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Todos olharam para Sam com curiosidade quando passou a seu lado com a capa negra balançando como uma vela.

Do outro lado das portas havia um vestíbulo com solo de pedra e janelas altas arrematadas por arcos. Nos fundos viu um homem com rosto magro, sentado sobre um estrado, que escrevia a caneta em um livro. Vestia uma túnica de meistre, mas não levava corrente ao pescoço. Sam tossiu.

— Bom dia

O homem levantou a vista, e ao que pareceu, não mereceu sua aprovação.

— Você cheira como um noviço.

— Espero ser um em breve. — Sam tirou as cartas que Jon Snow havia lhe dado. — Vinha da Muralha com mestre Aemon, mas ele morreu durante a viagem. Se pudesse falar com o Senescal...

— Seu nome?

— Samwell. Samwell Tarly.

Ele anotou no livro e lhe fez um aceno com a caneta em direção a um banco situado junto à parede.

— Sente-se. Irão te chamar

Sam se sentou no banco.

Chegaram outros homens. Uns entregavam mensagens e partiam; outros falavam com o homem do estrado, que os convidava a atravessar a porta que ficava atrás e subir por uma escada. Outros sentavam com Sam no banco, esperando que os chamassem. Tinha quase certeza que alguns que foram chamados tinham chegado depois dele. Na quarta ou quinta vez que isso aconteceu, se levantou e cruzou a sala.

— Falta muito?

— O Senescal é muito importante

— Venho da Muralha

— Então não se importaras de esperar um pouco mais — acenou com a caneta — nesse banco aí embaixo da janela.

Sam voltou ao banco. Transcorreu mais uma hora. Chegaram mais visitantes. Todos falavam com o homem do estrado e esperavam um tempo até eram chamados.

Em todo aquele tempo, o porteiro nem se dignou a olhar Sam. No exterior a névoa ia sumindo à medida que o dia ia avançando. A luz brilhante do sol entrava pelas janelas. Sam se distraiu olhando as partículas de poeira que dançavam na luz. Ele deixou escapar um bocejo, e depois outro. Ele mexeu uma bolha rebentada da mão, antes de apoiar a cabeça na parede e fechar os olhos. Devia ter cochilado. Imaginou depois que o homem do estrado tinha gritado seu nome. Sam se levantou, mas voltou a sentar quando se deu conta que não era o seu.

— Tem que dar uma moeda a Loecas; Se não, ficará três dias esperando — disse uma voz ao seu lado. — Que traz a Patrulha da Noite a Cidadela?

Seu interlocutor era um jovem esbelto, constante, atraente, que vestia uns calções de pele de cervo. Tinha a pele da cor de cerveja negra e uma massa de cachos negros apertados que terminava em um pico na raiz do cabelo, em cima dos grandes olhos negros.

— O Senhor Comandante está restaurando os castelos abandonados— explicou Sam — Necessitou mais meistres para os corvos... Falou sobre uma moeda?

— Pode ser uma de cobre. Em troca de um veado de prata, Lorcas te leva nas costas para ver o Senescal. Tem cinqüenta anos de acólito. Detesta os noviços, sobre todos os de nascimento novre.

— Como sabe que sou de nascimento nobre?

— Da mesma forma que você sabe que eu sou meio dornês — disse com um sorriso, e com um suave sotaque de Dorne.

Sam buscou uma moeda.

— Você é noviço?

— Acólito. Alleras, alguns me chamam de Esfinge.

Sam se assustou.

— A esfinge é uma adivinha, não o adivinho — disse atropeladamente — sabe o que significa isso?

— Não. É uma adivinha?

— Isso eu queria saber. Sou Samwell Tarly. Sam.

— Um prazer. E que assuntos tem que tratar Samwell Tarly com o Arquimestre Theobald?

— Assim se chama o Senescal? — perguntou Sam, confuso — o mestre Aemon disse que era Norren.

— Fazem dois turnos que não. Cada ano se elege um novo Senescal.O cargo é tirado a sorte entre os arquimestres, porque quase todos consideram que é uma tarefa ingrata que os separa de seu verdadeiro trabalho. Esse ano, o arquimestre Walgrave levou a pedra negra, mas as vezes ele é meio louco, Theobald se ofereceu voluntariamente para substituí-lo . É um pouco brusco, mas uma boa pessoa. Você falou Meistre Aemon?

— Sim.

— Aemon Targaryen?

— Esse foi seu nome, mas todos o chamavam Meistre Aemon.

Morreu quando viemos de barco para o sul. Como você o conhece?

— Como não ia conhecê-lo? Não só era o mestre vivo mais velho; também era o homem mais velho do poente. Viveu mais historias do que poderia aprender o Arquimeistre Perestan. Poderia ter nos contado muitas coisas dos reinados de seu pai e de seu tio. Sabes quantos anos tinha?

— Cento e dois.

— E o que fazia embarcado nessa idade?

Sam meditou na pergunta um momento; não sabia ate que ponto podia revelar a verdade.

A Esfinge é uma adivinha. Não o adivinho. Seria possível que mestre Aemon se referisse aquela Esfinge? Não parecia provável.

— O Senhor Comandante Snow o enviou longe para salvar-lhe a vida — começou titubeante.

Falou-lhe do rei Stannis e de Melisandre de Asshai. Não pretendia chegar além, mas uma coisa levou a outra, e acabou falando de Mance Rayder e seus selvagens, do sangue real e dos dragões, e antes de se dar conta saiu o resto todo: os espectros do Punho dos Primeiros Homens, o Outro montado em seu cavalo morto, o assassinato do Velho Urso na Casa de Craster, Goiva e sua fuga, Árvore Branca e Paul, pequeno, Mãos frias e os corvos, como havia chegado Jon à Senhor Comandante, o Pássaro Negro, Dareon, Bravos, os dragões que Xhondo havia visto em Quart, o Vento Canela e o que lhe havia sussurrado mestre Aemon quando estava morrendo.

Só não falou dos segredos que havia jurado guardar de Bran Stark e seus amigos ,e dos bebês que Jon Snow havia trocado.

— Danenerys é a única esperança — concluiu. — Aemon disse que a Cidadela deveria enviar um meistre a ela sem demora, para que volte ao oeste com ela antes que seja tarde demais.

Alleras escutou com atenção. De vez em quando piscava, mas em nenhum momento riu ou interrompeu. Quando Sam terminou, lhe colocou uma esbelta mão morena no seu braço.

— Salva a moeda Sam, Theobald não vai acreditar nem na metade do que diz, mas a outros que talvez sim. Porque não vem comigo?

— Para onde?

— Falar com arquimestre.

Tens que lhes dizer, Sam. Havia dito o mestre Aemon. Tem que contar aos arquimestres.

— Muito bem. — Sempre poderia voltar a tentar ver o Senescal no dia seguinte, com uma moeda na mão. — Temos que ir muito longe?

— Não muito. A Ilha dos Corvos.

Não lhes fez falta nenhum bote para chegar à Ilha dos Corvos; uma ponte levadiça de madeira em ruínas a unia com a costa.

— A Corvaria é o edifício mais velho da Cidadela — explicou Alleras enquanto cruzavam as lentas águas de Vinhomel. — Dizem na Era dos Heróis era a fortaleza de um senhor pirata que ficava de braços cruzados saqueando os barcos que navegavam rio abaixo.

Sam percebeu que as paredes estavam cobertas de musgo e videiras, e que as ameias estavam patrulhadas por corvos, não por arqueiros. Ninguém se lembrava de ver a ponte levadiça sendo içada.

No interior do castelo estava fresco e reinava a penumbra. Um velho represeiro crescia no pátio, desde que fora construído o edifício. O rosto entalhado no tronco estava coberto de musgo violeta que se pendurava nas ramas embranquecidas. Muitas delas pareciam secas, mas outras ainda tinham algumas folhas vermelhas, e essas eram as favoritas dos corvos. A árvore estava cheia de pássaros, e havia mais nas janelas arrematadas com arcos que davam para o pátio. Os excrementos cobriam todo solo. Enquanto cruzavam o pátio, um começou a voar, e os outros começaram a grasnar.

— As habitações do arquimestre Walgrave estavam na torre oeste, embaixo do aviário branco, — lhe disse Alleras. — Os corvos brancos e os negros brigam como dorneses e marquenos. Assim temos que separá-los.