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Mares de luz dourada resplandeciam em todas as direções, para onde quer que olhassem.

- Muito bonito - disse Zaphod com petulância.

No céu apareceu um enorme número de catálogo. Ele piscou e mudou, e, quando os três olharam ao redor, viram que a paisagem mudara também. Em uníssono, os três exclamaram:

-Argh!

O mar era roxo. A praia em que estavam era de pedrinhas amarelas e verdes - provavelmente pedras terrivelmente preciosas. Ao longe, as montanhas ostentavam picos vermelhos; pareciam macias e ondulantes. A pouca distância de onde estavam havia uma mesa de praia de prata maciça, com uma sombrinha alva ornada com borlas de prata.

No céu apareceram os seguintes dizeres em letras garrafais substituindo o número do catálogo: Qualquer que seja seu gosto, Magrathea tem o que você deseja. Não nos orgulhamos disso.

E então 500 mulheres nuas em pêlo caíram do céu de pára-quedas. Imediatamente o cenário desapareceu, sendo substituído por um pasto cheio de vacas.

- Ah, meus cérebros! - exclamou Zaphod.

- Quer falar sobre isso? - perguntou Ford.

- Está bem - disse Zaphod, e os três sentaram-se e ignoraram os cenários que surgiam e desapareciam a seu redor.

- O que eu acho é o seguinte - disse Zaphod. - Seja lá o que for que aconteceu coma minha mente, fui eu que fiz. E fiz de um jeito tal que os testes governamentais a que me submeteram quando me candidatei não pudessem descobrir nada. E que nem mesmo eu soubesse o que fiz. Tremenda loucura, não é?

Os outros dois concordaram com a cabeça.

- Então me pergunto: o que seria tão secreto que não posso deixar que ninguém saiba, nem mesmo o governo galáctico, nem mesmo eu? E a resposta é: não sei. É óbvio. Mas juntei uma coisa e outra, e dá pra eu fazer uma idéia. Quando foi que resolvi me candidatar à presidência? Logo depois da morte do presidente Yooden Vranx. Você se lembra de Yooden, Ford?

- Lembro - disse Ford. - Aquele cara que nós conhecemos quando éramos garotos, o comandante de Arcturus. Ele era um barato. Nos deu umas castanhas quando você arrombou o megacargueiro dele. Disse que você era o garoto mais incrível que ele já tinha visto.

- Que história é essa? - perguntou Trillian.

- Uma história antiga - disse Ford -, do nosso tempo de garotos, lá em Betelgeuse. Os megacargueiros de Arcturus eram encarregados da maior parte do comércio entre o Centro Galáctico e as regiões periféricas. Os vendedores da astronáutica mercante de Betelgeuse encontravam os mercados e os arcturianos os abasteciam. Havia muita pirataria no espaço antes das guerras de Dordellis, quando os piratas foram dizimados, e os megacargueiros eram equipados com os escudos de defesa mais fantásticos de toda a Galáxia. Eram realmente umas naves enormes. Quando entravam em órbita ao redor de um planeta, elas eclipsavam o Sol.

"Um dia, o jovem Zaphod resolveu saquear uma delas. Num patinete de três propulsores a jato, feito para navegar na estratosfera, coisa de garoto, mesmo. Ele era totalmente pirado. Fui junto porque havia apostado uma boa nota que ele não ia conseguir, e não queria que ele voltasse com provas falsas de que tinha conseguido. Pois sabe o que aconteceu? Entramos no patinete dele, que já era algo totalmente diferente de tanto que ele o tinha incrementado, cobrimos uma distância de três parsecs em poucas semanas, arrombamos um megacargueiro, até hoje não sei como, fomos até a ponte de comando brandindo pistolas de brinquedo e exigimos castanhas. Maluquice maior nunca vi. Perdi um ano de mesadas. Tudo pra ganhar o quê? Castanhas.

- O capitão era um cara realmente incrível, o tal de Yooden Vranx - disse Zaphod. - Ele nos deu comida, bebida, coisas dos lugares mais exóticos da Galáxia, muita castanha, claro, e a gente se divertiu paca. Depois ele teleportou a gente. Direto pra ala de segurança máxima da prisão estadual de Betelgeuse. Um cara incrível. Acabou presidente da Galáxia.

Zaphod parou de falar.

O cenário ao redor deles estava no momento imerso na escuridão. Névoas escuras elevavam-se, sombras imensas moviam-se indistintas. O ar era ocasionalmente riscado por ruídos de seres ilusórios assassinando outros seres ilusórios. Pelo visto, havia quem gostasse daquilo o bastante para ter valor comercial.

- Ford - disse Zaphod, em voz baixa. -Sim?

- Pouco antes de morrer, Yooden me procurou.

- É mesmo? Você nunca me contou. -Não.

- O que foi que ele disse? Por que ele procurou você?

- Me falou sobre a nave Coração de Ouro. Ele é que me deu a idéia de roubá-la.

-Ele?

- É - disse Zaphod -,ea única oportunidade pra isso seria a cerimônia de lançamento.

Ford arregalou os olhos para ele por um instante, depois caiu na gargalhada.

- Você está me dizendo que virou presidente da Galáxia só pra roubar essa nave? - perguntou ele.

- Justamente - disse Zaphod, com o tipo de sorriso que, na maioria das pessoas, teria o efeito de fazer com que elas fossem trancafiadas em celas acolchoadas.

- Mas por quê? - perguntou Ford. - Por que é tão importante pra você ter essa nave?

- Sei lá - disse Zaphod. - Acho que se eu soubesse conscientemente por que isso é tão importante e pra que eu precisava dela, isso teria aparecido nos testes governamentais e eu jamais teria passado. Acho que Yooden me disse um monte de coisas que ainda estão trancadas no meu cérebro.

- Então por causa da conversa com Yooden você bagunçou o seu próprio cérebro?

- Ele levava qualquer um no papo.

- É, rapaz, mas você tem que se cuidar, sabe? Zaphod deu de ombros.

- Mas será que você não faz a menor idéia do porquê disso tudo? - insistiu Ford.

Zaphod pensou bastante na pergunta e uma dúvida pareceu esboçar-se em sua mente.

- Não - disse por fim. - Acho que não estou revelando nenhum dos meus segredos a mim mesmo. Seja como for - acrescentou, após pensar mais um pouco -, eu até entendo. Eu é que não sou maluco de confiar em mim. Um minuto depois, o último planeta do catálogo desapareceu e o mundo concreto reapareceu a seu redor.

Estavam sentados numa sala de espera luxuosa, cheia de mesas de vidro e prêmios recebidos em concursos de design.

Um magratheano alto estava em pé diante dos três.

- Os ratos querem ver vocês agora.

Capítulo 30

Pois é isso - disse Slartibartfast, fazendo uma tentativa puramente pro forma de arrumar a bagunça extraordinária de seu gabinete. Pegou um papel que estava no alto de uma pilha de objetos, mas, como não sabia onde guardálo, recolocou-o no alto da mesma pilha, que imediatamente desabou. - Pensador Profundo projetou a Terra, nós a construímos e você viveu nela.

- E os vogons vieram e a destruíram cinco minutos antes de terminar o processamento do programa - disse Arthur, não sem um toque de rancor.

- É - disse o velho, olhando ao redor sem saber por onde começar. - Dez milhões de anos de planejamento e trabalho, tudo por água abaixo. Dez milhões de anos, terráqueo... Você concebe uma coisa dessas? Toda uma civilização galáctica pode evoluir a partir de um verme, cinco vezes seguidas, em dez milhões de anos. Tudo por água abaixo. - Fez uma pausa. - Pois é, coisas da burocracia - acrescentou.

- Sabe - disse Arthur, pensativo -, isso explica um monte de coisas. Toda a minha vida eu sempre tive uma impressão estranha, inexplicável, de que estava acontecendo alguma coisa no mundo, uma coisa importante, até mesmo sinistra, e ninguém me dizia o que era.

- Não - disse o velho -, isso é só uma paranóia perfeitamente normal. Todo mundo no Universo tem isso.