tem... ah, quero dizer...
- Uma resposta para vocês? - interrompeu Pensador Profundo, majestoso. - Tenho, sim.
Os dois homens tremeram de expectativa. Sua espera não fora em vão.
- Então há mesmo uma resposta? - exclamou Phouchg.
- Há mesmo uma resposta - confirmou Pensador Profundo.
- A resposta final? À grande Questão da Vida, do Universo e Tudo o Mais?
- Sim.
Os dois homens haviam sido treinados para esse momento. Toda a sua vida fora uma longa preparação para ele: haviam sido escolhidos no momento em que nasceram para testemunhar a resposta, mas mesmo assim sentiam-se alvoroçados e ofegantes como crianças excitadas.
- E você está pronto pra nos dar a resposta? - perguntou Loonquawl.
- Estou.
- Agora?
- Agora - disse Pensador Profundo. Os dois umedeceram os lábios secos.
- Se bem que eu acho que vocês não vão gostar - disse o computador.
- Não faz mal - exclamou Phouchg. - Precisamos conhecer a resposta!
Agora!
- Agora? - perguntou Pensador Profundo.
- É, agora!...
- Está bem - disse o computador, e calou-se. Os dois homens remexiam-se, inquietos. A tensão era insuportável.
- Olhem, vocês não vão gostar mesmo - comentou Pensador Profundo.
- Diga logo!
- Está bem - disse o computador. - A Resposta à Grande Questão...
- Sim...!
- Da Vida, o Universo e Tudo o Mais... - disse Pensador Profundo.
- Sim!
- É... - disse Pensador Profundo, e fez uma pausa.
- Sim...! -É... -Sim...!!!...?
- Quarenta dois - disse Pensador Profundo, com uma majestade e uma tranqüilidade infinitas.
Capítulo 28
Durante muito, muito tempo, ninguém disse nada. Com o canto do olho, Phouchg via pela janela o mar de rostos cheios de expectativa na praça.
- Nós vamos ser linchados, não vamos? - sussurrou.
- A pergunta não foi fácil - disse Pensador Profundo, com modéstia.
- Quarenta e dois! - berrou Loonquawl. - É tudo que você tem a nos dizer depois de sete milhões e quinhentos mil anos de trabalho?
- Eu verifiquei cuidadosamente - disse o computador -, e não há dúvida de que a resposta é essa. Para ser franco, acho que o problema é que vocês jamais souberam qual é a pergunta.
- Mas era a Grande Pergunta! A Questão Fundamental da Vida, o Universo e Tudo o Mais - gritou Loonquawl.
- É - disse Pensador Profundo, com um tom de voz de quem tem enorme paciência para aturar pessoas estúpidas -, mas qual é exatamente a pergunta?
Um silêncio de estupefação aos poucos dominou os homens, que olharam para o computador e depois se entreolharam.
- Bem, você sabe, é simplesmente tudo... tudo... - começou Phouchg, vacilante.
- Pois é! - disse Pensador Profundo. - Assim, quando vocês souberem qual é exatamente a pergunta, vocês saberão o que significa a resposta.
- Genial - sussurrou Phouchg, jogando o caderno para o lado e enxugando uma pequena lágrima.
- Está bem, está bem - disse Loonquawl. - Será que dava pra você nos dizer qual é a pergunta?
- A Pergunta Fundamental? -É!
- Sobre a Vida, o Universo e Tudo o Mais? -Él
Pensador Profundo pensou um pouco.
- Essa é fogo - disse ele.
- Mas você pode descobri-la? - perguntou Loonquawl. Pensador Profundo ponderou a questão por mais algum
tempo.
- Não - respondeu por fim, com firmeza.
Os dois homens caíram sentados, em desespero.
- Mas eu lhes digo quem pode - disse o computador. Os dois levantaram a vista de repente.
- Quem?
- Diga!
De repente, Arthur começou a sentir seus pêlos inexistentes ficarem em pé à medida" que ele se aproximava lenta porém inexoravelmente do terminal do computador, mas era apenas um zoom de grande efeito dramático por parte de quem havia realizado aquela gravação, aparentemente.
- Refiro-me ao computador que virá depois de mim - proclamou Pensador Profundo, reassumindo seu tom declamatório habitual. - Um computador cujos parâmetros operacionais eu não sou digno de calcular, mas que, ainda assim, irei projetar para vocês. Um computador capaz de calcular a Pergunta referente à Resposta Fundamental, um computador de tamanha complexidade sutil e infinita que a própria vida orgânica fará parte de sua matriz operacional. E vocês assumirão uma nova forma e entrarão no computador para operar seu programa, durante dez milhões de anos! Sim! Eu projetarei este computador para vocês. E eu também lhe darei um nome. E ele se chamará... Terra.
Phouchg olhou para Pensador Profundo, atônito.
- Que nome mais besta - disse ele, e longas incisões abriram-se em seu corpo de alto a baixo. Loonquawl, também, de repente começou a sofrer cortes terríveis vindos de lugar nenhum. O terminal do computador inchou e rachouse, as paredes estremeceram e desabaram, e toda a sala caiu para cima, em direção ao teto...
Slartibartfast estava em pé diante de Arthur, segurando os dois fios.
- Fim da gravação - explicou ele.
Capítulo 29
Zaphod! Acorde! - Mmmmmaaaaaãããããhn?
- Vamos, acorde logo.
- Deixe que eu continue fazendo o que sei fazer, está bem? - murmurou Zaphod; sua voz morreu aos poucos e ele adormeceu de novo.
- Quer levar um chute? - perguntou Ford.
- Isso vai lhe dar muito prazer? - retrucou Zaphod, com a voz cheia de sono.
-Não.
- A mim também não. Então pra que me chutar? Pare de me perturbar. - E Zaphod encolheu-se todo novamente.
- Ele ingeriu uma do^se dupla de gás - disse Trillian, olhando para Zaphod. - Duas traquéias.
- E parem de falar - disse Zaphod. - Já não é fácil dormir aqui. Que diabo deu nesse chão? Está tão duro, gelado.
- É ouro - disse Ford.
Com um movimento espantoso de bailarino, Zaphod pôs-se de pé e começou a olhar para todos os lados, até o horizonte; era tudo ouro, o chão era uma camada perfeitamente lisa e sólida de ouro. Brilhava como... é impossível achar uma comparação razoável, porque nada no Universo brilha exatamente como um planeta de ouro maciço.
- Quem botou isso tudo aqui? - exclamou Zaphod, de olhos esbugalhados.
- Não fique excitado - disse Ford. - Isso é só um catálogo.
- O quê?
- Um catálogo - disse Trillian - Uma ilusão.
- Como é que vocês podem dizer uma coisa dessas?
- exclamou Zaphod, caindo de quatro e olhando para o chão. Cutucou-o com o dedo. Era muito pesado e ligeiramente macio - era possível riscá-lo com a unha. Era muito amarelo e muito brilhante, e, quando ele bafejava sobre a superfície, ela embaçava e depois desembaçava daquela maneira peculiar que é
característica das superfícies de ouro maciço.
- Eu e Trillian acordamos uns minutos atrás - disse Ford.
- Gritamos até que alguém veio, e continuamos a gritar até que eles se encheram e trancaram a gente aqui no catálogo de planetas, pra gente se distrair até que eles estejam preparados pra lidar conosco. Isso aqui é só uma gravação em Sensorama.
Zaphod olhou-o com raiva.
- Ora, merda - exclamou ele -, você me acorda no meio do meu sonho agradável pra me mostrar o sonho de outra pessoa.
- Sentou-se, emburrado. - E aqueles vales ali, que é aquilo?
- perguntou.
- É só o selo de qualidade - disse Ford. - Já fomos lá ver.
- Não acordamos você antes - disse Trillian. - O último planeta era só
peixe até a altura das canelas.
- Peixe?
- Tem gosto pra tudo.
- E antes dos peixes - disse Ford - foi platina. Meio chato. Mas esse aqui achamos que você ia gostar de ver.