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um dos melhores presidentes que a Galáxia já teve - pois já passou dois dos dez anos de seu mandato na cadeia, condenado por fraude. Pouquíssimas pessoas sabem que o presidente e o governo praticamente não têm nenhum poder, e, dessas pouquíssimas pessoas, apenas seis sabem onde é, de fato, exercido o verdadeiro poder político. A maioria das outras está convencida de que, em última instância, o poder é exercido por um computador. Elas não poderiam estar mais erradas.

Presidente?

Mas o universo não havia enlouquecido, pelo menos não em relação a isso.

Apenas seis pessoas em toda a Galáxia conheciam o princípio no qual se baseava o governo galáctico, e sabiam que, uma vez proclamada a intenção de Zaphod Beeblebrox de concorrer à Presidência, a coisa estava mais ou menos resolvida: ele tinha tudo para ser presidente.

O que elas realmente não entendiam era por que Zaphod resolvera se candidatar.

Zaphod deu uma guinada súbita com o barco, levantando um lençol d'água.

O dia havia chegado; o dia em que todos entenderiam quais haviam sido as intenções de Zaphod. Aquele dia era a razão de ser da presidência de Zaphod Beeblebrox. Era também o dia em que ele completava 200 anos de idade, mas isto era apenas mais uma coincidência sem qualquer significado. Enquanto seu barco atravessava os mares de Damogran, ele sorria de leve, pensando no dia maravilhoso e divertido que tinha pela frente. Relaxou os músculos e descansou os dois braços preguiçosamente no encosto, e ficou dirigindo o barco com um braço adicional que ele instalara recentemente embaixo de seu braço direito, para melhorar seu desempenho no esquiboxe.

- Sabe - cantarolou ele para si próprio -, você é realmente um cara incrível.

Mas seus nervos cantavam uma canção mais estridente do que um apito para chamar cachorro.

A ilha da França tinha cerca de 30 quilômetros de comprimento por nove de largura; era arenosa e em forma de crescente. Na verdade, dava a impressão de ser menos uma ilha propriamente dita do que uma simples maneira de definir o formato e a curvatura de uma grande baía. A impressão era ressaltada pelo fato de que a costa interior do crescente consistia apenas em penhascos íngremes. Do alto do penhasco, o terreno seguia um declive gradual até a costa oposta, nove quilômetros adiante.

No alto dos penhascos havia um comitê de recepção.

Era constituído basicamente de engenheiros e pesquisadores que haviam construído a nave Coração de Ouro - humanóides em sua maioria, mas havia um ou outro atomeiro reptilóide, dois ou três maximegalacticianos verdes silfóides, um ou dois fissucturalistas octópodes e um Huluvu (o Huluvu é uma tonalidade de azul superinteligente). Todos, com exceção do Huluvu, trajavam jalecos de laboratório de gala, multicoloridos e resplandecentes; o Huluvu fora temporariamente refratado num prisma capaz de ficar em pé, especialmente para a ocasião.

Havia um clima de enorme empolgação entre eles. Trabalhando em equipe, haviam atingido e ultrapassado os limites últimos das leis físicas, reestruturado a configuração fundamental da matéria, forçado, torcido e partido as leis das possibilidades e impossibilidades, mas apesar disso o que mais os entusiasmava era a oportunidade de conhecer um homem com uma faixa alaranjada«m volta do pescoço (o distintivo tradicional do presidente da Galáxia). Talvez até não fizesse muita diferença se eles soubessem exatamente quanto poder exercia o presidente da Galáxia: absolutamente nenhum. Apenas seis pessoas na Galáxia sabiam que a função do presidente não era exercer poder, e sim desviar a atenção do poder.

Zaphod Beeblebrox era surpreendentemente bom no seu trabalho. A multidão exultava, deslumbrada pelo sol e pela perícia do presidente, que fazia o barco contornar o promontório e entrar na baía. O barco brilhava ao sol, ao deslizar pela superfície em curvas abertas.

Na verdade, o barco não precisava encostar na água, já que ele se apoiava numa camada de átomos ionizados, mas para fazer efeito ele vinha equipado com umas quilhas finas que podiam ser baixadas para dentro d'água. Elas levantavam lençóis d'água no ar e rasgavam sulcos profundos no mar, que espumava na esteira do barco.

Zaphod adorava fazer efeitos: era sua especialidade.

Virou a roda do leme subitamente. A embarcação descreveu uma curva fechada bem rente ao penhasco e parou, balançando ao sabor das ondas suaves. Segundos depois, Zaphod já estava no tombadilho, acenando e sorrindo para mais de três bilhões de pessoas. Os três bilhões de pessoas não estavam fisicamente presentes, porém assistiam a tudo através dos olhos de uma pequena câmera-robô tridimensional, que pairava no ar ali perto, subserviente. As proezas do presidente faziam muito sucesso junto ao público: era para isso que elas serviam, mesmo.

Zaphod sorriu outra vez. Três bilhões e seis pessoas não sabiam, mas a proeza daquele dia seria mais incrível do que qualquer coisa que elas esperassem.

A câmera-robô aproximou-se para fazer um close da cabeça mais popular (ele tinha duas) do presidente, e ele acenou outra vez. Sua aparência era mais ou menos humanóide, afora a segunda cabeça e o terceiro braço. Seus cabelos claros e despenteados apontavam para todas as direções, seus olhos azuis brilhavam com um sentido absolutamente incompreensível e seus queixos estavam quase sempre com a barba por fazer.

Um globo transparente de sete metros de altura flutuava ao lado de seu barco, balançando as ondas, brilhando ao sol. Dentro dele flutuava um amplo sofá semicircular, estofado com um esplêndido couro vermelho. Quanto mais o globo balançava, mais o sofá permanecia completamente imóvel, como se fosse um rochedo transformado em sofá. Mais uma vez, o objetivo principal daquilo era fazer efeito.

Zaphod atravessou a parede do globo e refestelou-se no sofá. Pôs dois braços sobre o encosto do sofá, e com o terceiro espanou um pouco de poeira que tinha no joelho. Suas cabeças olharam ao redor, sorridentes; pôs os pés sobre o sofá. "Se não conseguisse se conter, ia começar a gritar", pensou ele. Debaixo da bolha a água fervia, subia, esguichava. A bolha elevava-se no ar, balançando-se na coluna de água. Subia mais e mais, refletindo raios de sol em direção ao penhasco. Subia impulsionada pela água que esguichava debaixo dela e caía de volta na superfície do mar, dezenas e dezenas de metros abaixo. Zaphod sorriu, imaginando o efeito visual.

Um meio de transporte absolutamente ridículo, porém belíssimo. No alto do penhasco o globo parou por um instante, pousou numa rampa gradeada, rolou até uma pequena plataforma côncava e lá parou, por fim.

Aplaudido entusiasticamente, Zaphod Beeblebrox saiu da bolha. Sua faixa alaranjada brilhava ao sol.

O presidente da Galáxia havia chegado.

Esperou que os aplausos morressem e levantou a mão, saudando a multidão.

- Oi - disse.

Uma aranha do governo chegou-se até ele e tentou lhe entregar uma cópia de seu discurso previamente preparado. As páginas 3 a 7 da versão original estavam naquele momento flutuando no mar de Damogran, a uns dez quilômetros da baía. As páginas 1 e 2 haviam sido encontradas por uma águiade-crista-frondosa de Damogran e já haviam sido incorporadas a um novo e extraordinário tipo de ninho que a águia inventara. Era construído basicamente de papier mâché, e era praticamente impossível para um filhote de águia recémsaído do ovo escapar de dentro dele. A águia-de-crista-frondosa de Damogran