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- O quê? Bem... ah, está bem - disse o velho, um pouco desconcertado. - Vou trabalhar nos meus fiordes.

- A propósito, isso não é mais necessário - disse Frankie. - Creio que não vamos mais precisar da nova Terra. - Revirou os olhinhos rosados. - Porque encontramos um nativo do planeta que estava lá segundos antes de sua destruição.

- O quê? - exclamou Slartibartfast, atônito. - Não pode ser! Tenho mil geleiras prontas pra avançar sobre a África!

- Bem, talvez você possa tirar umas férias pra esquiar antes de desmontálas - disse Frankie, irônico.

- Esquiar? - exclamou o velho. - Essas geleiras são verdadeiras obras de arte! Contornos elegantes, picos altíssimos de gelo, desfiladeiros majestosos!

Esquiar numa obra-prima dessas seria um sacrilégio!

- Obrigado, Slartibartfast - disse Benjy com firmeza. - Assunto encerrado.

- Sim, senhor - disse o velho, com frieza. - Muito obrigado. Bem, adeus, terráqueo - disse para Arthur. - Espero que dê um jeito no seu estilo de vida. Com um leve aceno para os outros, o velho virou-se e saiu do recinto, cabisbaixo.

Arthur ficou a vê-lo sair, sem saber o que dizer.

- Bem - disse Benjy -, vamos ao que interessa. Ford e Zaphod fizeram tintim com seus copos.

- Ao que interessa! - disseram.

- Como assim? - perguntou Benjy. Ford olhou ao redor.

- Desculpe, pensei que estivesse propondo um brinde

- disse ele.

Os ratos remexeram-se com impaciência dentro de seus recipientes de vidro. Então aquietaram-se, e Benjy avançou para falar com Arthur.

- Criatura da Terra - disse -, a situação é a seguinte: como você sabe, há

dez milhões de anos que administramos o seu planeta para descobrir essa maldita Questão Fundamental.

- Por quê? - indagou Arthur.

- Não, essa aí já descartamos - disse Frankie, interrompendo

- porque não bate com a resposta. Por quê? Quarenta e dois... Como você

vê, não faz sentido.

- Não é isso - explicou Arthur. - Eu perguntei por que vocês querem saber isso.

- Ah - exclamou Frankie. - Bem, pra ser absolutamente franco, só por força do hábito, creio eu. E acho que a questão é mais ou menos essa: já estamos de saco cheio dessa história toda, e a idéia de ter que começar do zero outra vez por causa daqueles panacas dos vogons realmente é demais, sacou? Foi por mero acaso que Benjy e eu terminamos a tarefa específica de que estávamos encarregados e saímos do planeta pra tirar umas feriazinhas, e conseguimos dar um jeito de voltar a Magrathea graças aos seus amigos.

- Magrathea é um dos portões que dá acesso à nossa dimensão - explicou Benjy.

- E recentemente - prosseguiu o outro roedor - recebemos uma proposta irrecusável de participar de uma mesa-redonda na quinta dimensão e dar umas palestras lá na nossa terra, e estamos inclinados a aceitar.

- Eu aceitava, se me convidassem; você não aceitava, Ford?

- perguntou Zaphod.

- Ah; claro, na mesma hora - disse Ford.

Arthur olhava para eles, sem saber aonde aquilo ia dar.

- Só que a gente não pode ir de mãos abanando - disse Frankie. - Ou seja: temos que descobrir a Questão Fundamental, de algum modo.

Zaphod debruçou-se, chegando mais perto de Arthur.

- Imagine só - disse ele - se eles estão lá no estúdio, muito tranqüilos, dizendo que sabem qual é a Resposta à Questão da Vida, o Universo e Tudo o Mais, e depois têm que admitir que a Resposta é 42. O programa vai acabar ali mesmo. Não dá pra espichar o programa, entendeu?

- A gente tem que ter alguma coisa que soe bem - disse Benjy.

- Uma coisa que soe bem - exclamou Arthur. - Uma Questão Fundamental que soe bem? Formulada por dois ratos?

Os ratos irritaram-se.

- Olhe - disse Frankie -, essa história de idealismo, de dignidade da pesquisa pura, da busca pela verdade em todas as suas formas, está tudo muito bem, mas chega uma hora que você começa a desconfiar que, se existe uma verdade realmente verdadeira, é o fato de que toda a infinidade multidimensional do Universo é, com certeza quase absoluta, governada por loucos varridos. E entre gastar mais dez milhões de anos pra descobrir isso ou então faturar em cima do que já temos, eu fico tranqüilamente cora a segunda opção.

- Mas... - começou Arthur, desanimado.

- Você vai entender, terráqueo - disse Zaphod. - Você é um produto de última geração daquela matriz de computador, certo?, e você estava lá na Terra até o instante em que o planeta foi exterminado, não é?

- Bem...

- Assim, o seu cérebro estava organicamente integrado à penúltima configuração do programa do computador - disse Ford, e admirou a clareza de sua própria explicação.

- Certo? - perguntou Zaphod.

- É - disse Arthur, hesitante. Ele jamais havia se sentido organicamente integrado a coisa nenhuma. Sempre achara que este era um de seus problemas.

- Em outras palavras - disse Benjy, fazendo com que seu curioso veículo se aproximasse de Arthur -, é bem provável que a estrutura da pergunta esteja codificada na estrutura de sua mente, e por isso queremos comprá-la de você.

- O que, a pergunta? - indagou Arthur.

- É - responderam Ford e Trillian.

- Por uma nota preta - disse Zaphod.

- Não, não - explicou Frankie -, o que a gente quer comprar é o seu cérebro.

- O quê?

- Mas que falta vai fazer? - perguntou Benjy.

- Eu entendi você dizer que sabiam ler o cérebro dele eletronicamente - protestou Ford.

- É claro que sabemos - disse Frankie -, só que primeiro a gente tem que retirá-lo do lugar. Tem que ser preparado.

- Tratado - disse Benjy.

- Cortado em pedaços.

- Obrigado - gritou Arthur, inclinando a cadeira para trás para afastar-se da mesa, horrorizado.

- Se você achar isso importante - disse Benjy, razoável -, a gente coloca outro no lugar.

- É, um cérebro eletrônico - disse Frankie -, bastaria um bem simples.

- Bem simples! - gemeu Arthur.

- É - disse Zaphod, com um sorriso maldoso -, era só programá-lo para dizer O quê?, Não entendi e Cadê o chá?. Ninguém ia notar a diferença.

- O quê? - exclamou Arthur, afastando-se ainda mais.

- Está vendo? - disse Zaphod, e urrou de dor por causa de algo que Trillian fez naquele momento.

- Pois eu notaria a diferença - disse Arthur.

- Não - disse Frankie -, porque você seria programado pra não notar. Ford saiu em direção à porta.

- Vocês me desculpem, meus caros ratos, mas pelo visto nada feito.

- Creio que essa posição é inaceitável - disseram os ratos em coro; suas vozinhas finas perderam todo e qualquer toque de cordialidade. Com um zumbido agudo, os dois recipientes de vidro levantaram-se da mesa e partiram em direção a Arthur, que ficou encurralado num canto do recinto, absolutamente incapaz de fazer alguma coisa, ou mesmo de pensar em alguma coisa.

Trillian agarrou-o pelo braço, em desespero, e tentou arrastá-lo em direção à porta, que Ford e Zaphod estavam tentando abrir, mas Arthur era um peso morto. Parecia hipnotizado pelos roedores voadores que se aproximavam dele.

Trillian gritou, mas ele continuou abestalhado.

Com um último safanão, Ford e Zaphod conseguiram abrir a porta. Lá

fora havia uma pequena multidão de homens mal-encarados, que, aparentemente, era o pessoal que fazia os serviços sujos em Magrathea. Não apenas eram mal-encarados, mas também traziam equipamentos cirúrgicos bem assustadores. Os homens atacaram.

Assim, a cabeça de Arthur ia ser aberta, Trillian não conseguia ajudá-lo, e Ford e Zaphod iam ser atacados por um bando de brutamontes bem mais fortes e armados do que eles.