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Imploraram para que o mago não os abandonasse. Ofereceram-lhe ouro de dragão, prata e pedras preciosas, mas ele não mudou de idéia.

— Vamos ver, vamos ver! — disse ele —, e acho que já ganhei uma parte do seu ouro de dragão... quando o tiverem conseguido.

Depois disso, pararam de implorar. Tiraram as roupas e se banharam no rio, que no vau era raso, cristalino e pedregoso. Após se secarem ao sol, que agora estava forte e quente, sentiram-se reconfortados, apesar de ainda doloridos e com um pouco de fome. Logo atravessaram o vau (carregando o hobbit) e começaram a avançar através da grama verde e alta e das fileiras de carvalhos de braços largos e de altos olmos.

— E por que isto aqui se chama Carrocha? — perguntou Bilbo, que ia ao lado do mago.

— Ele a chamou de Carrocha porque carrocha é o nome que dá para isso. Ele chama coisas assim de carrochas, e esta uma é a Carrocha porque é a única perto de sua casa e ele a conhece bem.

— Quem a chama? Quem a conhece?

— O Alguém de quem falei, uma grande pessoa. Vocês todos devem ser muito educados quando eu os apresentar. Vou apresentá-los devagar, dois a dois, eu acho, e vocês devem tomar cuidado para não irritá-lo, caso contrário, sabe-se lá o que pode acontecer. Ele pode ser terrível quando se enfurece, embora seja bastante gentil quando está de bom humor. Ainda assim aviso que ele se enfurece com facilidade.

Todos os anões se juntaram em volta quando ouviram o mago falando daquela maneira com Bilbo.

— É essa a pessoa a quem você está nos levando agora? — perguntaram eles. — Não poderia achar alguém menos irritável? Não seria melhor explicar tudo um pouco melhor? — e assim por diante.

— Claro que é! Não, não posso! E eu estava explicando com todo o cuidado — respondeu o mago, zangado. — Se querem saber mais, o nome dele é Beorn. É muito forte e é um troca-peles.

— Quê? Um peleiro, um homem que chama coelhos de estolas, quando não transforma suas peles em casaco de esquilo? — perguntou Bilbo.

— Ai, céus, não, não, não, NÃO! — disse Gandalf. — Não seja idiota, senhor Bolseiro, se puder evitar, e em nome do que há de mais sagrado, não volte a mencionar a palavra “peleiro” enquanto estiver num raio de cem milhas da casa dele, nem tapete, pelerine, palatina, regalo, nem qualquer outra dessas palavras infelizes! Ele é um troca-peles. Ele troca de pele: algumas vezes é um enorme urso negro, outras é um homem grande e forte, de cabelos negros, com enormes braços e longas barbas. Há pouco mais que eu possa dizer, mas isto deve ser suficiente. Alguns dizem que é um urso descendente dos grandes e antigos ursos das montanhas, que viveram lá antes da chegada dos gigantes. Outros dizem que é um homem descendente dos primeiros homens que viveram antes que Smaug ou os outros dragões viessem para esta parte do mundo, e antes que os orcs viessem do norte e invadissem as colinas. Não sei dizer, embora imagine que a última história seja a verdadeira. Ele não é o tipo de pessoa a quem se fazem perguntas.

— De qualquer forma, ele não está sob nenhum encantamento, a não ser o seu próprio. Mora numa floresta de carvalhos e tem uma grande casa de madeira, e, como homem, tem gado e cavalos que são quase tão maravilhosos como ele. Trabalham para ele e conversam com ele. Ele não os come, nem caça ou come animais selvagens. Tem muitas colméias de grandes abelhas ferozes, e sobrevive principalmente de creme e mel. Como urso, percorre um longo e vasto território. Uma vez eu o vi de noite sentado sozinho no topo da Carrocha, observando a lua que afundava na direção das Montanhas Sombrias, e o ouvi resmungar na língua dos ursos: “Dia virá em que desaparecerão e eu voltarei!” É por isso que acredito que ele mesmo tenha surgido das montanhas.

Bilbo e os anões tinham muito em que pensar, e não perguntaram mais nada. Ainda tinham diante de si um longo caminho a trilhar. Avançavam com dificuldade, vale acima e ladeira abaixo. Ficou muito quente. Algumas vezes descansavam sob as árvores, e nesses momentos Bilbo sentia tanta fome que poderia comer bolotas de carvalho, se alguma já tivesse caído de madura.

Só no meio da tarde notaram que grandes extensões de flores começavam a brotar do chão, todas da mesma espécie, juntas como se tivessem sido plantadas. Em especial havia trevos, extensões ondulantes de trevo-copado, de trevo-vermelho, e largos trechos de pequenos trevos — brancos, com um doce perfume de mel. Ouvia-se um zumbido, um murmúrio, um sussurro no ar. Abelhas trabalhavam por todos os lados. E que abelhas! Bilbo nunca vira nada como elas.

“Se uma me picasse”, pensou ele, “eu incharia o dobro de meu tamanho!”

Eram maiores que marimbondos. Os zangões eram maiores que um polegar, bem maiores, e as faixas amarelas nos seus corpos de um negro profundo brilhavam como ouro flamante.

— Estamos chegando perto — disse Gandalf. — Estamos na borda das pastagens de suas abelhas.

Depois de um tempo chegaram a um cinturão de carvalhos altos e muito antigos, atrás destes havia uma alta sebe de espinhos através da qual era impossível enxergar ou passar.

— É melhor esperarem aqui — disse o mago aos anões. — Quando eu chamar ou assobiar, comecem a vir atrás de mim. Vão ver o caminho que farei. Mas apenas aos pares, vejam bem, e esperem uns cinco minutos entre um par e outro. Bombur é o mais gordo, e valerá por dois, é melhor que venha por último e sozinho. Vamos, Sr. Bolseiro! Há um portão em algum lugar por aqui. — E, dizendo isso, foi indo ao longo da sebe, levando consigo o amedrontado hobbit.

Logo chegaram a um portão de madeira, alto e largo, atrás do qual podiam ver jardins e um agregado de construções baixas de madeira, algumas com tetos de palha e feitas de troncos irregulares: celeiros, estábulos, barracões e uma casa de madeira comprida e baixa. Lá dentro, no lado sul da grande sebe, havia fileiras e fileiras de colméias com topos de palha, em forma de sino. O ruido das abelhas gigantes voando de um lado para o outro, entrando e saindo, enchia o ar.

O mago e o hobbit empurraram o pesado portão, que rangeu ao se abrir, e foram por uma trilha larga na direção da casa. Alguns cavalos, muito lustrosos e bem tratados, vieram trotando pela grama e olharam atentos para eles com feições muito inteligentes, depois foram galopando na direção das construções.

— Foram avisá-lo da chegada de estranhos — disse Gandalf.

Logo chegaram a um pátio, do qual três paredes eram formadas pela casa de madeira e seus dois compridos pavilhões laterais. No meio jazia um grande tronco de carvalho e, ao lado, vários galhos cortados. Perto estava um homem enorme com barba e cabelos negros espessos, os braços e as pernas descobertos, grandes, negros e musculosos. Vestia uma túnica que lhe descia até os joelhos e apoiava-se num grande machado. Os cavalos estavam ao lado, os focinhos á altura de seus ombros.

— Ugh! Aqui estão eles — disse aos cavalos. — Não parecem perigosos. Podem sair! — O homem soltou uma gargalhada estrondosa, pôs o machado no chão e veio em frente. — Quem são vocês e o que querem? — perguntou num tom rude, parado à frente dos dois, sua estatura elevando-se muito acima da de Gandalf.