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Capítulo 33

Mas o fim não veio. Pelo menos, não naquela hora. De repente os raios cessaram, e no silêncio repentino que se seguiu ouviram-se gritos guturais e dois baques surdos. Os quatro se entreolharam.

- O que houve? - perguntou Arthur.

- Eles pararam - disse Zaphod, dando de ombros.

- Por quê?

- Sei lá! Quer ir lá e perguntar a eles?

- Não. Esperaram.

- Ei! - gritou Ford. Nada.

- Estranho.

- Pode ser uma armadilha.

- Eles são burros demais pra isso.

- Aqueles baques, o que foi aquilo?

- Não sei.

Esperaram mais alguns segundos.

- Eu vou lá ver - disse Ford. Olhou para os outros e acrescentou: - Será

que ninguém vai dizer: Não, você não, deixe que eu vou?

Os outros três sacudiram a cabeça.

- Nesse caso... - disse ele, e levantou-se.

Por um momento, não aconteceu nada.

Então, alguns segundos depois, continuou a não acontecer nada. Ford olhou para a fumaça espessa que saía do computador destruído. Cuidadosamente, saiu do esconderijo.

Continuou não acontecendo nada.

Vinte metros adiante, ele pôde entrever em meio à fumaça o vulto de um dos policiais em sua roupa espacial. Estava embolado no chão. A 20 metros dele, no outro lado da sala, estava o outro. Não havia mais ninguém. Ford achou isso extremamente estranho.

Lenta e nervosamente, aproximou-se do primeiro policial. O corpo estava perfeitamente imóvel quando ele se aproximou e permaneceu perfeitamente imóvel quando ele colocou o pé sobre a arma de Raio-da-Morte que o cadáver ainda tinha na mão.

Abaixou-se e pegou a arma, sem encontrar nenhuma resistência. O policial estava indubitavelmente morto.

Ford examinou-o rapidamente e constatou que ele era de Kappa de Blagulon - um ser que respirava metano e que só poderia sobreviver na rarefeita atmosfera de oxigênio existente em Magrathea com seu traje espacial. O pequeno sistema computadorizado em sua mochila, que lhe permitia sobreviver naquele planeta, parecia ter explodido inesperadamente Ford examinou-o profundamente intrigado. Esses minicomputadores normalmente funcionavam ligados ao computador central que ficava na nave e com o qual eles permaneciam ligados através do subeta. O sistema era completamente seguro, a menos que houvesse uma falha completa do sistema de retroalimentação, o que jamais acontecera.

Ford correu até o outro cadáver e descobriu que exatamente a mesma coisa impossível havia acontecido com ele. E, pelo que tudo indicava, exatamente na mesma hora.

Ford chamou os outros para virem olhar. Eles vieram, manifestaram o mesmo espanto, mas não a mesma curiosidade.

- Vamos sair daqui - disse Zaphod. - Se a coisa que estou procurando está

mesmo aqui, seja lá o que ela for, não quero mais saber dela. Zaphod agarrou a segunda arma, fulminou um computador de contabilidade absolutamente inofensivo e saiu correndo pelo corredor; os outros foram atrás. Quase atirou também num aeromóvel que os esperava perto dali.

O veículo estava vazio, mas Arthur reconheceu-o: era de Slartibartfast. No painel de controle, que tinha poucos controles, aliás, havia um recado do proprietário. No papel havia uma seta apontando para um dos botões do painel e os seguintes dize-res: Este é provavelmente o melhor botão para vocês apertarem.

Capítulo 34

O aeromóvel, a uma velocidade acima de RI 7, percorreu os túneis forrados de aço e levou-os de volta à aterradora superfície do planeta, onde mais uma vez raiava uma melancólica madrugada. Uma luz cinzenta e fantasmagórica congelava-se sobre a superfície do planeta. R é uma unidade de velocidade definida como uma velocidade razoável para se viajar, compatível com a saúde física e mental dos viajantes e garantindo um atraso não maior do que cinco minutos, mais ou menos. É, por conseguinte, uma grandeza quase infinitamente variável, que depende das circunstâncias, já que os dois primeiros fatores variam não apenas em função da velocidade absoluta do veículo, mas também em função da consciência do terceiro fator. A menos que seja abordada com tranqüilidade, essa equação pode resultar em estresse, úlceras e até mesmo morte.

RI7 não é uma velocidade definida, mas é sem dúvida excessivamente alta.

O aeromóvel saiu do túnel a mais de RI7, largou seus passageiros ao lado da nave Coração de Ouro, que se destacava daquele chão congelado como se fosse um osso ressecado, e mais que depressa voltou para as bandas de onde eles tinham vindo, para cuidar de sua própria vida.

Trêmulos, os quatro encararam a nave.

Ao lado dela estava pousada uma outra.

Era uma nave policial de Kappa de Blagulon. Parecia um tubarão inchado, verde-ardósia, coberto de letras negras dos mais variados tamanhos, todas igualmente antipáticas. A inscrição informava a todos os interessados de onde era aquela nave, qual a seção da polícia que a utilizava e onde deviam ser feitas as conexões de força.

De algum modo, parecia anormalmente escura e silenciosa, mesmo sabendo-se que sua tripulação de dois membros estava naquele momento morta por asfixia numa câmara enfumaçada muitos quilômetros abaixo da superfície. É uma dessas coisas curiosas, que não há como explicar nem definir, mas o fato é que dá para sentir quando uma nave está completamente morta. Ford sentia isso, e achava tudo muito misterioso - a nave e seus dois tripulantes pareciam ter morrido espontaneamente. De acordo com sua experiência, o Universo simplesmente não funciona assim.

Os outros três também sentiam isso, mas sentiam ainda mais o frio desgraçado que estava fazendo, e correram para dentro da nave Coração de Ouro, com um forte ataque de ausência de curiosidade.

Ford ficou lá fora e resolveu examinar a nave de Blagulon. Enquanto caminhava, quase tropeçou numa figura inerte, deitada de bruços na poeira fria.

- Marvin! - exclamou ele. - O que você está fazendo?

- Não fique achando que você tem obrigação de se importar comigo, por favor - disse Marvin, com uma voz monótona e abafada.

- Mas como é que você está, sua lata velha? - perguntou Ford.

- Deprimidíssimo.

- O que houve?

- Eu nem sabia que tinha havido alguma coisa - disse Marvin.

- Por que - indagou Ford, acocorando-se ao lado do robô, tremendo de frio - você está deitado de bruços na poeira?

- Pra quem está com o astral lá embaixo, é um prato cheio.

- disse Marvin. - Não finja que você está com vontade de falar comigo. Eu sei que você me odeia.

- De jeito nenhum.

- Odeia, sim, você e todo mundo. Faz parte da estrutura do Universo. É

só eu falar com uma pessoa que na mesma hora ela me odeia. Até os robôs me odeiam. É só você me ignorar que eu provavelmente vou desaparecer do mapa. O robô levantou-se e ficou olhando para o outro lado, irredutível

- Aquela nave me odiava - disse, apontando para a nave policial.

- Aquela nave? - perguntou Ford, subitamente animado.

- O que aconteceu com ela? Você está sabendo?

- Ela passou a me detestar porque falei com ela.

- Você falou com ela? Como assim?

- Muito simples. Eu estava muito entediado e deprimido, e aí me liguei na entrada externa do computador. Conversei por muito tempo com o computador e expliquei a ele a minha concepção do Universo - disse Marvin.

- E o que aconteceu? - insistiu Ford.

- Ele se suicidou - disse Marvin, e foi caminhando em direção à nave Coração de Ouro.

Capítulo 35