido uma cor parecida com leite coalhado.
O velho imbecil não se cala nunca nas reuniões do conselho, e agora que necessito que digo quatro palavras se torna mudo, pensou a rainha.
— Não é necessário que eu examine as suas... partes íntimas. — Disse enfim o ancião, com a voz trêmula. — Me dói ter que dizer isso, mas... a rainha Margaery não é donzela. Tem me pedido que lhe prepare o chá da lua, e não uma vez, mas muitas.
O rugido que seguiu as suas palavras foi maior do que Cersei Lannister havia se atrevido a esperar.