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Zaphod exclamou, irritado:

- Quem são eles, Trillian?

Trillian virou a cadeira giratória para ele e deu de ombros.

- Uns caras que pelo visto pegamos em pleno espaço - disse ela. - Seção ZZ9 Plural Z Alfa.

- É, é muito simpático, Trillian - queixou-se Zaphod -, mas você não acha isso meio arriscado nas atuais circunstâncias? Afinal, somos fugitivos, e a polícia de metade da Galáxia deve estar atrás da gente. E nós parando pra dar carona. Em matéria de estilo, nota dez; mas em matéria de sensatez, menos um milhão.

Irritado, começou a dar batidinhas num dos painéis de controle. Com jeito, Trillian empurrou sua mão, antes que ele desse uma batidinha em alguma coisa importante. Ainda que tivesse inegáveis qualidades intelectuais - ostentação, fanfar-ronice, presunção -, Zaphod era fisicamente desajeitado e bem capaz de fazer a nave explodir com um gesto extravagante. Trillian desconfiava que ele conseguia levar uma vida tão louca e bem-sucedida principalmente por não entender jamais o verdadeiro significado de nada que ele fazia.

- Zaphod - disse ela, paciente -, eles estavam flutuando no espaço, sem qualquer proteção... Você não queria que eles morressem, não é?

- Bem, não exatamente... mas...

- Não exatamente? Não morrer, exatamente? Mas o quê? - Trillian inclinou a cabeça.

- Bem, talvez alguma outra nave os salvasse depois.

- Se demorasse mais um segundo, eles morreriam.

- Justamente, portanto, se você tivesse se dado ao trabalho de pensar um pouquinho mais no problema, ele se resolveria por si só.

- Você ficaria satisfeito se eles morressem?

- Não exatamente satisfeito, mas...

- Seja como for - disse Trillian, voltando ao painel de controle -, não fui eu que dei carona a eles.

- Como assim? Então quem foi?

- Foi a nave.

- O quê?

- A nave. Sozinha.

- O quê?

- Quando o gerador de improbabilidade estava ligado.

- Mas isso é incrível.

- Não, Zaphod. É apenas muito improvável.

- É, isso é.

- Escute, Zaphod - disse ela, dando-lhe uns tapinhas no braço -, não se preocupe com eles. Não vão causar problema nenhum. Vou mandar o robô

trazê-los até aqui. ô Marvin!

Sentado no canto, o robô levantou a cabeça subitamente, porém em seguida ficou balançando-a ligeiramente. Pôs-se de pé como se fosse uns dois ou três quilos mais pesado do que era na realidade e fez um esforço aparentemente heróico para atravessar o recinto. Parou à frente de Trillian e ficou olhando por cima do ombro esquerdo da moça.

- Acho que devo avisá-los de que estou muito deprimido - disse ele, cora uma voz baixa e desesperançada.

- Ah, meu Deus - murmurou Zaphod, jogando-se numa cadeira.

- Bem - disse Trillian, num tom de voz alegre e compreensivo -, então vou lhe dar uma coisa pra distrair a sua cabeça.

- Não vai dar certo - disse Marvin. - Minha mente é tão excepcionalmente grande que uma parte dela vai continuar se preocupando.

- Marvini - ralhou Trillian.

- Está bem - disse Marvin. - O que é que você quer que eu faça?

- Vá até a baia de entrada número dois e traga os dois seres que estão lá, sob vigilância.

Após uma pausa de um microssegundo, e com uma micro-modulação de tom e timbre minuciosamente calculada -impossível se ofender com aquela entonação -, Marvin conseguiu exprimir todo o desprezo e horror que lhe inspirava tudo que é humano.

- Só isso? - perguntou ele.

- Só - disse Trillian, com firmeza.

- Não vou gostar de fazer isso - disse Marvin. Zaphod levantou-se de um salto.

- Ela não está mandando você gostar - gritou. - Limite-se a cumprir ordens, está bem?

- Está bem - disse Marvin, com voz de sino rachado. - Já vou.

- Ótimo! - exclamou Zaphod. - Muito bem... obrigado... Marvin virou-se e levantou seus olhos vermelhos e triangulares para ele.

- Por acaso eu estou baixando o astral de vocês? - perguntou Marvin, patético.

- Não, não, Marvin - tranqüilizou-o Trillian. - Está tudo bem.

- Porque eu não queria baixar o astral de vocês.

- Não, não se preocupe com isso - continuou Trillian, no mesmo tom. - Aja do jeito que você acha que deve agir que tudo vai dar certo.

- Você jura que não se incomoda? - insistiu Marvin.

- Não, não, Marvin, está tudo bem... É a vida - disse Trillian. Marvin dirigiu a Zaphod um olhar eletrônico.

- Vida? - disse ele. - Não me falem de vida.

Virou-se e saiu lentamente da cabine, desolado. A porta zumbiu alegremente e fechou-se com um estalido.

- Acho que não vou agüentar esse robô muito tempo, Zaphod - desabafou Trillian.

A Enciclopédia Galáctica define "robô" como "dispositivo mecânico que realiza tarefas humanas". O departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius define "robô" como "o seu amigão de plástico". O Guia do Mochileiro das Galáxias define o departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius como "uma cambada de panacas que devem ser os primeiros a ir para o paredão no dia em que a revolução estourar". Uma nota de rodapé

acrescenta que a redação do Mochileiro está aceitando candidatos para o cargo de correspondente de robótica.

Curiosamente, uma edição da Enciclopédia Galáctica que, por um feliz acaso, caiu numa descontinuidade do tempo, vinda de mil anos no futuro, definiu o departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius como "uma cambada de panacas que foram os primeiros a ir para o paredão no dia em que a revolução estourou".

O cubículo rosado desaparecera num piscar de olhos e os macacos haviam passado para uma dimensão melhor. Ford e Arthur viram-se na área de embarque de uma nave. O lugar era bonito.

- Acho que essa nave é nova em folha - disse Ford.

- Como é que você sabe? - perguntou Arthur. - Você tem algum aparelho exótico que calcula a idade do metal?

- Não. Eu acabei de achar este folheto de vendas no chão, cheio de frases do tipo "agora o Universo é todo seu". Arrá! Está vendo? Acertei. Ford mostrou uma página do folheto para Arthur.

- Diz aqui: Nova descoberta sensacional na física de improbabilidade. Assim que o gerador da espaçonave atinge a improbabilidade infinita, ela passa por todos os pontos do Universo. Faça os outros governos morrerem de inveja. Puxa, coisa fina, mesmo. Entusiasmado, Ford leu as especificações técnicas da nave, de vez em quando soltando uma interjeição de espanto. Pelo visto, a astrotecnologia galáctica havia progredido muito durante seus anos de exílio. Arthur ficou ouvindo os detalhes técnicos que Ford lia, mas, como não entendia quase nada, começou a pensar em outras coisas, enquanto seus dedos deslizavam por uma incompreensível fileira de computadores, até apertar um botão vermelho e tentador num painel. Imediatamente o painel iluminou-se, com os dizeres: Favor não apertar este botão outra vez. Arthur ficou quieto na mesma hora.