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ouvira vagamente falar de luta pela sobrevivência da espécie, mas não queria nem saber dessa história.

Zaphod Beeblebrox não ia precisar de seu discurso preparado e delicadamente recusou a cópia oferecida pela aranha.

- Oi - repetiu.

Todo mundo sorriu para ele, ou pelo menos quase todo mundo. Viu Trillian no meio da multidão. Era uma garota que Zaphod conhecera recentemente ao visitar um planeta, incógnito, como turista. Era esguia, morena, humanóide, com longos cabelos negros e ondulados, uma boca carnuda, um narizinho estranho e saliente e olhos ridiculamente castanhos. Seu lenço de cabelo vermelho, amarrado de modo diferente, e seu vestido longo e leve de seda marrom lhe davam uma aparência vagamente árabe. Não que ninguém ali jamais tivesse ouvido falar nos árabes, claro. Os árabes haviam deixado de existir muito recentemente, e mesmo no tempo em que eles existiam estavam a 500 mil anos-luz de Damogran. Trillian não era ninguém em particular, ou pelo menos era isso que Zaphod dizia. Ela simplesmente andava muito com ele e lhe dizia o que pensava a seu respeito.

- Oi, meu bem - disse para ela.

Ela lhe dirigiu um sorriso rápido e tenso e desviou o olhar. Então olhou novamente para ele por um momento e sorriu de forma mais calorosa - mas agora ele já estava olhando para outro lado.

- Oi - disse para um pequeno grupo de criaturas da imprensa, que estava a pouca distância dali, ansioso para que parasse de dizer "oi" e começasse logo a dizer coisas que eles pudessem publicar.

Zaphod sorriu, pensando que dentro de alguns instantes ia dar a eles coisas muito interessantes, mas muito interessantes, mesmo, para publicar. Porém o que ele disse em seguida não interessou muito às criaturas da imprensa. Um dos funcionários do partido concluíra, irritado, que o presidente obviamente não estava a fim de ler o discurso fascinante que havia sido preparado para ele, e acionara um interruptor no controle remoto que tinha no bolso. Ao longe, uma enorme cúpula branca que se destacava contra o céu rachou ao meio, abriu-se e foi lentamente dobrando-se sobre o chão. Todos ficaram boquiabertos, embora soubessem perfeitamente que aquilo ia acontecer, já que eles próprios haviam construído a cúpula.

Embaixo dela havia uma imensa espaçonave, de 150 metros de comprimento, esguia como um tênis de corrida, perfeitamente branca e estonteantemente bonita. Bem no centro dela, invisível para quem olhava de fora, havia uma pequena caixa de ouro que continha o aparelho mais alucinante jamais concebido em toda a Galáxia, o qual deu o nome à nave - o Coração de Ouro.

- Uau! - disse Zaphod Beeblebrox ao ver a nave Coração de Ouro. Também, não tinha outra coisa a dizer.

E repetiu, porque sabia que isso ia irritar a imprensa:

-Uaul

Toda a multidão virou-se para ele, cheia de expectativa. Zaphod piscou o olho para Trillian, que alçou as sobrancelhas e arregalou os olhos para ele. Ela sabia o que ele ia dizer agora, e achava-o muito exibido.

- É realmente incrível - disse Zaphod. - É realmente incrivelmente incrível. É tão incrivelmente incrível que acho que estou com vontade de roubála. Uma maravilhosa frase presidencial, absolutamente apropriada. A multidão riu, satisfeita, os jornalistas apertaram os botões de suas repormáticas subeta e o presidente sorriu.

Enquanto sorria, seu coração batia desesperadamente e seus dedos tateavam a pequena bomba paralisomática que trazia no bolso. De repente, não agüentou mais. Virou ambos os rostos para o céu, soltou um tremendo grito, formando um acorde de terceira maior, jogou a bomba no chão e saiu correndo por entre aqueles rostos sorridentes imobilizados. Capítulo 5

Prostetnic Vogon Jeltz não era bonito de se ver. Nem outros vogons gostavam de olhar para ele. Seu nariz alto e abobadado elevava-se acima de uma testa estreita e porcina. Sua pele verde-escura e borrachuda era grossa o suficiente para permitir-lhe jogar - e bem - o jogo da política do funcionalismo público vogon, e tão resistente à água que lhe permitia sobreviver por períodos indefinidamente longos no fundo do mar a profundidades de 300 metros, sem qualquer efeito negativo.

O que não significa que ele sequer houvesse nadado algum dia, é claro. Não tinha tempo para isso. Ele era do jeito que era porque, há bilhões de>anos, quando os vogons pela primeira vez saíram dos mares primevos da Vògsfera e foram arfar nas praias virgens do planeta, quando os primeiros raios do jovem e forte Vogsol os atingiu naquela manhã, foi como se as forças da evolução houvessem simplesmente desistido deles, virado para o outro lado, cheias de aversão, considerando-os um erro infeliz e repulsivo. Nunca mais os vogons evoluíram: não deviam sequer ter sobrevivido.

Se sobreviveram, isto se deveu à teimosia e à força de vontade dessas criaturas de raciocínio preguiçoso. Evolução?, pensavam elas. Evolução pra quê? E

o que a natureza se recusou a fazer por eles ficou por isso mesmo, até que pudessem consertar as grosseiras inconveniências anatômicas através da cirurgia.

Enquanto isso, as forças naturais do planeta Vogsfera estavam trabalhando mais do que nunca, fazendo hora extra para compensar o erro anterior. Criaram caranguejos ágeis, cobertos de jóias cintilantes, que os vogons comiam, quebrando suas carapaças com marretas de ferro; árvores altas, extraordinariamente esguias e coloridas, que os vogons derrubavam e queimavam para cozinhar a carne dos caranguejos; criaturas elegantes, semelhantes a gazelas, de pêlos sedosos e olhos orva-lhados, que os vogons capturavam para sentar em cima. Elas não serviam como meio de transporte porque suas espinhas partiam-se imediatamente, mas os vogons sentavam-se em cima delas assim mesmo.

Assim, o planeta Vogsfera atravessou tristes milênios até que os vogons descobriram de repente os princípios do transporte interestelar. Poucos anos vogs depois, todos os vogons já haviam migrado para o aglomerado de Megabrantis, o centro político da Galáxia, e agora constituíam a poderosíssima espinha dorsal do funcionalismo público da Galáxia. Tentaram adquirir cultura, tentaram adquirir estilo e boas maneiras, mas sob quase todos os aspectos o vogon moderno pouco difere de seus ancestrais primitivos. Todo ano eles importam 27 mil caranguejos cintilantes de seu planeta nativo e passam muitas noites divertidas bebendo e esmigalhando caranguejos com marretas de ferro. Prostetnic Vogon Jetz era um vogon mais ou menos típico, já que era absolutamente vil. Além disso, não gostava de mochileiros. Em uma pequena e escura cabine nas entranhas mais profundas da nave capitania de Prostetnic Vogon Jetz, um fósforo acendeu-se nervosamente. O

dono do fósforo não era um vogon, mas sabia tudo sobre os vogons, e tinha toda razão de estar nervoso. Chamava-se Ford Prefect.*

Olhou ao redor, mas não dava para ver quase nada; sombras estranhas e monstruosas formavam-se e tremiam à luz bruxuleante do fósforo, mas o silêncio era completo. Silenciosamente, Ford agradeceu aos dentrassis. Os dentrassis são uma tribo indisciplinada de gourmands, um povo selvagem, porém simpático. Recentemente vinham sendo empregados pelos vogons como comissários de bordo em suas viagens mais longas, sob a condição de que ficassem na deles.