— Terá um meistre assim que confesse. — Meditou por um instante.
— É demasiado velho para ser um dos amantes, mas com certeza cantou e tocou para Margaery enquanto ela se divertia com outros homens.
Necessitamos de detalhes.
— O ajudarei a recordar, Vossa Graça.
No dia seguinte, A Senhora Merryweather ajudou Cersei a vestir-se para ver a pequena rainha.
— Nada muito opulento ou vistoso. — Lhe disse. — Algo apropriado, devoto e sem graça, adequado para as vistas do Alto Septão.
Com certeza ele me fará rezar com ele.
Por fim, optou por um vestido de lã suave que a cobria até os tornozelos, sem mais adorno que umas poucas rendas bordadas com fio de ouro no busto e nas mangas, para aliviar a austeridade da corte. E o melhor era que o marrom esconderia a sujeira, caso tivesse que se ajoelhar.
— Enquanto consolo a minha nora, vá falar com as três primas. — Disse a Taena. — Se for possível, ganhe a confiança de Alla, mas cuidado com o que vá dizer. Pode ser que os deuses não sejam os únicos que estejam escutando.
Jaime sempre lhe disse que o pior de uma batalha era o momento prévio, enquanto se esperava o começo da carnificina. Ao sair, Cersei percebeu que o céu estava cinzento e nublado. Não podia se arriscar a sair debaixo de uma chuva; chegaria ensopada e pingando ao Septo de Baelor.
Teria que ir na liteira. Escolheu como escolta dez guardas da Casa Lannister e Boros Blount.
— Pode ser que o povo de Margaery não tenha suficiente senso para diferenciar um Kettleback do outro. — Disse a Sor Osmund. — E eu não quero que você seja obrigado a ferir alguém. É melhor que durante algum tempo, não se veja muito do senhor por aí.
Enquanto cruzavam Porto Real, Taena sentiu uma dúvida repentina.
— Este julgamento... — começou em voz baixa. — O que acontecerá se Margaery exigir que sua culpa ou inocência se determinem por combate?
Um sorriso dançou nos lábios de Cersei.
— Em sua qualidade de rainha, somente um cavaleiro da Guarda Real poderá defender sua honra. Até os meninos de Westeros sabem como o príncipe Aemon, o Cavaleiro de Dragão, defendeu sua irmã, a rainha Naerys, contra as acusações de Sor Morghil. Mas Sor Loras está muito ferido, assim algum de seus Irmãos Juramentados terá que ocupar o posto do príncipe Aemon. — Encolheu os ombros. — Quem poderia se encarregar disso? Sor Aerys e Sor Balon estão muito longe, em Dorne; Sor Jaime marchou até Correrrio, e Sor Osmund é irmão do homem que a acusa, então só lhe restam... Oh, céus.
— Boros Blount e Meryn Trant. — A Senhora Taena começou a rir.
— Sim, e Sor Meryn não se encontra muito bem ultimamente.
Lembre-me de dizer isso a ele quando voltarmos ao castelo.
— Claro querida. — Taena lhe tomou a mão e a beijou. — Espero não te ofender jamais. Quando está zangada é temível.
— Qualquer mãe faria o mesmo para proteger os seus filhos. — Replicou Cersei. — E quando irá trazer o seu para a corte? Se chama Russell, não é verdade? Poderia treinar junto com Tommen.
— Com certeza ele ficaria encantado, mas agora tudo é tão inseguro... Penso que é melhor esperar que o perigo passe.
— Não deve demorar. —Prometeu Cersei. — Envie uma mensagem a Granmesa e diga a Russell que pegue seu melhor casaco e sua espada de madeira. Um novo amigo será exatamente o que Tommen precisará para esquecer sua perda, quando rolar a cabecinha de Margaery.
Desceram da liteira diante da estátua de Baelor, o Abençoado. A rainha se alegrou ao ver que haviam limpado os ossos e a sujeira. O que Sor Osfryd havia dito era verdade: aquela multidão não era tão numerosa nem tão rebelde como a dos mendigos. Estava reunida em pequenos grupos, contemplando com gesto débil a portas do Grande Septo, onde havia uma fileira de septões noviços com lanças nas mãos.
Nada de aço, percebeu Cersei.
Era uma boa ideia, ou uma enorme estupidez; ela não estaria segura.
Ninguém fez algum movimento para detê-la. Tanto o povo como os noviços se afastaram para abrir caminho. Do outro lado das portas, três cavaleiros vestidos com as túnicas de raios de cores dos Filhos do Guerreiro às receberam na Sala das Lâmpadas.
— Venho ver a minha nora. —Disse Cersei.
— Sua Altíssima Santidade está esperando-os. Sou Sor Theodan, o Fiel, antigamente Sor Theodan Wells. Acompanhe-me, Vossa Graça, por favor.
O Mendigo Supremo estava de joelhos, como sempre. Naquela ocasião estava rezando perante o altar do Pai. Em lugar de interromper as suas orações pela chegada da rainha, a fez aguardar impacientemente até que terminou. Então se levantou e lhe fez uma reverência.
— É um dia amargo, Vossa Graça.
— Muito. Temos sua permissão para falar com Margaery e suas primas?
Optou por uns modos humildes e submissos; com aquele homem eram os que melhor resultado lhe daria.
— Se é o que deseja... Quando terminar, volte a mim, minha filha.
Temos que rezar juntos.
A pequena rainha estava confinada em uma das esbeltas torres do Grande Septo. Sua cela media doze palmos de largura por seis de comprimento, e não continha mais que um colchão recheado de palha, um oratório para rezar, uma jarra de água, um exemplar de A Estrela de Sete Pontas e uma vela para lê-lo. A única janela era pouco mais larga que uma pia.
Quando Cersei chegou, Margaery estava descalça e trêmula, vestida com a túnica de lã de uma irmã noviça. Tinha os cabelos embaraçados e os pés sujos.
— Levaram as minhas roupas. — Disse a pequena rainha quando ficaram a sós. — Estava vestindo uma túnica marfim com pérolas brancas nas rendas, mas as septãs colocaram as mãos em mim e me despiram. O
mesmo fizeram com as minhas primas. Megga deu um empurrão em uma septã, que caiu entre as velas e teve o hábito incendiado. Mas por quem eu mais temo é Alla. Ficou branca como leite; tinha tanto medo que nem sequer chorava.
— Pobre menina. — Não havia cadeiras, de modo que Cersei se sentou no colchão, junto da pequena rainha. — A Senhora Taena foi falar com elas para lhes dizer que não a esquecemos.
— Nem sequer me deixam vê-las. — Disse Margaery, furiosa. — Nos mantêm isoladas. Até esse momento, não tive permissão para receber visitas; somente as septãs podiam entrar. Há uma que vem uma vez por hora, para me perguntar se desejo confessar meus pecados. Nem me deixam dormir! Me despertam para exigir que me confesse. Noite passada, confessei à septã Unella que tinha vontade de arrancar os seus olhos.
Que pena que não os arrancou, pensou Cersei. Se deixasse cega uma pobre septã anciã, terminaria de convencer tua culpa ao Mendigo Supremo.
— Suas primas estão sendo interrogadas da mesma maneira.
— Malditos sejam! — Exclamou Margaery. — Tomara que ardam nos sete infernos. Alla é tão doce e tímida... como podem fazer-lhe isso? E Megga... Já sei que tem uma risada mais escandalosa que a de uma prostituta do porto, mas por dentro não é mais do que uma garotinha. As quero tanto como elas a mim. Se esse mendigo acredita que conseguirá que mintam sobre mim...
— Temo que também estejam sendo acusadas. As três.
— Minhas primas? — Margaery empalideceu. — Alla e Megga são pouco mais que meninas. Isto é... Isto é obsceno, Vossa Graça. Vai nos tirar daqui?
— Quem dera se eu pudesse. — Tinha a voz carregada de consolo.
— Sua Altíssima Santidade tem seus novos cavaleiros nos vigiando. Para libertá-las eu teria que enviar os mantos dourados e profanar este lugar sagrado com uma matança. — Tomou-lhe a mão entre as suas. — Mas não tenho estado ociosa: reuni todos os homens que Sor Osney mencionou como seus amantes. Dirão a Sua Altíssima Santidade que é inocente, e o farão em julgamento.
— Um julgamento? — Havia medo em sua voz. — Vai acontecer um julgamento?